Boletim Copaaergs lista recomendações para lidar com El Niño no próximo trimestre

Em julho, agosto e setembro, o Rio Grande do Sul deve experimentar a intensificação do fenômeno El Niño, atingindo um ponto mais forte no final do trimestre. Essa intensificação resultará em impacto direto no aumento da precipitação pluvial sobre todo o Estado, com volumes de chuva acima da média em todas as regiões.

É o que aponta o Boletim trimestral do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs), coordenado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). As previsões apresentadas pelo boletim são baseadas no modelo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Em relação às temperaturas do ar, a tendência para o trimestre indica que as temperaturas fiquem acima da média na Metade Norte enquanto que, na Metade Sul, fiquem próximas ou ligeiramente acima da média.

O boletim do Copaaergs é elaborado a cada três meses por especialistas em Agrometeorologia de 15 entidades públicas estaduais e federais ligadas à agricultura ou ao clima. O documento também lista uma série de orientações técnicas para as culturas do período.

Culturas de inverno

  • Evitar áreas sujeitas a alagamento e de difícil drenagem para a implantação das lavouras;
  • Evitar a adubação com nitrogênio em cobertura antes de precipitações intensas, para reduzir perdas por lixiviação;
  • Monitorar o estado sanitário das lavouras, atentando para condições de alta umidade, especialmente na primavera, que favorece a ocorrência de doenças fúngicas de espiga/panícula, que são de difícil controle;
  • Não procrastinar a colheita para evitar danos à qualidade tecnológica dos grãos por chuvas intensas;
  • Seguir os períodos de semeadura indicados pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC).

Arroz

  • Dentro do possível, dar continuidade à adequação das áreas destinadas à lavoura, principalmente às atividades de preparo e sistematização do solo e drenagem, para possibilitar a semeadura na época recomendada pelo zoneamento agrícola de risco climático (ZARC);
  • Acompanhamento dos níveis dos reservatórios para a definição das áreas a serem semeadas, especialmente na região da Fronteira Oeste;
  • Para semeaduras “do cedo”, no mês de setembro, quando a temperatura do solo for baixa, atentar para que a profundidade da semeadura não seja superior a dois centímetros, a fim de evitar redução no estande de plantas e a consequente desuniformidade no estabelecimento inicial da cultura;
  • Atentar para manutenção da drenagem após a emergência das plantas, para evitar prejuízos no estabelecimento inicial em função do prognóstico de chuvas acima da média em algumas regiões.

Culturas de primavera-verão

  • Fazer o manejo de culturas de inverno ou plantas de cobertura destinadas à proteção do solo;
  • Iniciar a semeadura quando a temperatura do solo, a 5 cm de profundidade, estiver entre 16° e 18°C, respeitando o zoneamento agrícola;
  • Escalonar a época de semeadura e utilizar cultivares de diferentes ciclos para diminuir a possibilidade de coincidir o período crítico da cultura com as épocas de maior demanda evaporativa;
  • Fazer adubação em cobertura preferencialmente antes da ocorrência de chuvas ou quando o solo apresentar disponibilidade de água adequada;
  • Para a cultura do milho, caso sejam planejadas duas safras, deve-se antecipar o máximo possível a semeadura, respeitando-se o zoneamento agrícola de risco climático (ZARC);
  • Dedicar atenção ao monitoramento de pragas, especialmente sobre a ocorrência da cigarrinha do milho.

Hortaliças

  • Dar especial atenção para evitar irrigação em excesso e, quando necessário irrigar, dar preferência ao sistema de gotejamento;
  • Em cultivos protegidos, para melhorar a disponibilidade de radiação solar, realizar a limpeza do plástico da cobertura;
  • Atentar para manutenção das condições térmicas e de ventilação para evitar acúmulo de umidade do ar em ambientes protegidos;
  • O prognóstico de precipitação pluvial acima da média requer atenção quanto à necessidade de monitoramento de doenças, principalmente daquelas favorecidas pelo molhamento da parte aérea e pelo excesso de umidade no ar ou no solo;
  • Considerando o prognóstico de temperaturas do ar acima da média, evitar posicionamento de cultivares de inverno a partir de meados de agosto, pois a alta temperatura do ar na fase reprodutiva, no final de ciclo das espécies olerícolas, pode ocasionar distúrbios fisiológicos.

Fruticultura

  • Uso de práticas conservacionistas para manutenção de agua no solo, tais como encanteiramento de linhas de frutíferas, cobertura verde nos pomares seja por meio de espécies cultivadas ou espontâneas, bem como redução do risco de perdas de solo na ocorrência de chuvas intensas;
  • No preparo e implantação de pomares, utilizar adubação profunda, correção de solos e demais práticas que visem aprofundamento de raízes;
  • Com a projeção de menor acúmulo de frio no período hibernal para quebra de dormência de frutíferas de clima temperadas, prever a aquisição e ajuste de aplicação de produtos indutores de brotação, conforme a necessidade de frio das cultivares;
  • Em cultivos protegidos, para melhorar a disponibilidade de radiação solar, realizar a limpeza do plástico da cobertura;
  • Quando houver previsão de formação de geadas indica-se o uso de irrigação por aspersão ou outros métodos para o combate à geada;
  • Na implantação de pomares, dar preferência a encostas com exposição norte e sem barreiras abaixo do pomar, para facilitar o escoamento do ar frio e minimizar os riscos de dano por geadas;
  • Dar atenção especial ao monitoramento e controle fitossanitário em função do prognostico de maior índice de precipitação e temperaturas do ar acima da média.

Forrageiras e Conforto Animal

  • Tendo em vista o baixo crescimento das pastagens naturais no período de inverno, e com o prognóstico de chuvas acima da média para o próximo trimestre, com menor aporte de radiação solar, o crescimento vegetativo das pastagens continua sendo limitado, por isso recomenda-se manter carga animal baixa ou moderada;
  • Fornecer suplemento aos animais (ex. feno, silagem, ração) mantidos em pastagem natural com baixa disponibilidade de forragem;
  • Realizar o manejo indicado para as forrageiras de inverno/primavera, anuais ou perenes, como aplicação de adubação nitrogenada em cobertura e ajuste de carga animal à disponibilidade de forragem;
  • Reduzir a carga animal na pastagem após a ocorrência de grande volume de chuva, de forma a evitar danos à pastagem pelo excesso de pisoteio;
  • Atentar para as instalações e o entorno para evitar formação de muito barro o que ocasiona problemas de casco, especialmente em vacas de leite;
  • Embora o período seja caracterizado por temperaturas baixas (inverno), o produtor deve ficar atento, devido ao prognóstico de temperaturas acima da média climatológica, principalmente no mês de setembro que normalmente já apresenta temperaturas mais elevadas, que podem acarretar estresse térmico aos animais, principalmente para vacas de alta produção de leite;
  • A forma mais eficiente de se combater o estresse térmico é estabelecer um sistema de manejo e de ambiente integrados, com o objetivo de manter a temperatura corporal do animal próxima do normal (38°C a 39°C) a maior parte do dia. Para adequação do ambiente pode-se utilizar: incremento da movimentação do ar, umedecimento da superfície do animal, resfriamento evaporativo do ar (sistemas como ventilador, aspersor e painel evaporativo) para os animais em confinamento e o uso de sombras e água de qualidade disponível para minimizar os efeitos da radiação solar direta, em dias quentes, e abrigar de ventos e temperaturas baixas, para os animais criados a pasto. 

Boletim Copaaergs – Jul/Ago/Set 2023

Fonte: Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação

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