Agronegócio monitora escalada da tensão no Oriente Médio
Ainda que sem alarde, a escalada de tensão no Oriente Médio, entra no radar do agronegócio gaúcho. A região representou 16,8% das exportações brasileiras e 25,1% dos embarques gaúchos do setor em 2023, trazendo US$ 641 milhões para o Rio Grande do Sul. E, embora Israel e Irã não sejam os maiores compradores, a ampliação do conflito instalado entre os dois países pode comprometer vendas, logística e elevar custos da cadeia, avaliam representantes do setor.
A crise só será ampliada se Israel responder à retaliação iraniana do final de semana, quando drones e mísseis foram lançados contra Tel Aviv e Jerusalém, acredita o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Silveira Pereira. A ação foi um recado, após os israelenses atacarem a embaixada do Irã em Damasco, na Síria, no início do mês.
De olho no comportamento do mercado e das bolsas, o dirigente vê uma alta do dólar como sinal de alerta – nesta segunda-feira (15), a moeda americana fechou a R$ 5,18, alta de 1,24% desde a última terça-feira (9). É que na esteira do aumento na cotação, subiriam os preços das commodities, mas, posteriormente, também, os insumos agrícolas.
“Temos um volume representativo de exportações de carne para o Oriente Médio, especialmente de frango, para os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita. Temos ainda negócios com o Irã, o Egito, Israel, com dianteiro bovino. Um conflito aberto colocaria em risco a navegação pelo Canal de Suez, encarecendo os fretes. Nos preocuparia mais se a China, nosso principal parceiro comercial, estivesse envolvida, mas para isso ainda não há razão”, diz Gedeão.
O líder ruralista, porém, mostra receio quanto ao futuro das relações institucionais e comerciais de Israel com o Brasil. Ele atribui o risco às recentes manifestações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a disputa entre o governo de Benjamin Netanyahu e o Hamas, na Faixa de Gaza.
Conforme o analista de Relações Internacionais da Farsul, Renan Hein dos Santos, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita concentram 52% dos embarques gaúchos de carne para o bloco (US$ 335,4 milhões no ano passado). Especialmente a carne de frango participa com US$ 319,8 milhões, ou 67% do total.
Por outro lado, 57% das exportações do complexo soja do Rio Grande do Sul são para o Irã, equivalendo a US$ 256,4 milhões em 2023 (US$ 11,7 milhões para Israel). O país compra 4% de todos os embarques globais do complexo gaúcho, que totalizaram cerca de US$ 6,3 bilhões no ano passado. Os iranianos também compraram US$ 25,6 milhões em carnes do Rio Grande do Sul, enquanto Israel importou US$ 345,8 mil, sempre de acordo com a Farsul. No mesmo período, o Estado faturou US$ 2,5 bilhões com a exportação global de carnes, sendo US% 1,4 bilhão com carne de frango.
Apesar do cenário de tensão, o setor avícola, um dos que mais estaria exposto caso uma nova guerra eclodisse naquela região, não acredita que a situação comprometa os negócios.
“O Brasil tem sido, ao longo dos últimos 50 anos, um importante provedor de carne de frango halal para os países do Oriente Médio. E continuará como um provedor seguro e estável, assim como foi em diversos outros momentos em que houve conflito na região. Esperamos que a situação seja resolvida no mais curto prazo e estamos preparados para oferecer os produtos na quantidade que seja demandada, diz o diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Luís Rua.
A crise pode respingar também nas lavouras gaúchas, caso acabe provocando alta nos insumos agrícolas. “Isso porque no ano passado o Estado importou do Oriente Médio US$ 674,8 milhões em produtos para a preparação da safra, equivalentes a 23% do total, de US$ 2,9 bilhões. Os números mostram que o Rio Grande do Sul está mais exposto que País nessa relação, já que dos US$ 22,6 bilhões investidos pelo Brasil em insumos no mesmo período, apenas 12%, ou US$ 2,6 bilhões foram buscados na região”, completa Renan Santos, da Farsul.
Fonte: Jornal do Comércio