Em plena estiagem, Mapa prevê alta do Valor Bruto da Produção no RS

As perdas estimadas em 70% das safras gaúchas de milho e de pelo menos 20% na soja por conta da estiagem severa pouco pesaram na primeira projeção do Valor bruto da Produção Agropecuária (VBP) divulgada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Apesar do cenário crítico e que se agrava a cada dia pela escassez de chuva, a Pasta prevê R$ 128,6 bilhões no RS, alta de 39,4% em relação a 2022, quando o número chegou a R$ 92,3 bilhões.

No País, o Mapa considera uma cifra recorde de R$ 1,265 trilhão, aumento de 6,3%. A estimativa de alta no índice é sustentada pelas previsões de recorde na safra de grãos, de 310 milhões de hectares, apuradas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Entre as principais culturas do País, o valor bruto da produção gaúcha renderia R$ 93,39 bilhões (65% a mais que no ano passado), representando 10,36% do total nacional de R$ 900,8 bilhões, 10,5% superior a 2022. Segundo o Mapa, as lavouras de milho e soja são as que mais deverão contribuir para o crescimento nacional. A oleaginosa representa 44,5% do VBP das lavouras, com previsão de movimentar R$ 401,1 bilhões em 2023, alta de 18,6% sobre o ano passado.

Em solo gaúcho, a projeção calcula surpreendentes R$ 60,2 bilhões, aumento de 117% sobre o resultado do ano passado, apesar de a Federação da Agricultura e Pecuária do estado (Farsul) e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetag-RS) assegurarem quebra importante já consolidada nas lavouras e tendência de agravamento do cenário atual.

No milho, a mais castigada das culturas, o Mapa projeta aumento de 98% sobre 2022, com VBP de R$ 8,4 bilhões. Em números nacionais, o crescimento seria de 10,39%, passando de 148,7 bilhões para R$ 164 bilhões.

Também há previsão de resultados positivos para o VBP do arroz (R$ 18,6 bilhões, crescimento de 10%). Mas no Rio Grande do Sul, onde se concentram 80% da produção, os arrozeiros diminuíram a área plantada em quase 10% justamente para fazer frente à baixa rentabilidade da cultura. O Mapa prevê, entretanto, R$ 12,8 bilhões em VBP do arroz para o Estado, alta de 15,5%.

Por outro lado, produtos importantes registram baixas. O trigo tem previsão de redução de 25,4% no VBP, para R$ 13,7 bilhões. No Rio Grande do Sul, a queda seria de 33%, chegando a 6,4 bilhões, ante os R$ 9,5 bilhões em 2022.

Já o VBP da pecuária deverá recuar 2,7% neste ano, para R$ 364,4 bilhões (R$ 35,2 bilhões no estado, queda de 1,2% em relação ao desempenho do ano passado), pressionado por resultados negativos nos segmentos de carnes bovina e de frango e na área de ovos. O cenário é mais favorável para a carne suína e para a pecuária leiteira, conforme o estudo.

A previsão do Ministério é que o VBP da carne bovina fique em R$ 142,9 bilhões, queda de 5,5% (no RS seriam R$ 6,8 bilhões, ou redução de 5%), seguido por carne de frango, com R$ 107,5 bilhões, alta de 5,4% (R$ 12,9 bilhões e ou 4% de queda no estado), leite, com R$ 60,7 bilhões, elevação de 2,7% (aumento de 2,6% no RS, com R$ 7,9 bilhões), suínos, com R$ 33,6 bilhões e crescimento de 5,4% (alta de 5,6% no Rio Grande do Sul, com R$ 5,9 bilhões) e ovos, com R$ 19,5 bilhões, baixa de 3,3% (no RS o valor ficaria estável em R$ 1,5 bilhão).

A supervisora de Pesquisas Agropecuárias do IBGE para o Rio Grande do Sul, Fernanda Assaife de Mello, acredita que a disparidade entre os números e o retrato do campo se justifica pelos diferentes momentos entre o último levantamento e a divulgação dos dados.

“A projeção do Ministério da Agricultura deve ter sido feita considerando uma expectativa de que o La Niña seria de baixa intensidade e que a repercussão não seria tão importante. Mas já sabemos que essa impressão não irá se confirmar”. Fernanda lembra que no início dos plantios, o que se esperava era uma safra cheia em todas as culturas. Mas agora, apesar de ainda não haver a última atualização, é evidente que haverá perdas representativas na soja, com chance de recuperação nas variedades mais tardias, mas também de agravamento da condição atual.

“Nossa estrutura não permite que apuremos mensalmente a situação nas propriedades rurais. Fazemos sete reuniões por ano. A última foi em dezembro. E esses intervalos podem trazer mudanças significativas entre um momento e outro. O próximo levantamento está em andamento. Evidentemente, esse número vai baixar”, explica.

Fonte: Jornal do Comércio

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