Chefe da Embrapa Pecuária Sul assume cargo nos EUA e unidade de Bagé tem novo gestor

Chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul (Bagé, RS) durante oito anos e três meses (2011-2019), o pesquisador Alexandre Costa Varella assume um novo cargo na Empresa, a partir de julho deste ano: o de coordenador do Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior (Labex) nos Estados Unidos. Com o término da gestão de Varella, a Unidade passa a ter como chefe-geral o pesquisador Daniel Montardo, que assume de forma interina até a seleção do novo dirigente da Embrapa Pecuária Sul.

Os demais cargos de gestão da Unidade ficam ocupados pela analista Estefanía Damboriarena, na Chefia-adjunta de Administração; pelo pesquisador Fernando Flores Cardoso, na Chefia-adjunta de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação; e pelo pesquisador Gustavo Martins da Silva, na Chefia-adjunta de Transferência de Tecnologia.

Veja aqui o perfil dos novos gestores da Embrapa Pecuária Sul.

Atuação no Labex
Para fomentar a cooperação científica e tecnológica com outros países, a Embrapa iniciou na década 1990 um programa de implantação de laboratórios virtuais no exterior (Labex), visando desenvolver prospecções em áreas de interesse do país, além de assegurar a presença física da Empresa fora do Brasil. O primeiro laboratório implantado foi nos Estados Unidos (Labex EUA), em 1998.

O Labex EUA é um espaço físico localizado dentro de uma instituição semelhante à Embrapa, nominada Agriculture Research Service (ARS), vinculada ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda). O escritório fica em Beltsville, ao lado de Washington DC.  A estrutura é composta pelo coordenador e por pesquisadores da Embrapa ligados ao escritório, além de toda uma rede de pesquisadores visitantes – profissionais da Embrapa que estão fazendo treinamentos de curta ou média duração dentro de universidades no território americano.

O pesquisador Alexandre Costa Varella foi selecionado pela Embrapa para assumir o cargo de Coordenador do Labex- USA para os próximos dois anos, renovável por mais um. As atividades serão executadas no escritório de programas de pesquisa internacionais (Oirp) do Serviço de Pesquisa Agrícola (ARS) do Departamento de Agricultura Americano (Usda), em Beltsville, Estados Unidos, estando relacionadas à gestão do programa como um todo e à articulação com instituições parceiras de pesquisas.

Os principais resultados esperados do programa são: coordenação, acompanhamento e suporte aos trabalhos dos demais pesquisadores do programa nos temas a serem definidos pela Empresa; articulação junto à equipe acolhedora para a formação e consolidação de projetos de pesquisa de cunho estratégico; articulação com as Unidades Descentralizadas da Embrapa, em conjunto com a Secretaria de Relações Internacionais (SRI) e com o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), instâncias internas da Embrapa, visando ao desenvolvimento de novas propostas de pesquisa em áreas prioritárias para a empresa; acompanhamento dos projetos de cooperação científica em andamento; apoio e articulação na criação de “clusters” de pesquisadores em temas relevantes e de interesse da Embrapa, em ação articulada com os programas de Cientista Visitante e de Pós-graduação da Embrapa.

Apesar de iniciar o trabalho efetivamente nos EUA em julho, o planejamento das atividades do novo coordenador do Labex já começou. “Alguns temas de trabalho já estão sendo desenhados, principalmente nas áreas de comunicação digital, biologia molecular para fazer frente aos vários desafios que existem, como problemas persistentes com doenças e pragas nos diferentes cultivos brasileiros, na área de modelagem e sistemas gerenciais para ajudar nas tomadas de decisões dentro das propriedades rurais, automação e agricultura de precisão, segurança dos alimentos, nutrição e saúde, entre outras. “Então, serão várias frentes de trabalho  para fomentar a cooperação internacional em temas estratégicos e que ajudarão a Embrapa na solução dos principais desafios da agropecuária nacional”, ponderou.

Balanço da gestão
Ao fazer um balanço sobre sua gestão, Varella comenta que durante a última década, a Embrapa foi contemplada com diversas melhorias em estruturas, processos e procedimentos internos, graças aos investimentos realizados, desde o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-Embrapa) até os últimos anos, e às boas práticas de gestão. Os novos recursos permitiram reformar prédios, laboratórios, e renovar maquinários e implementos. A aposentadoria de vários profissionais e a abertura de novas vagas, seguida de concursos, possibilitou a contratação de novas competências que fizeram o quadro interno da Unidade crescer, neste período, de 100 para 121 empregados, entre assistentes, técnicos, analistas e pesquisadores.

Este contexto profícuo permitiu a reorganização da agenda de trabalho da Embrapa em Bagé, em que se buscou focar ainda mais em projetos de pesquisa e inovação alinhados com os maiores problemas da pecuária do Sul do Brasil. “Após captarmos com mais precisão as principais demandas do setor produtivo, reorganizamos as equipes e focamos em trabalhos prioritários, como: o controle do carrapato e da tristeza parasitária bovina, a oferta de cultivares adaptadas para a cadeia forrageira do Sul do Brasil, bem como seu uso e aplicação nos sistemas pecuários, incluindo a reorganização da produção e da oferta de sementes de qualidade. Além disso, tivemos um trabalho muito bom na área de genética animal ligada à sanidade, que trouxe uma nova dimensão com o uso da genômica para seleção de linhagens mais resistentes ao carrapato, assim como avanços nos indicadores de avaliação genética em sistemas de bovinos de corte, aplicando características de interesse econômico. Outro destaque do trabalho da Embrapa Pecuária Sul tem sido o controle do capim-annoni, com a oferta da máquina Campo Limpo no Mercado o do protocolo de práticas denominado Mirapasto. Muito importante também tem sido o esforço da equipe da Embrapa na reorganização e desenvolvimento da cadeia de ovinos no Sul do Brasil. Entre os destaques deste trabalho, citamos o lançamento de produtos de carne processada ovina, como o presunto maturado e a copa ovina que acabam de ser ofertados à iniciativa privada em edital nacional”, aponta o ex-chefe geral.

Amadurecimento
A atuação da Embrapa em várias frentes inovadoras na Unidade em Bagé foi muito importante, o que resultou em uma melhoria da imagem e no fortalecimento de uma relação sólida e de confiança com o setor produtivo. “A Embrapa Pecuária Sul conseguiu, nesse período, um nível de relacionamento com a cadeia produtiva bem maior. Atualmente, estamos inseridos em praticamente todos os grupos de trabalho e discussões promovidas pela cadeia produtiva ou por qualquer instituição que se dedique à pecuária regional. Além disso, houve um aumento significativo nas nossas participações em ações de transferência de tecnologia e relacionamento com o produtor, por meio de eventos diversos, dias de campo, cursos, workshops, jornadas técnicas etc. Nossa Unidade foi muito procurada, demandada, e isso é um sinal de valorização, não só no Rio Grande do Sul, mas em Santa Catarina e no Paraná também”, aponta. Como exemplo, Varella cita uma média mensal de 20 eventos técnicos e 50 inserções na imprensa regional e nacional, produzidos pela Embrapa Pecuária Sul nestes últimos oito anos de trabalho. “Então, eu acho que houve uma evolução significativa no atendimento de demandas e no relacionamento desta Unidade com o setor produtivo”, comemora.

Outro ponto de amadurecimento citado por Varella foi o protagonismo da Unidade dentro do Sistema Embrapa, a nível nacional. Nos últimos anos, vários empregados de Bagé vêm atuando em grupos de trabalho de relevância tática e estratégica dentro da instituição, como, por exemplo, os comitês técnicos de avaliação programática em P&D e diversos outros comitês do Sistema Embrapa de Gestão que coordenam e orientam toda a pesquisa e inovação da empresa. “É difícil hoje a Embrapa Sede organizar algum grupo de trabalho para a formulação de estratégias corporativas sem a presença de um empregado de nossa Unidade. Passamos a ser enxergados nacionalmente como uma unidade conectada com o setor produtivo, mas também com as outras unidades do sistema Embrapa”, enfatiza.

Reconhecimento Nacional
A frequente divulgação na imprensa local, estadual, regional e nacional de trabalhos realizados direta ou indiretamente pela Embrapa Pecuária Sul fez com que a unidade de Bagé ganhasse mais reconhecimento, elevando, consequentemente, a imagem da pecuária diferenciada praticada na região Sul. Hoje, por exemplo, já é comum ver no mercado produtos cárneos com identificações e certificações de qualidade da carne sendo comercializados, tanto no estado, como em outras partes do Brasil. Muito disso se deve à estratégia tomada pelo Centro de pesquisar indicadores e fomentar práticas que fortaleçam a imagem da pecuária nos biomas e a agregação de valor à carne.

