Os efeitos do calor e seca na pecuária
O estresse térmico sempre foi um fator que preocupou os pecuarista. Esse ano tivemos um verão de altas temperaturas, com ausência de chuvas que o último ano visto foi em 1893. Portanto, não se assustem se este ano tivermos terneiros mais leves no desmame e o índice de prenhes, das vacas com cria ao pé, for ruim.
No Canadá, sobre esse assunto, o professor John Church da Universidade Thompson Rivers publicou na revista “Contry Life in BC”, Vol. 106, Janeiro/2020, uma interessante pesquisa onde ele busca uma raça para cruzar com Bisões e se obter um animal mais resistente ao calor. No seu experimento, usando uma câmera térmica infravermelha, em drones, mediu a temperatura corporal de duas raças. Em um dia de 24° C, a raça “Speckle Park” (Shorthon x Black Angus) tinha uma média de 31,2° C e o Black Angus tinha 36,4° C. Black Angus tolera o frio, mas a cor da sua pelagem grande e negra absorve muito o calor no verão. Isto deve-se ao efeito albedo, onde o fenômeno numa superfície de cor clara reflete mais radiação solar do que uma superfície escura.
Os bovinos para regular seu organismo e diminuir o efeito do calor, produz uma quantidade maior de hormônio cortisol. Ao fazer isso, os animais passam a se alimentar menos. Com isso, entram em balanço energético negativo. Nesse momento, se eleva a utilização de glicose pelas células, diminuindo sua utilização como fonte de energia para manutenção da produção de leite. Aí a razão de seu terneiros estarem mais leves. E o problema continua uma vez que vai interferir na fertilidade, pois o ovócito, o embrião e o feto que se utilizam da glicose como fonte de energia não terá a quantidade necessária e assim baixa a fertilização. Se nas vacas com cria interfere na fertilidade, nas primíparas gera um retardamento da maturidade sexual pelo não desenvolvimento do aparelho reprodutivo. Já nos machos, as altas temperaturas podem provocar esterilidade, degeneração da célula espermática, abaixamento da produção de sêmen e queda da fertilidade também.
Entretanto, por experiência particular nossa, visitando fazendas no Brasil Central e Centro Oeste, temos visto animais Braford já adaptados as novas regiões climáticas, o que mostram que por terem sangue zebuínos na sua formação, bem como pelagem “zero” como o Nelore e por possuírem a pele mais clara, tem-se obtido ótimos resultados.
Convém ressaltar que a UFRGS através de professores e alunos do Nespro, coordenados pelo Veterinário professor Silvio Renato Oliveira Menegassi, publicaram em 2016 o artigo de pesquisa: “Efeitos da temperatura do ar ambiente, umidade e velocidade do vento em características seminais em touros Braford e Nelore no Pantanal Brasileiro”. Foram utilizados touros de 24 meses de idade nas estações reprodutivas entre novembro e fevereiro. O resultado foi surpreendente. Os touros Nelore apresentaram “Defeitos Maiores” – (MaD) e “Defeitos Totais” – (TD) mais baixos em comparação com Braford. Os touros NELORE apresentaram correlação entre “Defeitos Menores” – (MiD) no “Índice de Umidade da Temperatura” – (THI) por 30 dias (0,90) e 18 dias (0,88; P<0,05). Os touros Braford apresentaram correlação para “Defeitos Maiores” – (MaD) no “Índice de Temperatura Equivalente” – (ETI) por 12 dias (0,89; P<0,05). A termografia por infravermelho não mostrou diferença entre os animais. Isso mostra a total adaptabilidade da raça Braford para ser criada na região quente do Brasil Central e Centro Oeste.
Fonte: ABHB