Com tecnologia chinesa, Goiás inaugura 5G rural no Brasil
Duas torres capazes de transmitir a tecnologia foram instaladas em Rio Verde; uso da rede será feito de forma experimental pelo período de 1 ano
Uma parceria firmada entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), o Instituto Federal Goiano (IF Goiano) e a operadora de telefonia Claro começaram a experimentar a rede 5G no campo a partir desta quinta, 3. Duas torres de transmissão foram instaladas no município. Uma na fazenda Nicolly e outra na unidade do Centro de Excelência em Agricultura Exponencial (Ceagre), localizado no centro da cidade.
A ativação do sinal 5G foi feita por meio de uma licença de demonstração, com validade de um ano. O projeto tem parceria da empresa chinesa Huawei, uma das que disputam o direito de explorar a tecnologia no Brasil.
Segundo o presidente da Fapeg, Robson Domingos, a rede 5G não estará disponível para usos comerciais da população de Rio Verde. Mesmo assim, quem vier a frequentar a nova unidade do Ceagre terá acesso à tecnologia de banda larga móvel. Uma segunda torre foi instalada na fazenda Nycolle, do produtor Cairo Arantes, escolhida para receber as aplicações práticas da nova tecnologia.
“No Ceagre, no centro de Rio Verde, nós teremos um espaço para incubação de startups voltadas para as atividades do agronegócio. Essas startups terão acesso à rede 5G que está sendo instalada. Isso é essencial para o desenvolvimento de diversas tecnologias da agricultura exponencial como realidade aumentada, realidade virtual, robótica, inteligência artificial, internet das coisas. Nós queremos que Rio Verde se torne um polo de desenvolvimento tecnológico da agropecuária”, disse em entrevista ao Canal Rural no mês de novembro.
Para o vice-presidente do Sindicato Rural de Rio Verde, Ênio Fernandes, as possibilidades de melhoria no campo com a rede 5G são inúmeras. “Se apenas a chegada da internet no meio rural já melhorou tanto a vida do produtor com acesso à informações, conhecimento, possibilidade de cuidar melhor do negócio, a rede 5G deve trazer benefícios que a gente nem imagina. Até porque essa tecnologia ainda nem existe no Brasil!”, ressalta.
Apesar da Claro já estar oferecendo comercialmente, desde julho, a velocidade 5G nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo por meio de frequências “antigas” (que transmitem os sinais 4G, 3G e 2G), esse modo de transmissão da tecnologia deixa de fora algumas vantagens, como a baixa latência. Esse item está ligado ao tempo em que um pacote de dados leva para ser enviado para a rede e retornar ao dispositivo. É por meio da baixa latência que a operação de maquinários agrícolas sem motoristas pode ser feita com segurança, por exemplo.
De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Claro recebeu, em outubro, uma autorização para usar temporariamente a frequência 3,5GHz na transmissão de banda larga móvel em Rio Verde. Esta frequência é uma das que constam listadas pela Anatel nas ofertas do Leilão do 5G a ser realizado em 2021. Por essa e outras frequências ainda não estarem vendidas, o uso é apenas permitido para fins científicos e experimentais.
O reitor do IF Goiano, Elias de Pádua Monteiro, explica que durante um ano, a Claro deve avaliar o uso de equipamentos, o funcionamento da rede 5G na área rural e possíveis soluções para o aprimoramento da tecnologia. Todos os resultados devem ser repassados à Anatel e ao governo de Goiás. A instituição pública de ensino deve contribuir neste processo com a infraestrutura disponível.
Inovação no campo
A chegada do 5G ao campo, aliada à internet das coisas, traz a perspectiva de redução dos custos operacionais. Drones que fazem controle e prevenção de ervas daninhas por meio de Inteligência Artificial e veículos autônomos conectados à nuvem são alguns dos exemplos que podem ser aplicados na área rural com essa nova tecnologia.
Os drones permitem aos produtores uma agricultura de precisão. Monitoram a colheita por meio de vídeos que, processados em tempo real na nuvem e analisados por inteligência artificial, identificam e classificam ervas daninhas em suas localidades no meio do talhão para uma efetiva aplicação de defensivos agrícolas.
Os veículos autônomos, como o hover, permitem o reconhecimento de rotas utilizando sensores para coleta de dados ambientais, como umidade e temperatura, com percursos em tempo real e monitorização remota, além de visualização de imagens 360º de sua produção. Além de proporcionar a digitalização e automação ainda maior do campo, a ferramenta poderá ser uma importante aliada para produtores com dificuldade de locomoção.
De acordo com um estudo do Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura), apenas 18,5% da população rural do Brasil possui conexão à rede 4G. Nesse cenário, Rio Verde pode se tornar pioneira ao oferecer a conexão 5G para os agricultores da cidade.
“Além da navegação mais rápida, o 5G pode criar uma grande revolução no setor por meio das possibilidades de automação e geração de dados em tempo real em diversos setores da cadeia produtiva. O agronegócio é muito relevante para o Brasil, tem potencial de gerar modelos de negócios para a Huawei, e ainda impulsionar o desenvolvimento tecnológico do país”, afirma Sun Baocheng, CEO da Huawei Brasil.
Fonte: ABCCC