Sementes modificadas elevam produtividade e retardam expansão agrícola
Com 56,9 milhões de hectares plantados com sementes geneticamente modificadas, o Brasil desenvolve cerca de um quarto da agricultura mundial de transgênicos, considerando as culturas de soja, milho, algodão, feijão e cana-de-açúcar. E, com os ganhos de produtividade, vem obtendo crescimento na produção sem precisar avançar ainda mais sobre novas terras. Isso sem falar na redução de custos e no aumento da rentabilidade do setor agrícola.
Para o agrônomo André Pessôa, sócio diretor da Agroconsult, entre as safras 2013/2014 e 2023/2024 o lucro cresceu R$ 54,8 bilhões por conta da redução de R$ 8,2 bilhões no custo total do setor agrícola, combinado com um aumento de R$ 46,6 bilhões no faturamento, somente com a tecnologia Intacta, da Bayer. De acordo com ele, são muitos os benefícios da adoção da tecnologia.
“A inserção de genes que conferem à soja a capacidade de produzir proteínas que controlam as lagartas proporcionou ao produtor rural uma ferramenta adicional para lidar com o complexo processo de manejo integrado de pragas. E o sucesso da tecnologia se mostra pela rápida adoção por parte dos produtores rurais. Na safra 2023/2024, 86% das lavouras do País haviam incorporado”.
Na esfera ambiental, a tecnologia exige menor uso de combustível, água e defensivos. Ainda, os benefícios combinados de redução na aplicação de inseticida e de economia de área cultivada têm impacto direto nas emissões de gases de efeito estufa decorrentes do plantio de soja, aponta a consultoria. E, com os ganhos de produtividade, já poupou 6,3 milhões de hectares plantados em 10 anos, equivalente à área dedicada à soja no Rio Grande do Sul.
No caso da soja, o volume da produção cresceu 300% desde 1998, enquanto o avanço na área foi de 170%, conforme levantamento da CropLife Brasil em 2023, quando se completaram 25 anos do início do cultivo de transgênicos no País. E é essa performance que sustenta os investimentos em pesquisa para a obtenção de variedades ainda mais eficientes.
Conforme Fernando Prudente, líder de Produtos de Soja e Algodão da Bayer no Brasil, mais de 95% da área cultivada no País usa sementes geneticamente modificadas. O que contribui para chegar ao status de maior produtor e exportador da oleaginosa do mundo.
“A incidência de pragas e doenças nas lavouras levam à perda de 20% a 40% dos alimentos no mundo. O Brasil produz alimento para cerca de 1 bilhão de pessoas. Precisamos buscar soluções para proteger a produção. Esse caminho é o da biotecnologia”, avaliou o agrônomo, no workshop para jornalistas promovido pela empresa nesta semana, em São Paulo.
Detentora da tecnologia Roundup Ready (RR), resistente ao herbicida glifosato, que chegou ao Brasil em em 2002 pela Monsanto, a Bayer também lançou, em 2013, a Intacta, 100% adaptada às características climáticas brasileiras. E, em 2021, colocou no mercado a plataforma Intacta2. A base é a introdução da tecnologia Bt, com a bactéria Bacillus thuringiensis no gene da planta, responsável por produzir uma proteína tóxica a alguns tipos de insetos, especialmente lagartas, que causam grande prejuízo à cultura.
O resultado desse avanço tecnológico levou a um aumento de 21,2 milhões de toneladas na produção nacional de soja nos últimos 10 anos, volume que corresponde a uma safra gaúcha inteira da cultura. E uma nova geração de sementes, ainda mais moderna, já está em fase final de desenvolvimento e deverá ser lançada entre 2027 e 2028, fruto de um investimento de 6,5 bilhões de euros em pesquisa pela Divisão Agrícola da Bayer nos últimos três anos.
A ideia é impulsionar ainda mais o aumento na produtividade. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a média nacional de produtividade na safra 1997/1998 foi de 40 sacas de 50 quilos por hectare. Em 2006/2007, quando a soja RR atingiu 50% de penetração no mercado, os resultados passaram a 47 sacas. E, a partir da safra 2014/2015, o rendimento médio beira já se aproxima das 60 sacas. Além do mais, há centenas de produtores que colhem acima de 100 sacas por hectare em determinados talhões de suas lavouras, destaca o pesquisador Ramiro Ovejero, que atua no centro de pesquisas da empresa em Petrolina (PE). A unidade é a quarta maior estação da Bayer do mundo e a maior de agricultura tropical e do Hemisfério Sul, inaugurada em 2012, com investimento de R$ 125 milhões.
Segundo ele, porém, ainda é preciso que os produtores ampliem a adoção dos chamados plantios de refúgio, com sementes sem a tecnologia Bt em uma parte da área total. Assim, quando insetos já resistentes cruzam com outros não resistentes, o gene dominante na lagarta que nascer será o não resistente. O objetivo é retardar a seleção de insetos resistentes aos avanços tecnológicos. Ovejero também recomenda o manejo de resistência, combinando a rotação de culturas, o uso de sementes de cobertura de solo e herbicidas para proteger as lavouras e obter o melhor rendimento possível.
A grande polêmica, porém, segue por conta da discussão sobre o pagamento de royalties pelos produtores que utilizam sementes certificadas com a tecnologia. Ações judiciais seguem pelo Brasil, mas a Bayer mantém sua convicção na legislação em vigor e no direito à propriedade intelectual sobre os produtos, o que justificaria a cobrança.
Fonte: Jornal do Comércio