Última etapa classificatória ao Inclusão de Ouro emociona público em Viamão
Onde muitos veem obstáculos, alguns encontram o combustível para seguir em frente. O que o público presenciou este último final de semana em Viamão/RS entrará para a história da raça Crioula. Na tarde do sábado (29), quatro conjuntos entraram em pista para executar Andadura e Escaramuça Livre na última classificatória antes da final do Inclusão de Ouro. A prova, que terá o final do seu primeiro ciclo este ano, aconteceu junto ao Freio do Proprietário e Freio Jovem da cidade.
A ideia do Inclusão partiu da crioulista e presidente do núcleo de Arroio Grande, Josiele Martins. A competição consiste em estreitar e incentivar o contato entre pessoas com deficiência (PCD) e a raça Crioula. A agora coordenadora da subcomissão da prova, conta que o histórico de muitos desses ginetes vêm do contato com o cavalo através da Equoterapia, e que ao receber a oportunidade de montar em pista, passaram a encarar as sessões como treino. “A prova se adequa ao participante, nunca o contrário”, destaca. Antes da inscrição ser efetivada, ela busca conhecer a fundo os participantes, para certificar das condições e limites de cada um, além de garantir um percurso seguro. Durante as etapas, oito pessoas permanecem entorno da pista para auxiliar quaisquer eventuais problemas – quatro à cavalo e quatro à pé. A presença de treinadores e psicólogos também é liberada.
Todos que disputaram as seletivas do Inclusão de 2019 já estão na final em Esteio. Mesmo assim, os inscritos passaram pela avaliação dos jurados, onde obtiveram suas respectivas notas. No topo do pódio, estava o campeão do Laço Inclusivo Marcio Santos, de 38 anos. Aos 19, o ginete sofreu um acidente de carro que o deixou sem os movimentos das pernas. Montando Forasteiro do Judá, Marcio mostrou que o contato existente com os animais antes mesmo do acidente, segue firme e forte – agora mais do que nunca.
Montando o gateado Atlas do Pampa Livre, Marcio Velho conquistou o segundo lugar em Viamão. Em pista, apresentou sua serenidade e momentos certeiros de muito galope. Com Síndrome de Down, seus 38 anos de vida parecem ter atingido um novo patamar depois do contato com as pistas. A oportunidade de se ver em fotos e vídeos e arrancar os gritos da plateia é o que mantém seu sorriso. Já o macho Paysano da Mutá foi montado por Matheus SIlveira, o mais jovem em pista, com 20 anos. Ele também já possuía experiência com o equino antes de adquirir Hemiparesia, sequela decorrente de um AVC. Variando sua força entre os lados esquerdo e direito do corpo – sua deficiência possibilita monitorar apenas um de cada vez – deu um show de persistência e também não poupou velocidade.
Quem também arrancou os aplausos do público foi Eva de Lourdes. Aos 69 anos e deficiente visual, ela entrou em pista guiada pelo filho, o ginete multicampeão de rédeas e coordenador da subcomissão da categoria, Antônio Corrêa. Ele conta que após a perda do pai, sentiu que a mãe precisava ocupar a mente para não sentir tanto a ausência daquele que “era seus olhos”. A senhora trabalhava no campo auxiliando o marido com a lida, enquanto ainda enxergava. Quando perdeu a visão, mudou-se para a cidade e deixou o cavalo de lado. “Já sabia que ela podia montar. Só precisei adaptar para que conseguisse coordená-lo e passei a guiá-la com comandos de “direita, esquerda, frente, para”. Começamos devagar e hoje ela tem um domínio muito bom”, conta. Evinha não conteve a emoção e roubou um abraço apertado do filho em pista: “Tem tanta gente sadia que diz que não pode fazer coisas. Para eles acho que falta força de vontade. Tu nunca podes dizer que não pode fazer algo antes de tentar”, acredita.
Viver, de uma vez por todas
A equoterapeuta e psicóloga Claudia Rocha relata que as pistas possibilitam um grau elevado de recuperação no tratamento das pessoas com deficiência. Os familiares dos envolvidos a procuram para relatar importantes mudanças no cotidiano. “Alguns comentam que o dia a dia mudou, que observam uma maior autonomia e uma vontade forte de ir às sessões de Equoterapia”. Na presença do animal, ela conta que as sessões psicológicas adquirem um poder ainda maior. Claudia monta um cavalo, enquanto o paciente sobe em outro. Assim, ela anda lado a lado com ele: “Ali, a sela é nossa poltrona”.
Do futebol de salão para as pistas
A presença do jogador da Seleção Brasileira Paraolímpica de Futebol de Cinco foi benquista por todos em Viamão. Na ocasião, ele comentou ser amante da e vir conhecendo a estrutura e os movimentos do animal. A ideia do craque: competir no ciclo 2020 do Inclusão de Ouro.
Fonte: ABCCC
Foto: Felipe Ulbrich