Rancho do brasileiro está pesando mais no bolso
A união de diferentes fatores, nos mercados doméstico e internacional, tem inflacionado o custo da alimentação no Brasil. As cotações mundiais valorizam, por exemplo, commodities agrícolas como soja, milho e arroz, enquanto o dólar em alta encarece o trigo. O milho é o principal insumo para a produção de ração na pecuária, elevando os preços da proteína animal, dos ovos e do leite.
As cotações do leite e o valor pelo quilo do suíno pago ao produtor alcançaram recordes neste ano – o que é importante para a economia do País e para manter a produção. Mas não se pode ignorar que o bom momento do agronegócio bate diretamente no prato dos brasileiros. O clássico arroz e feijão está pesando mais no bolso, assim como o café com leite.
Com esse cenário, um conjunto de itens bastante consumidos por todos registra uma pesada alta nos gastos das famílias – basta andar pelas gôndolas dos supermercados para encontrar, por exemplo, o saco com 5kg de arroz a R$ 20,00, e o litro do leite UHT a R$ 3,50.
Há outros fatores que colaboram para a inflação dos alimentos no varejo. Ainda que exista uma grande crise econômica decorrente da pandemia, o isolamento social ampliou o consumo caseiro e as idas ao supermercado – ou seja, a demanda aumentou. Outro ponto é que o auxílio emergencial pago pelo governo também levou renda a quem muitas vezes não tinha dinheiro nem mesmo para a compra de alimentos.
Neste cenário, explica o coordenador do Índice de Preço ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), André Braz, há tanto um aumento de preços por custos e demandas quanto maior facilidade da indústria em repassar e reajustar valores. Braz diz que a alta é generalizada e em cima de produtos básicos, por mais de uma razão. Um deles é a mudança no padrão de consumo, agora maior em residências, com as famílias fazendo todas as refeições em casa e todos juntos.
Esse consumo, afirma o economista, está focado em produtos do cotidiano – como arroz, feijão, ovos – o que exige reforço na despensa e permite à indústria elevar preços sem necessariamente perder vendas. Um segundo fator é a alta do dólar, ressalta Braz, com desvalorização do real em mais de 20% desde o início da pandemia no Brasil. Isso valoriza produtos animais e vegetais que o Brasil exporta e encarece o que o País importa.
“O trigo, por exemplo, essencial em diversos alimentos, do pão aos biscoitos e às massas, vem 70% da Argentina e até dos Estados Unidos. Já as carnes, exportadas em grande volume pela China, sobem também aqui. E a criação de animais fica à mercê dos preços das commodities, impactando na avicultura e na produção de leite”, detalha Braz.
Para o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, a inflação nas gôndolas é apenas reflexo das altas no campo e dos repasses das indústrias. E, especialmente nos derivados do trigo, ressalta Longo, de se esperar um incremento maior de preços.
“Esse é um item que ainda deve subir mais. A alta nas commodities fatalmente impacta no preço ao consumidor. Em diferentes percentuais, mas impacta. Nós somos repassadores do que aumenta na produção e na indústria. Apenas por questões de estoques e concorrência às vezes isso demora mais a chegar ao consumidor. Os derivados do trigo, por exemplo, ainda devem subir”, antecipa Longo.
De acordo com levantamento elaborado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Iepe/Ufrgs), em pesquisa mensal de preços ao consumidor, os 51 produtos do Custo do Cesto de Produtos Básicos em Porto Alegre passaram a custar R$ 891,77 no mês de julho (os dados de agosto ainda não foram divulgados). Em relação ao mês anterior houve um acréscimo de 1,43% em apenas 30 dias. Nos últimos 12 meses, a variação chegou a 7,60%, e o acumulado neste ano já é de 4,73%.
Fonte: Jornal do Comércio