Custos dos adubos vão pressionar inflação de alimentos

Produtores agrícolas terão dificuldades para encontrar fertilizantes no mercado no início de 2022. E, mesmo aqueles produtos que estarão disponíveis, o preço estará consideravelmente mais alto. Uma série de fatores relacionados ou não pode explicar o avanço no custo dos fertilizantes, principalmente para o ano que vem – o que vai resultar em aumento na inflação de alimentos e impactar no preço dos produtos das prateleiras de supermercados.A alta no custo de fertilizantes será generalizada em todo o Brasil. Na região de Carazinho, na metade norte do Rio Grande do Sul, a variação dos gastos com fertilizantes para produção de soja entre as safras 2020/2021 e 2021/2022 é projetada em 57,1%, segundo estudo da CNA/Senar.Os três micronutrientes principais utilizados nos fertilizantes – o potássio, o fósforo e o nitrogênio – sofrem cada um com sua própria dependência relacionada à política internacional, que resulta em diminuição da oferta e consequente aumento de preço.A China, um dos principais produtores de fosfatados do mundo, barrou parte da exportação da matéria-prima e está segurando o produto para o mercado interno. O Brasil consome fosfato principalmente da Rússia. Porém, o movimento da China faz com que os demais países asiáticos também passem a consumir mais dos russos, entrando em concorrência direta com o Brasil.Essa restrição chinesa também atinge os nitrogenados. Há também a questão da alta na procura Gás Natural Liquefeito (GNL) em substituição ao uso do carvão como fonte energética em diferentes mercados do mundo, o que diminui a oferta de fertilizantes derivados do nitrogênio.Quantos aos potássios, existe a questão geopolítica da Bielorrússia, principal mercado importador produtor da matéria para o Brasil, que sofre sanções econômicas impostas pela União Europeia, Suíça, Estados Unidos, Canadá e Inglaterra em represália ao governo de Alexander Lukashenko.Para além dessas questões específicas e independentes entre si, a produção de fertilizantes foi afetada de forma geral pelos lockdowns ao redor do mundo em 2020. Também contribuem negativamente o atraso nos portos e a desvalorização do real em relação ao dólar.Este conjunto de fatores têm feito o custo dos fertilizantes disparar. Segundo a analista de fertilizantes do Safras e Mercados, Maísa Romanello, os potássios passaram de US$ 270,00 por tonelada para US$/T 780,00 entre o início do ano e hoje. Os fosfatados passaram de US$/T 300,00 a 400,00 para US$/T 700,00 e os nitrogenados passaram de US$/T 400,00 para US$/T 800,00.”Faltar, não vai. É exagero afirmar que vai faltar fertilizantes no Brasil. A questão é que os preços estarão elevados pelo menos até o início do ano que vem”, disse Maísa. Segundo ela, “se o produtor está esperando os preços caírem, não vai acontecer. Ele precisa ir ao mercado e tentar negociar o melhor custo de compra. Os fertilizantes vão ser mais um fator na cadeia de produção que vai aumentar a inflação nos preços dos alimentos”.

Impacto deve ser maior no cultivo de inverno

Safrinha de milho também poderá ser atingida em cheio Safrinha de milho também poderá ser atingida em cheio
/WENDERSON ARAUJO/CNA/DIVULGAÇÃO/JC

“A maioria dos produtores já fez suas compras e está praticamente abastecido”, afirmou o vice-presidente e coordenador da Comissão de Grãos do Sistema Farsul, Elmar Konrad. Dessa forma, com os produtores gaúchos já com estoque de fertilizantes para esta safra de verão, o plantio do próximo inverno é o que seria o mais afetado pela alta de custos destes produtos.

“Esse ano o plantio vai ocorrer dentro da normalidade. Agora, para o próximo ano, muda tudo. O produtor vai conviver com falta de disponibilidade no mercado e os preços que saltaram”, vê Konrad.

A safrinha e a safra de inverno têm seus plantios entre março, abril e maio. Dessa forma, o milho, uma das principais culturas cultivadas no Estado, deve ser mais uma vez atingido, após sofrer duas quebras de safra seguidas com estiagens e já estar contribuindo significativamente para o aumento do preço da proteína animal.

“Se não tiver disponibilidade de insumos (fertilizantes), se reduz tecnologia e produção. Pode diminuir, de forma geral, a produção de alimentos no mundo. Talvez não falte, mas vai mudar os preços. Nós já sentimos hoje o impacto nos preços no supermercado, e vai continuar”, disse Konrad.

Analista de fertilizantes do Safras e Mercados, Maísa Romanello concorda que a safra de inverno deve ser a principal atingida e que “o milho realmente vai ter mais um avanço de preços”.

Fonte: Jornal do Comércio

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