Produção em alta e preços em baixa dividem produtores gaúchos de soja
Com uma safra de soja estimada em cerca de 22 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul, o produtor vive a atual colheita com sentimentos divididos. O entusiasmo pelo volume a ser obtido é confrontado com a apreensão pelos preços da commodity, já mais de 20% aquém dos R$ 150,00 por saca praticados há um ano.
Foi nesse cenário que ocorreu, nesta segunda-feira (25), na Agropecuária Richter, em Tupanciretã, a abertura oficial da colheita da oleaginosa no Estado. O município planta soja em 150 mil hectares, com produção média de 9 milhões de toneladas, de acordo com o prefeito Gustavo Herten Terra.
Em 2024, a produção gaúcha da leguminosa deve ser 71% maior que o resultado anterior, colocando o Estado na 2ª posição do ranking nacional, superando o Paraná, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento. Dados da Emater/RS apontam um área plantada em torno de 6,6 milhões de hectares em 426 municípios gaúchos. A empresa pública calcula que, ao final da colheita, o Rio Grande do Sul terá obtido 22,2 milhões de toneladas de soja.
Presente ao evento, que contou com a participação de autoridades estaduais e federais, o secretário-adjunto da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Márcio Madalena, projetou que, após duas frustrações de safra, esta pode ser a oportunidade para o produtor “reorganizar a vida”.
A expectativa foi feita considerando uma projeção de redução na colheita em algumas regiões produtoras do País, como Mato Grosso, e seu impacto no volume nacional. “Isso coloca o Rio Grande do Sul no jogo, pois teremos oferta, embora não devamos esperar preços como antes eram verificados”, disse Madalena.
Acompanhamento feito pela Safras & Mercado indica uma safra gaúcha um pouco menor, na casa das 21,7 milhões de toneladas, com produtividade média em torno de 55 sacas de 60 quilos por hectare.
“Confirmados esses números, teríamos uma recuperação de 63% da produção sobre a colheita do ano passado. Esse volume pode ser maior, se o clima ajudar. As lavouras estão boas, no geral, com 4% colhidos até sexta-feira passada. Apesar do atraso em relação a anos anteriores, não deveremos ter problemas de produção”, ponderou o analista Luiz Fernando Roque.
Segundo ele, a oferta maior no Estado repõe estoques e deve fazer com que o Rio Grande do Sul não precise importar de outras unidades da federação ou países. A questão que deve ficar na cabeça do produtor é mesmo o preço, adverte.
A quebra que deve ser verificada em Mato Grosso, principalmente, pode ajudar a elevar a cotação do grão no Rio Grande do Sul no segundo semestre. Mas é preciso estar atento às oportunidades de venda que surgirem até a metade do ano, período em que a tendência nas cotações é de baixa, justamente pela entrada da produção.
“A safra argentina deve vir mais que o dobro do tamanho do ano passado. Isso aumenta o volume disponível na América Latina. E pressiona preços para baixo. Por outro lado, nesta quinta-feira (28), o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) deve divulgar sua projeção de área para o próximo plantio. Se for menor, os preços na Bolsa de Chicago tendem a subir. Se for maior, o efeito é negativo em Chicago”, analisa Roque.
Ele recomenda, porém, que os produtores não esperem negócios a R$ 150,00, uma vez que esse patamar pode não voltar neste ano. “No segundo semestre, pode haver um suporte aos preços via prêmios para escoar a produção, estimulando a disputa entre as indústrias e as exportações. Mas apostar em preços mais altos é acreditar em problemas na safra americana. E também depende de uma questão cambial, com queda do dólar. E não acredito em dólar a R$ 4,50, por exemplo”, diz Roque, lembrando que nas duas últimas semanas a cotação da commodity teve alguma recuperação no Brasil.
Para além desta safra, o governo do Estado segue estimulando ações para viabilizar performances mais estáveis nas lavouras gaúchas, por meio do uso de tecnologias e da irrigação. Márcio Madalena, da Seapi, acredita que o “setor amadureceu” e que já está aderindo com mais interesse aos programas de incentivo à construção de estruturas de retenção de água e irrigação.
“Estamos trabalhando fortemente essa pauta. E, em parceria com a Assembleia Legislativa, cujo presidente, deputado Adolfo Brito, tem o assunto como pilar central de sua gestão, acreditamos em avanços importantes, inclusive na percepção da sociedade e de entidades, além do próprio governo, para discutir e adequar entraves da legislação ambiental”, finaliza.
Fonte: Jornal do Comércio