Dupla nativista lança novo disco nesta terça-feira no Theatro São Pedro
Caroline da Silva Dedicado ao povo humilde trabalhador do campo, o disco Além das cercas de pedra tem show de lançamento nesta terça-feira (2) no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), às 21h, com ingressos de R$ 30,00 a R$ 50,00. Este é o novo trabalho que o premiado trio Marco Aurélio Vasconcellos, Martim César e Marcello Caminha apresenta, após a bela recepção de Doze cantos ibéricos & Uma canção brasileira (2017).
A ocasião também marca o início da celebração dos 50 anos de carreira do artista regional Marco Aurélio Vasconcellos, e o espetáculo contará ainda com a participação do lendário grupo Os Posteiros, com quem o intérprete subia ao palco até 1986. Para o parceiro de mais de 10 anos de trabalho em composições Martim César, o veterano está um guri e sua voz é melhor hoje do que há décadas.
O letrista também comenta que é uma honra, atualmente, ter seu nome atrelado ao do reconhecido cantor, que era seu ídolo desde a infância – junto a César Passarinho e Mário Barbará, igualmente consagrados nos festivais regionais da canção. Vasconcellos também reconhece que está cantando muito melhor. “A diferença é abissal, mas uma coisa que me incomoda muito é um pigarrinho, até procurei uma fonoaudióloga – que me deu uma série de exercícios.
A minha extensão vocal não é grande, eu tenho dificuldade com os graves, mas nos agudos ia bem, em tempos não muito remotos, porque esse pigarrinho dificulta a emissão dos meus agudos. E, antes, eu tremia como vara verde no palco. Hoje, não tremo mais”, destaca, rindo, com a segurança conquistada depois de vários anos na estrada. Além das cercas de pedra é o quinto disco da dupla, e o terceiro que conta com a qualidade do trabalho do violonista Caminha na produção musical e arranjos. Em 14 faixas, reúne retratos das pessoas do campo, e não das estâncias em si.
São histórias e paisagens de homens e mulheres que ali viveram, algumas inspiradas em fatos reais. As poesias falam do avô carreteiro de Martim, da avó fiandeira, do peão de estância, do caseiro, do posteiro de algum campo de fundo, dos tropeiros, do capataz, de um bolicheiro. “Como boa parte da minha infância e adolescência eu passei na Campanha, a ideia era retratar aquele ‘gaúcho a pé'”, explica o compositor, que selecionou trechos de grandes autores gaúchos sobre o tema (como Cyro Martins, Alcides Maya, João Simões Lopes Neto, Erico Verissimo, Darcy Azambuja) para completar o encarte do álbum.
A bela fotografia acima, que ilustra a parte externa do disco, foi produzida em uma fazenda na fronteira entre os municípios gaúchos de Herval do Sul e Jaguarão. “É a Estância São Pedro – mesmo nome do teatro – que tem as ruínas mais bem preservadas de toda a região. Como no CD anterior, Doze cantos ibéricos & Uma canção brasileira, fomos a Portugal e Espanha, para ter as imagens para o álbum, aqui houve todo um trabalho na zona rural do Norte do Uruguai e Sul do Estado.
Fomos a lugares bem interessantes, como próximo a Melo, no país vizinho, e essas imagens estão no interior do encarte”, detalha Martim César, que esclarece que essas estâncias todas no entorno de onde cresceu serviram de inspiração para escrever. “Martim César, como letrista, é um fenômeno”, conforme o experiente Vasconcellos, prestes a completar 80 anos em 23 de novembro e parceiro de muitas décadas do poeta Luiz Coronel.
Em um encontro em Pelotas há cerca de 13 anos, o jovem escritor natural de Jaguarão lhe presenteou com três CDs, e o cantor voltou a Porto Alegre ouvindo as músicas. “Fiquei encantado com o trabalho dele com Paulo Timm e Alesandro Gonçalves, seu irmão. No caso específico do Martim, é difícil encontrar um letrista com tanta categoria, porque as letras dele têm início, meio e fim, conteúdo e, na maior parte das vezes, há mensagem também. Aí eu fiquei louco, comecei a musicar… Já temos perto de 100 canções juntos.” Autor de seis livros de poesia e contos, Martim César deve lançar o CD Náufragos urbanos – Relógios de areia até metade de 2020, com financiamento do fundo cultural de Pelotas.
Recentemente, ele publicou a coletânea de contos Sangradouro. Já o primeiro volume da trilogia, em poema épico, Cimarrones – Três séculos gaúchos já está finalizado e também deve chegar ao público no primeiro semestre do ano que vem. Para finalizar os demais capítulos, ele crê que precise de, no mínimo, mais 10 anos – conforme afirma em tom de brincadeira. Engana-se quem acha que um letrista não sobe ao palco para apresentar o seu trabalho.
O poeta será o mestre de cerimônias e recebeu como responsabilidade interpretar o recitado dos versos da faixa 7, Canto de adeus aos velhos gaúchos. “Na gravação do CD, contamos com a grande participação do maravilhoso Glênio Fagundes neste tema que recupera um tipo de gaúcho que não existe mais, porque por aqui agora só há plantações de soja”, completa o jaguarense. Clássicos de Vasconcellos (em parceria com Coronel), Acalanto, Gaudêncio 7 Luas, Cordas de espinho e Guitarreio para um guitarrista – que fizeram em homenagem ao argentino radicado em Caxias do Sul Lucio Yanel – serão interpretados juntamente com os integrantes de Os Posteiros e o acordeonista argentino Alejandro Brittes no Theatro São Pedro. Além dessas e de canções do disco novo, o repertório vai contar ainda com temas do disco Já se vieram, lançado pela dupla em 2011.
Fonte: Jornal do Comércio