Mercado aquecido faz crescer presença de bovinos de elite na Expointer
Eles são gigantes e despertam, ao mesmo tempo, a atenção e o carinho do púbico que visita a 45ª Expointer. Podendo pesar até mais de uma tonelada, mostram uma doçura no olhar que destoa da própria rusticidade. Neste ano, a presença de bovinos na mostra agropecuária cresceu, assim como a saudade dos criadores pelo contato pessoal no Parque de Exposições Assis Brasil.
Com a inscrição de 1.215 exemplares de corte, leite e mistos, de 24 raças, a representação da espécie responde por cerca de 20% do total de animais em Esteio. Sinal de que a feira, além de um tradicional ponto de encontros e confraternizações do setor, continua forte como referência para difundir a genética desenvolvida dentro das porteiras e a realização de negócios.
Nesse embalo, uma das presenças mais significativas é a de bovinos charolês. São 79 animais em Esteio, uma das maiores representações dos últimos 10 anos, lembra o diretor de Exposições da Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC), Henrique Cezar. A retomada traduz, segundo ele, os efeitos dos melhoramentos implementados à raça nos últimos 20 anos, que foram absorvidos pelo mercado.
“Corrigimos os problemas de peso ao nascer, o que acarretava dificuldades no parto, e também quanto ao tempo de acabamento de gordura. Hoje, um terneiro nasce fácil, segue ganhando muito peso e também tem acabamento adequado.”
De acordo com Cezar, esse bom momento da raça já se reflete na retomada de alguns criatórios e investimentos em centrais de coleta de sêmen, buscando touros da raça com bons números em provas do Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo) para colocar sobre os plantéis de fêmeas. Sentindo essa melhora, a ABCC volta a realizar leilão na Expointer. Nesta quarta-feira à noite, após o julgamento dos exemplares, serão ofertados 20 lotes, entre embriões prenhezes e animais de elite.
O martelo será conduzido pelo leiloeiro Fábio Crespo, empossado nesta terça-feira como presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais do Rio Grande do Sul. O pregão acontece a partir das 19h, no estande da raça. “A expectativa é a melhor possível, pois já recebemos muitas consultas por catálogo. A genética em pista sabidamente é de altíssima qualidade, o que garante negócios com segurança”, diz Crespo.
Neste ano, a Cabanha Cezar, de Vacaria, com mais de 80 anos selecionando charolês, traz seis animais à mostra. Não para venda, mas para exibir a qualidade do trabalho na propriedade. E já recebeu diversas consultas por touros. “O mercado está aquecido”, comemora Henrique Cezar.
O interesse da cadeia é a referência do criador para avaliar participar das feiras. Afinal, levar um animal a uma mostra agropecuária demanda tempo e dinheiro. São cerca de 12 meses preparando reprodutores acostumados à vida no campo para que possam desfilar no cabresto em meio a uma multidão, assim como o trato alimentar em outro ambiente, diz Simone Bianchini, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Devon e Bravon.
“Nesta edição da Expointer, a primeira sem restrições de público após o reconhecimento do Rio Grande do Sul como zona livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização dos Estados Americanos, o parque Assis Brasil recebe também expositores de Santa Catarina”, ressalta a criadora.
Em anos anteriores, essas propriedades não participavam da mostra porque seus animais não poderiam retornar à origem por questões sanitárias.
“A interação de genética entre os três Estados do Sul melhorou. Esse momento pós-pandemia, de reencontros, alegra criadores de todas as raças. E isso se percebe pelo aumento do número de animais trazidos a Esteio”, observa Simone.
A participação de expositores de outras unidades da Federação na Expointer reforça o sentimento de que a feira é fundamental como vitrina. Em 2022, são 45 exemplares devon no parque. Embora a mostra não seja considerada local de vendas, muitos negócios são encaminhados a partir dela.
Aliás, esta quarta-feira é considerada o dia mais importante para a raça na exposição. Os julgamentos de argola irão apontar os grandes campeões e alavancar importantes contatos comerciais. “O primordial de uma feira é exibir a propriedade. Não temos dados das vendas concretizadas a partir delas, mas se não fossem tão importantes não estaríamos aqui”, ressalta Simone.
Criador de bravon também é estreante em Esteio
Wanderley Corona registrou os primeiros animais da raça
LUIZA PRADO/JC
A retomada da Expointer 100% presencial também tem estreantes à mostra. Criador de bovinos devon desde 1992 no município catarinense de Anita Garibaldi, o advogado Wanderley Corona vem a Esteio como expositor pela primeira vez. E traz com ele os três primeiros touros bravon da mostra depois que a raça foi reconhecida como pura pelo Ministério da Agricultura, há cerca de dois anos.
Desde 2016 ele introduz sangue zebuíno sobre suas matrizes devon para obter o resultado desejado. O bravon, resultado do cruzamento da raça-mãe com zebuínos, leva três gerações para ser obtido na proporção de sangue 3/8. Na Fazenda Rio Canoas, com 150 hectares, Corona optou pelo brahman vermelho para o cruzamento, para assegurar o padrão de pelagem determinado pela Associação Brasileira de Criadores de Devon e Bravon.
O pecuarista teve os primeiros animais registrados no Ministério da Agricultura do Brasil. “Isso deu notoriedade à minha propriedade. Após um encontro técnico realizado na Rio Canoas, recebi muitas sugestões de trazer nossos animais a Esteio. A experiência está sendo muito positiva, pois valoriza nosso trabalho, a raça e o negócio”, destaca.
Com um plantel de 190 animais, sendo bravon e 147 devon, Corona pretende colher, a partir da Expointer, os primeiros parâmetros de valorização do bravon, já que seus animais nunca foram vendidos.
“Pretendo vender sêmen e embriões. O objetivo é produzir reprodutores para comercialização e colocação sobre os rebanhos de outras propriedades. Percebo aqui um bom clima para negócios”, festeja.
Os resultados da Rio Canoas já despertaram interesse de criadores do Uruguai, do Paraguai e da Argentina. Além desses, criadores dos Estados Unidos e da Inglaterra também manifestaram atenção ao trabalho lá desenvolvido. “O devon é uma raça muito boa. Por analogia, todo criador vai colocar um sangue zebu em cima, para, na composição final, ter 62% de devon e 38 de zebu. Tenho convicção de que o bravon é uma raça que veio pra ficar. Até porque os sintéticos como braford e brangus, já dominam o mercado”, finaliza Corona.
Fonte: Jornal do Comércio