Quebra de safra no RS será compensada pelo Centro-Oeste, diz Conab
A disparidade climática no Brasil continental deverá assegurar uma produção recorde de 310,6 milhões de toneladas de grãos na safra 2022/2023, um aumento de 38,2 milhões de toneladas em relação à temporada anterior. O quinto levantamento da atual safra pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado na manhã desta quarta-feira (8), aponta que as perdas provocadas pela estiagem no Rio Grande do Sul estão sendo compensadas especialmente pelo Centro-Oeste.
O diretor-presidente da estatal, Guilherme Ribeiro, observou que na maioria das regiões do País a condição das lavouras é satisfatória, devido à precipitação em abundância nos períodos adequados, contrastando com a escassez hídrica em território gaúcho. Segundo ele, o volume de precipitação sobre o Rio Grande do Sul foi de 200 milímetros nos últimos quatro meses. Enquanto isso, em Mato Grosso do Sul choveu 750 milímetros no mesmo período.
“O início da colheita de milho e soja no estado gaúcho confirmam as previsões de queda de produtividade acentuada devido às baixas precipitações ocorridas durante o ciclo das culturas no estado. Por outro lado, o desempenho das lavouras no Centro-Oeste foi beneficiado pelo clima favorável. Em Mato Grosso as produtividades obtidas para a soja, por exemplo, têm sido superiores às previstas”.
A oleaginosa deve atingir uma produção de 152,8 milhões de toneladas no País, com produtividade média de 3.528 quilos por hectare. O plantio foi praticamente finalizado, e a colheita já começou em várias regiões, embora ainda em ritmo lento. Atualmente, apenas 8,9% da área foram colhidos no Brasil, pouco mais da metade do registrado na safra passada.
No Rio Grande do Sul, onde a expectativa inicial era de uma colheita superior a 20 milhões de toneladas, a previsão atualizada caiu para 18,9 milhões. A produtividade média projetada é de 2.896 quilos por hectare, equivalentes a 10 sacas de 60 quilos menos que a média nacional. De acordo com a Emater-RS, alguns municípios gaúchos já registram perdas superiores a 50% na produtividade.
No milho, cultura mais sensível ao estresse hídrico e, por isso, a mais castigada pela estiagem, a previsão inicial nas lavouras gaúchas foi drasticamente derrubada. Conforme o levantamento, são, agora, 4,3 milhões de toneladas, com produtividade média de 5.186 quilos em cada um dos 831,5 mil hectares semeados.
A quebra já chega a 2 milhões de toneladas, de acordo com o coordenador da Área de Culturas e de Defesa Sanitária Vegetal da Emater, Elder Dal Prá. Segundo ele, o quadro é mais grave nas regiões Central, nos entornos de Santa Rosa, Frederico Westphalen e Ijuí.
“Esse cenário é atual, mas pode piorar se não houver chuva em volume igual ou superior à média para o período, o que, aliás, é se desenha nas previsões climáticas”, observou o agrônomo.
Apesar de as chuvas provocarem atraso o início do plantio da segunda safra do cereal pelo País, a Conab projeta uma produção total de 95 milhões de toneladas, com 26,5 milhões no ciclo de verão. Os ganhos só não são maiores em virtude dos problemas climáticos do Rio Grande do Sul, apontou a companhia.
Já para o arroz, a estatal projeta 10,2 milhões de toneladas, uma redução de 5,7% sobre o período 2021/2022 e de 200 mil toneladas sobre a projeção anterior. Boa parte dessa diferença se deve mesmo à mudança de postura dos arrozeiros gaúchos, que plantaram uma área 10% menor em função da relação custo-benefício verificada nos últimos anos. Mas a cultura também deverá sofrer redução por conta da estiagem. No estado, a previsão é de uma safra de 7,195 milhões de toneladas, com produtividade média de 8.341 quilos por hectare.
O gerente de Acompanhamento de Safra da companhia, Rafael Fogaça, lembrou que o continente enfrenta o terceiro ano de influência do fenômeno climático La Niña, que tem dado alguma trégua sobre o Paraná e Santa Catarina, mas que vem sendo implacável para os gaúchos.
“Até mesmo para o arroz irrigado a situação exige atenção. Os mananciais vêm sendo utilizados com cautela, pois há risco de que a oferta de água seja insuficiente para completar todo o ciclo da cultura”.
O impacto da estiagem no Rio Grande do sul transcende a produção de grãos. Em regiões como a Fronteira Oeste, o quadro é grave também para a pecuária nas propriedades de perfil familiar. No janeiro mais seco dos últimos 40 anos, Uruguaiana recebeu ínfimos 16 milímetros de precipitação, o que equivale a 12% da média para o período. Mas em algumas localidades do município, o volume não passou de 2 milímetros, conta o zootecnista Cláudio Cezar Rao, do escritório local da Emater.
“Com a seca, o campo nativo desapareceu. Quem não se precaveu com culturas de verão passa ainda mais trabalho para alimentar os plantéis”, diz.
Fonte: Jornal do Comércio