“A pecuária do Sul é pequena em população e número de cabeças abatidas em comparação com a região tropical do Brasil. Além disso, temos poucos frigoríficos autorizados para a planta de exportação. A gente se sustenta pelas diferenciações que a nossa pecuária possui, pela qualidade da carne reconhecida, pela genética utilizada, pela forma como é produzida essa carne, pelo ambiente com o qual o sistema de produção se relaciona, por uma série de outras características que o mercado aponta como de valor e que a Embrapa Pecuária Sul, ao longo do tempo, vem trabalhando no sentido de coletar dados e informações confiáveis para dar suporte a esse conceito de diferenciação. É difícil mensurar o nosso impacto total porque muitas tecnologias produzidas são intangíveis e não viáveis de estabelecer um valor monetário, como as práticas de manejo e as políticas públicas, mas existe, especialmente quando a gente vê as opiniões elogiosas dos produtores e a crescente procura do consumidor por produtos pecuários dos biomas sulinos e, por trás desta identificação, existe o trabalho da Embrapa e dos seus parceiros”, comemora.

Parcerias
De acordo com Varella, graças à busca por cooperações com instituições públicas e privadas tem sido possível o avanço do conhecimento para a solução de diversos problemas da pecuária. Podem-se citar o exemplo das tecnologias lançadas por esta Unidade nos últimos anos, como: controle do capim-annoni; o lançamento de novas cultivares de forrageiras; linhagens de bovinos resistentes ao carrapato; práticas de manejo mais sustentáveis para a pecuária, para as pastagens cultivadas e campo nativo; sistemas de Integração-Lavoura-Pecuária etc.

“Nós temos uma missão de trabalhar para uma pecuária sustentável e que apresenta desafios complexos em nível de propriedade rural. Além disso, a pecuária vem se modificando em vários territórios do Sul do Brasil, em função do avanço da agricultura e diversificação de atividades. Entretanto temos uma equipe multidisciplinar que trabalha desde a parte nutricional, passando pelas áreas de pastagens e forrageiras, socioeconomia, desenvolvimento rural, solos, agrometeorologia, sanidade (ligada à ecto e endoparasita), ovinocultura, ciência da carne, produção de leite e outras. Então é uma equipe diversa e tecnicamente preparada. Só assim é possível a gente fazer frente aos desafios da cadeia que hoje são extremamente específicos na busca de solução, mas envolvidos com um contexto maior de sistemas de produção. Ao mesmo tempo, tem sido essencial as diversas parcerias externas com outras equipes de pesquisa e técnicas para poder obter os melhores resultados. “Não é um trabalho só da Embrapa, é um trabalho de redes de pesquisa”.

Novo chefe-geral
O novo chefe-geral interino da Embrapa Pecuária Sul, Daniel Montardo, possui graduação em Agronomia pela Ufsm (1995), mestrado (1998) e doutorado em Zootecnia pela Ufrgs (2002). É Pesquisador A da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária desde 2005, tendo atuado diretamente no desenvolvimento de cinco cultivares forrageiras, entre elas a BRS Estribo, cultivar de capim-sudão com estimativa de ter sido utilizada, em 2018, em 620 mil hectares, com impacto econômico estimado em cerda de R$ 80 milhões. Atualmente também é coordenador do convênio entre Embrapa, UFRGS e Sulpasto, que já disponibilizou ao produtor cerca de 10 cultivares de forrageiras.

Montardo desempenhou, ainda, a função de chefe-adjunto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Embrapa Pecuária Sul de dezembro de 2009 a setembro de 2014, e estava à frente da Chefia-adjunta de Administração da Unidade até abril de 2019, quando assumiu a Chefia-geral interina.

Conforme Montardo, a Embrapa passa por um processo de reestruturação há quase dois anos, com novas diretrizes do seu processo de inovação. Em nível local, o novo chefe-geral, em seu período de gestão, pretende garantir um bom ambiente para que se possa fazer o debate sobre esse novo direcionamento da Empresa.

“O objetivo é manter o trabalho da Unidade, criando um ambiente favorável para que possamos, positivamente, fazer essa análise do que se precisa redirecionar, mas já podemos sinalizar que alguns desses aprimoramentos estão na maior eficiência e efetividade na entrega de soluções tecnológicas que interfiram positivamente no campo, maior aproximação com o meio produtivo, e estímulo para que extrapolemos nossos trabalhos que hoje estão focados quase exclusivamente na pecuária”, destacou Montardo em referência à integração da pecuária com outros sistemas presentes na região, como a soja, olivicultura, arroz, vitivinicultura etc.  

Seleção de novo chefe-geral
Em breve, a Embrapa deve divulgar edital interno para seleção de novo chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul. 
Fonte: Embrapa Pecuária Sul 
Foto: Divulgação / Embrapa

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