Feijão perde espaço no Rio Grande do Sul e no Brasil
A competitividade de culturas mais rentáveis e internacionalizadas vem fazendo encolher as áreas plantadas com feijão pelo País. Os riscos climáticos, a volatilidade do preço e a busca por cultivos com manejo mais mecanizado tem levado os agricultores a repensarem as lavouras para produção daquele que é a outra metade do mais tradicional prato brasileiro.
Série histórica da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostra que nos últimos 45 anos a área plantada de feijão encolheu cerca de 35% e hoje é inferior a 3 milhões de hectares. Os ganhos de produtividade no período não chegaram a compensar a redução da área cultivada, e o volume de produção hoje é bem próximo do verificado naquela época.
Paralelamente, a área plantada de soja cresceu mais de 5 vezes, ultrapassando os 40 milhões de hectares. A de milho quase dobrou, e hoje ronda a casa dos 20 milhões de hectares.
Esse movimento é reproduzido também no Rio Grande do Sul. O Estado já chegou a semear 260 mil hectares com feijão na década de 1970. Mas nesta 1ª safra do atual ciclo, não ultrapassará os 30 mil hectares plantados.
Apesar da curva descendente, a aposta na atividade deve permanecer, acredita o coordenador da área de Culturas e Defesa Sanitária Vegetal da Emater-RS Elder Dal Prá. “O feijão tem um cultivo um manejo simples. Não exige grandes investimentos e cabe muito bem nas propriedades de agricultura familiar, diz o agrônomo. Ainda, segundo ele, que a elevação do preço dos insumos, em decorrência da guerra na Ucrânia, pese sobre a atividade, o preço da saca de 60 quilos no mercado, na casa dos R$ 250, estaria adequado a lavouras de boa produtividade. Dal Prá acredita, entretanto, que uma mudança nos patamares de rentabilidade da cultura pode levar à retomada do interesse dos produtores pelo feijão. “Quando falamos em redução de 4,6% na área dessa leguminosa no Rio Grande do Sul, estamos tratando de menos de 1 mil hectares. É muito diferente da soja, cujo espaço destinado supera os 6,5 milhões de hectares. Essa tendência de queda é plenamente reversível”.
Aliás, é na tecnificação das lavouras que reside um dos principais pilares da resiliência da cultura. Neste ano, a produtividade estimada é de 1,7 mil quilos por hectare no Rio Grande do Sul. Há 10 anos, o rendimento da cultura foi de 1 mil quilos. Se o volume final da safra gaúcha vem caindo, o rendimento nas propriedades que perseveram na atividade sobe. Nesse embalo, a semeadura avança no Estado e já alcança, em algumas áreas, mais de 80%. Nos 30,5 mil hectares projetados, a produção esperada é de 51,9 mil toneladas. A cultura está em estabelecimento, de acordo com o último Informativo Conjuntural produzido pela Emater.
Na região administrativa da autarquia em Ijuí, a implantação se aproxima do final, atingindo 88% da área projetada. O desenvolvimento das plantas continua lento, mas o aspecto sanitário das plantas é muito bom, sem sintomas de doenças. As novas folhas não apresentam sintomas de encarquilhamento, que causaria danos por baixas temperaturas.
Em Pelotas, os produtores aumentaram o preparo de áreas e a escala de semeadura, já que o mês de outubro é considerado preferencial para a implantação da cultura na região. O plantio atingiu 33% da área estimada, e as lavouras estão em emergência e desenvolvimento vegetativo.
Já na região de Soledade, a área semeada alcançou 80%, com 5% já em florescimento. O teor de umidade dos solos permaneceu adequado por conta da recorrência de chuvas.
Fonte: Jornal do Comércio