Conab projeta safra gaúcha de grãos de 37,6 milhões de toneladas
A produção gaúcha de grãos 2023/2024 deverá chegar a 37,6 milhões de toneladas. O resultado, apontado no 9º levantamento de safra, divulgado nesta quinta-feira (13) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é 2,4 milhões de toneladas menor em relação à estimativa inicial. No País, a expectativa é de uma colheita de 297,5 milhões de toneladas, queda de 7% em relação à temporada anterior.
A soja, commodity mais importante no mercado de grãos, foi bastante castigada pelas chuvas extremas ocorridas em maio no Rio Grande do Sul. Da projeção de colheita recorde, próxima das 23 milhões de toneladas, a Conab recalculou para 20,1 milhões no Estado. Com a colheita finalizada no País, a oleaginosa tem uma produção total estimada em 147,3 milhões de toneladas, redução de 4,7% ou 7,26 milhões de toneladas sobre a safra anterior.
No milho, a expectativa é de uma produção 31,7% maior no Rio Grande do Sul ante o resultado de 2022/2023, devendo alcançar 4,9 milhões de toneladas. Conforme a estatal, o Brasil deve colher 114,1 milhões de toneladas.
Centro de grande polêmica nas últimas semanas, a cultura de arroz no Estado é apontada em 7 milhões de toneladas, com produtividade de 7,8 mil quilos por hectare, 2,2% inferior à safra passada. A redução na performance também reflete quebra na comparação com as expectativas iniciais para o cereal, que teve 17% das lavouras atingidas pelas cheias dos rios. Conforme o levantamento da companhia, a produção gaúcha do cereal deve corresponder a 67% do total nacional, estimado em quase 10,5 milhões de toneladas.
A oferta do grão é alvo de intensas discussões entre arrozeiros, indústrias e o governo federal, que promoveu leilão para importação, alegando necessidade de reduzir os preços ao consumidor final, mas acabou anulando o certame por suspeitas de irregularidades. Valorizado no mercado nacional e internacional, o cereal chegou a ter a saca de 50 quilos negociada a R$ 140,00 e, após o início do embate tem oscilado para baixo, com compradores e vendedores sem ter segurança no futuro.
Na tentativa de restabelecer as relações com o governo, a Associação Brasileira da Indústria de Arroz (Abiarroz) divulgou nota na qual diz esperar que o episódio sirva para ampliar o diálogo com o setor, “de modo a superar versões inverídicas e injustas” com toda a cadeia – do produtor ao consumidor.
“Defendemos ainda, incisivamente, que o governo federal reveja a política estabelecida nesse caso. Uma intervenção sem um diálogo construtivo com as partes envolvidas pode abrir precedente prejudicial à sustentabilidade do mercado, ao próprio consumidor final e à economia brasileira como um todo”, afirma a entidade.
O Planalto, porém, dá mostras de que não irá abrir mão de trazer arroz de fora. E já projeta publicar em 10 dias novo edital para realização de leilão público para importação do cereal, como anteciparam o presidente da Conab, Edegar Pretto, e os ministros do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira; e da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Fávaro.
A intenção é duramente criticada por parlamentares de oposição ao governo, estaduais e federais, que movem ações em diferentes esferas judiciais. Eles pedem a proibição do certame e a investigação do pregão realizado e anulado. A Conab abriu apuração sobre o pregão e pediu apoio à Polícia Federal, que deverá abrir inquérito dobre o caso.
De Genebra, na Suíça, onde participa da 112ª Sessão da Conferência Internacional do Trabalho como delegado representante das confederações brasileiras, o vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, Gedeão Pereira, foi duro.
“O governo não tinha que ter se metido nessa encrenca (do leilão). Quem mais parecia entender do assunto era o Neri Geller (ex-secretário de Política Agrícola do Mapa, demitido na terça-feira, após a anulação do certame)”.
Segundo o líder ruralista, o mercado interno nunca correu risco de desabastecimento, e os produtores sempre asseguraram que a safra colhida seria suficiente para atender à demanda. Gedeão reafirmou que a dificuldade de logística para comercialização e transporte da produção gaúcha foi pontual, em decorrência dos bloqueios em estradas e de o sistema eletrônico de emissão de notas fiscais ter ficado fora do ar.
“Se o governo tivesse ficado quieto, em vez de provocar alarde sobre desabastecimento, os consumidores de maior poder aquisitivo não teriam comprado mais do que o normal, para estocar, o que os de menor renda não podem fazer. Passaríamos duas semanas de sufoco, e depois as coisas começariam a voltar ao seu lugar”, concluiu.
Fonte: Jornal do Comércio