Embargo chinês não deve impactar nos preços da carne ao consumidor

O bloqueio das compras de carnes bovina do Brasil pela China já dura mais de sete semanas. Desde quando se interromperam as exportações aos chineses, a cotação da arroba do boi já caiu em média entre 9% e 10%. Mesmo impactando a cadeia de produção, o embargo não deve se refletir em uma diminuição significativa no preço final do produto para o consumidor brasileiro.A principal razão para isso é que os exportadores readequaram as suas produções após o início do embargo. “Muitos dos grandes frigoríficos já estão operando em menor capacidade, ou até fechados temporariamente, esperando essa situação se resolver”, afirma Ronei Lauxen, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul (Sicadergs).Até o início do bloqueio, a China era a maior compradora da carne bovina brasileira, sendo responsável por aproximadamente 50% das exportações. Após os dois casos de mal da vaca louca no Brasil, as vendas de carne bovina aos chineses foram suspensas.”Não acredito que o embargo possa influenciar muito no preço para o mercado interno. Além de uma adequação na produção, produtos que já estavam sendo preparados para exportação ficam em grande parte estocados, esperando que o embargo acabe, e não repassados ao mercado interno”, explica Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas).Outra razão para que a suspensão das vendas à China não afete muito o preço do produto para o consumidor nacional é que grande parte dos cortes destinados à exportação aos chineses são de partes dianteiras do boi e de miúdos. Essas carnes, não tão consumidas no Brasil, são menos valorizadas que os cortes da parte traseira, como a picanha, a maminha e o vazio.”As carnes da parte dianteira são as chamadas ‘de segunda’, e historicamente não são tão consumidas aqui. Com a crise dos últimos tempos, esses cortes começaram até a sair mais, mas isso não impacta no preço dos principais cortes, os traseiros”, informa Rafael Sartori, sócioadministrador da Casa de Carnes Santo Ângelo, no Mercado Público de Porto Alegre.

Impasse comercial não tem previsão para acabar

Alta da carne justificou crescimento de 0,08% no mês passado Projeção é de que exportadores acumulem prejuízo mensal de US$ 500 milhões
CAROL JARDINE/DIVULGAÇÃO/JCMesmo com a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) tendo mantido o Brasil com status de “risco insignificante” para o mal da vaca louca, considerando que os casos que ocorreram no país foram situações isoladas, a China decidiu manter o bloqueio.”Os exportadores de carne bovina brasileiros estão com um prejuízo mensal de aproximadamente US$ 500 milhões. Como já estamos com quase dois meses de embargo, o prejuízo se aproxima de US$ 1 bilhão”, afirma José Augusto de Castro, presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil.Hoje, apesar dos casos de mal da vaca louca reportados em setembro, a China é o único país do mundo com restrições à carne brasileira. Segundo Castro, esse fato demonstra que a atitude chinesa não está puramente ligada a questões técnicas. “Embora não se admita oficialmente, a demora na resolução desse embargo também é uma represália dos chineses a algumas declarações e atitudes do Brasil. Apareceu essa oportunidade, e agora a China está aproveitando, ou para diminuir o preço, ou para dar um aviso de cunho político, pois os chineses são muito pragmáticos nesse aspecto. Hoje é impossível fazer uma previsão para o fim dessa questão”, comenta.Em 2019, a última vez em que o país havia registrado um caso atípico de mal da vaca louca, as exportações ficaram suspensas por apenas 10 dias. “A gente esperava inicialmente que demorasse 15, 20 dias no máximo. As questões sanitárias já foram superadas, a nossa carne não oferece risco à saúde de ninguém”, declara Ronei Lauxen. 

Leve queda recente nos preços não está ligada à restrição

No mês de outubro, se verificou uma pequena baixa no valor da carne bovina no mercado nacional, mas não foi uma consequência do bloqueio chinês. Segundo especialistas, essa redução está ligada às vendas dos bois que são criados por produtores de soja enquanto eles não usam o campo para o plantio.”A gente observou agora uma redução em torno de 10% a 15%, mas em razão dos bois de pastagem dos produtores de soja, que não vendem tão caro quanto os pecuaristas. Então em outubro essa oferta aumentou, mas não em razão do embargo. Nas próximas semanas o preço já deve se normalizar”, afirma Alex Plau, gerente da Casa de Carnes Condados, em Porto Alegre.Desde janeiro, os cortes mais nobres já tiveram um aumento de cerca de 50% no seu valor. Com esse crescimento, os cortes de segunda começaram a ser mais procurados, e acabaram tendo um aumento ainda maior, até superior a 100%. Esse fato fez com que outras partes dos animais fossem mais vendidas nesse ano, por serem mais acessíveis à população com menor poder de consumo. “Começamos a vender carcaça e pé de frango, e também ossos de porco, que são cortes com o quilo por menos de R$10. Além disso, cortes de retalhos de carne bovina são feitos para a baixa renda também acessar a proteína bovina”, ressalta Rafael Sartori.

Fonte: Jornal do Comércio

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