“Na Volta da Estrada” onde o regional e o universal se encontram
Por: Marcos Pfeifer
A parceria musical entre os compositores Raineri Spohr e Mateus Neves da Fontoura resultou na série de canções “Na Volta da Estrada”. A composição com este nome, marcou as primeiras pautas musicais entre os dois parceiros de arte, uma arte campeira, que na sua singeleza abre os olhos para o mundo. “O Mateus chegou num festival assoviando a melodia de ´Na Volta da Estrada´ e eu me encantei com aquilo e a história da letra” revela o cantor Raineri Spohr. A partir daí, a parceria evoluiu, a amizade cristalizou a música. E o modo de vida da região do Piquiri (distrito de Cachoeira do Sul) através da história de algumas pessoas que refletem um cotidiano cultural e social de quem vive no interior dos interiores desse Rio Grande do Sul (brasileiro e sul-americano), encontrou nos compositores Mateus Neves da Fontoura e Raineri Spohr, os porta-vozes de estórias simples, porém ricas em humanidade.
Da composição “Na Volta da Estrada” surgiram mais três canções, que contam uma estória genuína da gente gaúcha, que assim é percebida quando o poeta Mateus Neves da Fontoura traça um verdadeiro livro, abrindo a porta da literatura às personagens que habitam essa região rural do Vale do rio Jacuí, no centro do estado do Rio Grande do Sul, inserida no bioma Pampa. Podemos dizer que são capítulos dessa estória: “Despachando a Trote Largo”, “Manuela” e “Selmar e o Tostado”. A imaginação do ouvinte e da apreciadora de música começa a ser despertada quando se escuta que o “gurizito vai buscá o munício encomendado, no Bolicho do Tio Nico” e que a Tia Maruca pediu “quatro velas pra rezá noutra novena” e “no Passo da Pinguela, rezei quatro Ave-Maria” para que se sucedesse tudo bem com um parto que estava acontecendo na localidade. E o que dizer do caderno de anotações do Tio Nico? Onde “ficou tudo medido pra acertar a conta depois”, o autêntico cartão de crédito dos comércios para quem vive nos fundos de campo, de alguns lugares dos interiores desse Rio Grande.
“Um vestido pra Manuela, uma ´sanha` na cancela e a saudade na garupa”, dos elementos simples que compõem a praticidade e as necessidades da vida rural, se verte uma poesia das mais bonitas, de linguagem autêntica, lírica e ao mesmo tempo popular, com grande alcance cultural a outras “voltadas de estradas” desse mundo. E o transporte… é um “tostado” (pelagem de cavalo vermelha escura) que leva o “piazito” que vai receber como pagamento ou “paga” uma nica-joga ou bolita (para a criançada da cidade), ou ainda bola-de-gude para outras regiões brasileiras. E o bolicho, a casa de comércio de variedades, se transforma em bar com música ao vivo, onde Selmar e seu violão dão sonoridade ao ambiente, “fumaceando um ´baio bueno´”, o cigarro de palha de milho, que é o aroma pitoresco do local. Uma história de encomendas, de vidas chegando, de vestidos, de rezas e cantigas, por onde a vida corre feito uma sanga, um arroio de águas puras seguindo para o rio, o seu destino.
Quer saber mais dessa história e da criação musical dos seus autores? Então clica no link do podcast “Entrevista Raineri Spohr – Na Volta da Estrada” no portal da radiosul.net que o cantor vai contar mais sobre a parceria com o poeta Mateus Neves da Fontoura, e essa história autêntica do povo gaúcho, onde o regional e o universal se encontram.
Ouça a entrevista na íntegra: