Estiagem já causa prejuízo de R$ 4,1 bilhões no Estado

A perda econômica com a estiagem em território gaúcho já ultrapassa os R$ 4,1 bilhões. A estimativa é da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), com base em levantamento feito na última semana junto a 116 prefeituras de diferentes regiões.

Os prejuízos maiores são com as áreas de soja, milho, arroz e na pecuária de corte e de leite. Somente na agricultura, o cálculo é de que R$ 3,9 bilhões deixarão de circular por conta da queda na produção e na produtividade das lavouras, principalmente de milho e soja.

Na pecuária são mais R$ 823,8 milhões, com redução na produção de leite, comprometimento de prenhez e terminação de animais para abate nos frigoríficos, por exemplo. A entidade calcula, ainda, gastos de R$ 10,9 milhões com transporte de água para abastecer a população e os criatórios de animais.

O número ainda é bem inferior aos R$ 29,5 bilhões no Valor Bruto da Produção (VBP) de soja na estiagem de 2021-2022, calculados pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS). A entidade também estimou perdas de R$ 6,6 bilhões no milho. De acordo com a Confederação Nacional de Municípios, foram R$ 42 bilhões entre janeiro de 2020 e março de 2022.

Diante do quadro reincidente, o presidente da Famurs, Paulinho Salerno, voltou a bater em uma tecla que se repete em muitas falas há décadas quando o assunto é clima no Rio Grande do Sul.

“A Famurs tem monitorado o avanço da estiagem e buscado agilizar junto ao Estado a concretização dos convênios do Programa Avançar para a construção de cisternas, perfuração de poços e abertura de microaçudes nos municípios, que visam reduzir os efeitos cíclicos que a La Niña impõe aos nossos produtores. Precisamos modernizar as políticas públicas de mitigação dos efeitos dos períodos de estiagem, cada vez mais frequentes e intensos, por meio da criação de uma plataforma para operacionalizar os programas e de linhas de crédito para sistemas de reservação de água e irrigação”, defendeu.

Conforme a Defesa Civil estadual, até as 17h desta sexta-feira 212 prefeituras haviam declarado situação de emergência. Dessas, 178 já tinham decreto vigente, enquanto 92 haviam sido homologados pelo Estado e 57 reconhecidos pela União.

Na área de abrangência da Associação dos Municípios da Costa Doce (Acostadoce), a prefeitura de Chuvisca assinou nesta sexta-feira o decreto de situação de emergência. Com base no levantamento da Emater, os prejuízos agrícolas chegaram a R$ 14,8 milhões, com fumo, feijão e leite.

“Agora vamos buscar a homologação do decreto perante o estado, buscando uma flexibilidade para os agricultores honrarem seus contratos e buscarem condições de plantar uma nova safra”, disse o prefeito Joel Sudba.

Em Dom Feliciano, cujo decreto foi assinado em 20 de janeiro, as perdas estimadas com tabaco, milho, soja e feijão somam R$ 77,1 milhões até agora.

O prefeito de Arambaré e presidente da Acostadoce, Jardel Magalhães Cardoso, diz que está buscando os dados da região com os órgãos oficiais. Embora poucos municípios tenham decretado ou declarado situação de emergência, as perdas aumentam a cada dia por conta da escassez de chuva.

Exemplo dessa situação é a região abrangida pela Associação dos Municípios do Alto Uruguai, composta por 32 prefeituras. Com 230 mil hectares de soja cultivados, a quebra na produtividade média de 60 sacas por hectare estimada é de 20%, diz o gerente regional da Emater Gilberto Tonello. Com a saca de soja na faixa dos R$ 180, a perda chega a R$ 496,8 milhões. Já no milho, que tem 50 mil hectares semeados para grãos, a produtividade média deve cair 40%, passando de 150 sacas para 90 sacas por hectare. Cotada a R$ 90 a saca, a cultura deixaria um rombo de R$ 270 milhões na região.

“A estiagem deste verão não está tão intensa quanto as anteriores, mas essa situação acontece ano após ano. É preciso um programa forte do governo do Estado para atacar de vez esse problema”, diz o técnico agrícola da Emater.

Para minimizar os efeitos da crise hídrica na região, a empresa vem executando uma série de ações do Programa Avançar. Estão em construção 261 microaçudes e 61 cisternas junto aos 32 municípios da área de abrangência do escritório regional.

Em Erechim, Altemir Pelicioli, 55 anos, plantou 170 hectares de milho, com expectativa de colher 150 sacas por hectare. Mas a estiagem trouxe à lavoura uma realidade bem diferente.

“O grão se foi. Em algumas áreas vou colher 30 sacas. Em outras, 20 sacas. Em outras, 10 sacas e. E há áreas em que não vou colher nada. Zero. Está tudo seco. Tem sido assim nos últimos três anos”, diz, com frustração e tristeza na voz.

Com uma renda estimada em mais de R$ 2 milhões que deixará de formar por conta da quebra na lavoura, o agricultor já pensou em largar tudo e mudar para o Pará, onde até já havia encontrado o lugar e a pluviosidade desejados. Mas o desejo esbarrou na vontade dos pais em permanecer no Rio Grande do Sul.

“Então estou ampliando o plantel de vacas holandesas e vamos tentar viver da produção leiteira. Se eu produzir aveia, cevada e trigo no inverno, mesmo sem o milho vou conseguir alimentar os animais. Não será o mesmo rendimento, mas é um caminho”, diz Pelicioli.

Com um plantel de 240 ventres, sendo 110 em ordenha, ele já percebeu queda na produção. Os 28 litros por vaca ao dia de outrora, agora deram lugar a uma produção de 20 litros por animal.

“Até a silagem que estamos fazendo será de baixa qualidade. Mas não há o que fazer. É seguir trabalhando e esperando que a situação mude com o foco principal no leite”, conclui o produtor.

Fonte: Jornal do Comércio

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