Laudos indicam 2,4-D em amostras coletadas
A Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) recebeu 76 laudos do Laboratório de Análises de Resíduos de Pesticidas (Larp) sobre análises de amostras coletadas em áreas suspeitas de deriva de herbicida à base de 2,4-D. Os resultados indicaram a presença de 2,4-D em 100% das 76 amostras coletadas em 52 propriedades rurais. Até ontem, a secretaria contabilizava 116 denúncias de deriva, sendo que já foram coletadas 149 amostras para análise química.
Conforme a Divisão de Serviços e Insumos Agropecuários da Seapdr, neste ano, já houve denúncias de suspeita de deriva em 41 municípios, atingindo culturas de tomate, ameixa, couve, videira, oliveira, noz-pecã, maçã, caqui, em pastagens e cinamomo.
Os primeiros resultados químicos do Larp comprovaram deriva em apenas 10 dos 24 municípios contemplados pelas instruções normativas editadas, neste ano, pela Seapdr estabelecendo cadastro de aplicadores de agrotóxicos hormonais, regulamentando a venda orientada dos produtos, criando termo de responsabilidade e risco, e cadastro de cultivos sensíveis. As demais comprovações se deram em municípios onde não estavam sendo exigidos cadastro de aplicador e cursos, entre outras medidas. Desde 5 de julho, quando foi publicada a IN que criou o cadastro de aplicador e declaração de aplicação, a Seapdr recebeu 454 declarações de aplicação do produto, mas registrou que 1.050 produtores rurais adquiriram agrotóxico a base de 2,4-D nos 24 municípios prioritários.
“A Secretaria da Agricultura tomou todas as medidas e vem desenvolvendo atividades de fiscalização constantes, com objetivo de penalizar o mau produtor, que tenha provocado a deriva”, afirma o chefe da Divisão de Serviços e Insumos Agropecuários, Rafael Friedrich de Lima. “Muitos produtores não declararam o uso do agrotóxico hormonal no sistema da Seapdr, mas a secretaria tem como identificar quem comprou e tomar ações mais enérgicas.” Conforme Lima, além das autuações da Seapdr, que variam de R$ 2 mil a R$ 19 mil, os produtores rurais podem sofrer sanções nas esferas civil e criminal. A Seapdr já identificou produtores que realizaram aplicação sem assinatura da receita e aplicador cadastrado. Identificou também revendas comercializando agrotóxicos sem exigir a declaração do produtor e a certidão do aplicador, além do profissional não ter colocado na receita agronômica o termo de responsabilidade e de risco.
“Com as instruções normativas já está sendo possível autuar estes infratores. No ano passado, era mais difícil pela falta de um regramento específico. Hoje isso é possível e desencadeará a apuração criminal e civil, pelos órgãos competentes”, descreve Lima.
Os municípios com laudo positivo são Bom Jesus, Cacequi, Cachoeira do Sul, Candiota, Dilermando de Aguiar, Dom Pedrito, Ibiaçá, Jaguari, Jari, Maçambara, Mata, Minas do Leão, Pinhal da Serra, Piratini, Protásio Alves, Ronda Alta, Santana do Livramento, Santiago, Santo Ângelo, São João do Polêsine, Silveira Martins, Toropi, Viadutos.
Trigo contaminado com agrotóxico proibido é armazenado em silo no Rio Grande do Sul
Cerca de 2.850 toneladas de trigo contaminado com agrotóxico proibido em etapas de produção e acima dos limites permitidos foram encontradas em dois armazéns públicos, um em Ponta Grossa (PR) e outro em Marau (RS). O primeiro silo é da Conab. O segundo pertence a uma empresa gaúcha que presta serviços à estatal. A companhia comprou o trigo contaminado por meio de leilão, em janeiro de 2018. Em uma das medições no silo de Marau, a quantidade de glifosato chegou a 5,206 mg/kg, 100 vezes além do limite de 0,05 mg/kg. Em Ponta Grossa foi encontrado 1,1 mg/kg de fosfeto de alumínio no início do monitoramento, sendo que o tolerável é 0,1 mg/kg.
A descoberta ocorreu durante estudo sobre perdas no armazenamento, da Embrapa. O resultado foi publicado com base em medições feitas entre fevereiro e novembro do ano passado. O trigo é da safra de 2017 e provém de produtores da região de Pato Branco, Sudoeste do Paraná. Mesmo com a diminuição na concentração dos agrotóxicos com a passagem do tempo, o estudo aponta que, até a última fase de monitoramento, as quantidades de glifosato e fosfeto continuavam acima das permitidas pelas regras brasileiras. Para a coordenadora do estudo, Casiane Tibola, no caso da concentração de glifosato, deve ter havido a aplicação do produto na produção na fase de “dessecação” do trigo, o que é proibido. Nesta etapa, o grão já germinou e está prestes a ser colhido.
Fonte: JC