Supersafra e exportações dão impulso ao PIB do agronegócio
Apesar de todos os entraves de abastecimento de insumos e de custos vividos pela agropecuária em 2022, e que ainda se estendem para este ano, o cenário para 2023 ainda é de rentabilidade para o produtor. Os preços das commodities estão em queda, mas a indicação de uma supersafra e a boa participação brasileira no mercado externo compensam a retração dos preços.
A agropecuária é sempre feita de esperanças -que, muitas vezes, não se confirmam. Porém, há uma confirmação neste ano que indicará números robustos para o setor.
A safra de grãos, se o clima ajudar, atingirá 310 milhões de toneladas, o que vai gerar ganhos de R$ 1,25 trilhão para os produtores dentro da porteira, conforme estimativas do Ministério da Agricultura para o VBP (Valor Bruto da Produção).
Esse bom cenário no campo elevará o PIB (Produto Interno Bruto) do setor, importante na movimentação da economia, e permitirá novos avanços na balança comercial do agronegócio.
No entanto, o desempenho brasileiro depende também do mercado externo.
A demanda continua consistente, mas juros altos, inflação elevada e ritmo mais lento da economia mundial poderão afetar tanto a procura como os preços dos alimentos.
Após um período de desarranjo dos valores, da produção e do intercâmbio comercial internacional, o mercado está mais ajustado neste ano.
Os fundos de investimentos, porém, com aversão a riscos, participam menos do setor de commodities agrícolas, o que ajuda a desaquecer ainda mais os preços internacionais.
A China, principal parceira do Brasil na área, vive uma situação diversa em relação a anos anteriores. Com grande necessidade de matérias-primas, os asiáticos se aproximaram dos russos.
O acesso chinês a insumos mais baratos no mercado russo é conveniente, mas a China é dependente de vendas para os mercados dos Estados Unidos e da Europa, atualmente no lado oposto dessa guerra no Leste Europeu.
Se matérias-primas mais acessíveis são importantes para o crescimento da economia do país asiático, os efeitos dessa posição podem interferir no comércio internacional.
Dentro desse contexto, é importante avaliar que o desempenho da economia chinesa interfere nas exportações brasileiras, afirma Andreia Adami, pesquisadora e analista do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
A pesquisadora acredita ainda no crescimento das exportações do agronegócio brasileiro, mas não em um ritmo tão acelerado como o dos últimos anos.
Em 2000, as exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 101 bilhões (R$ 518,4 bilhões), volume que subiu para US$ 120,5 bilhões (R$ 618,5 bilhões) em 2021 e atingiu US$ 159 bilhões (R$ 816,12 bilhões) no ano passado. O crescimento foi de 58% nos dois últimos anos.
O Brasil terá alguns pontos fortes no setor externo neste ano, principalmente com soja, milho e carnes. A disponibilidade de produtos para a exportação será maior, embora os preços estejam mais baixos, afirma Adami.
Só as exportações do complexo soja (grãos, farelo e óleo) deverão atingir US$ 66 bilhões neste ano, nos cálculos da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais). O setor representou 38% das vendas externas do agronegócio em 2022, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
O PIB da agropecuária melhora, mas depende de quem faz essa avaliação. O crescimento poderá ser de 11,6% segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômicas Aplicadas). Em 2022, houve queda de 1,7%.
De acordo com avaliação do Cepea, porém, não há motivos para grande otimismo com a evolução desse indicador em 2023.
Não há contradição entre as avaliações. Com dados do do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Ipea acompanha a produção dentro da porteira e considera apenas o volume conseguido pelos produtores no período. E, neste ano, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) espera um excelente volume de produção.
A previsão de crescimento do Ipea para o PIB da produção vegetal é de 14,2% neste ano. O da pecuária fica em 0,8%.
Já a pesquisa de PIB feita pelo Cepea em convênio com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) engloba todo o agronegócio.
Além da produção de dentro da porteira e dos preços das mercadorias, leva em consideração todo o agronegócio, incluindo insumos, agroindústria e agrosserviço.
Nicole Rennó, pesquisadora do Cepea, afirma que, embora a safra tenha boas perspectivas, o crescimento não deve ser impactante no resultado final do PIB.
Os componentes desse indicador dependem de demanda, que está fraca, e da evolução da economia nacional, que está lenta e sob o efeito de uma inflação elevada.
Para Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA, a agropecuária tem vários pontos favoráveis neste ano. O clima, à exceção de algumas áreas do Rio Grande do Sul, é um deles e tem ajudado a produção nacional.
Os custos de produção estão mais favoráveis, embora ainda em patamares superiores aos da média dos anos anteriores.
Fonte: Jornal do Comércio