O Cavalo Crioulo e o estudo da “Febre do Cavalo de Potomac”, o “churrio”

Quem cria cavalos em regiões alagadiças pode já ter alguma vez presenciado a “Febre do Cavalo de Potomac”, conhecida no Rio Grande do Sul como “churrio” ou “curso”, e ainda no meio científico por Ehrlichiose Monocítica Equina (EME). Considerada uma das principais causas de colites nos equinos, apresenta rápida evolução, com típicos sinais clínicos relacionados, tais como diarreia, intensa febre, depressão, letargia e diminuição do apetite, podendo muitas vezes evoluir a quadros mais graves, como anorexia, desidratação, cólica, laminite e até mesmo culminar com a morte do animal.

A bactéria causadora da enfermidade é denominada Neorickettsia risticii e vem sendo estudada na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) desde 1999. Em 2012, a médica veterinária Juliana Garcia da Silva Teixeira defendeu a dissertação intitulada “Ehrlichiose Monocítica Equina: características biológicas de gastrópodes e trematódeos envolvidos na transmissão de Neorickettsia risticii”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Veterinária da UFPel.

Apesar do nome complexo para quem não é da área, a dissertação – que teve orientação do Prof. Dr. Luiz Filipe Damé Schuch – buscou coletar dados para elucidar o complexo ciclo biológico do agente visando minimizar o seu impacto na criação de cavalos no Rio Grande do Sul. Os estudos ainda não cessaram. A pesquisa continua no projeto de Doutorado, com o objetivo de desenvolver uma vacina para os cavalos da nossa região.

O inimigo invisível
Bastante comum em períodos quentes e chuvosos, especialmente em áreas alagadas, é frequentemente associada a outras enfermidades ou até mesmo a situações de estresse, conforme contou Juliana Teixeira em entrevista ao programa ABCCC – Crioulo em Pauta, na RádioSul.Net. “É muito confundida com verminoses, com troca de alimentação, que podem causar os mesmos sintomas”, tais como os já mencionados churrio e febre, entre outros.

O cavalo é considerado hospedeiro acidental, cuja contaminação ocorre durante o pastoreio ao ingerir caramujos, insetos aquáticos, água e vegetação contaminadas pelo parasita albergando a bactéria. A doença pode ser letal e, segundo pesquisas recentes, é apontada como responsável por cerca de 25% das mortes de equinos. “Então, por isso, a recomendação é sempre que os veterinários responsáveis e o pessoal do manejo estejam muito atentos a esse tipo de sintomas”, alertou a pesquisadora.

Depois de detectada a doença pelo Médico Veterinário responsável, o tratamento é feito com antibioticoterapia e fluidoterapia de suporte. De acordo com Juliana Teixeira, o que falta hoje é o diagnóstico precoce.

O estudo
Em uma propriedade rural em Arroio Grande/RS, no extremo sul do estado, Juliana colocou em prática o seu trabalho. Os objetivos do estudo foram investigar as espécies de gastrópodes do gênero Heleobia, primeiro hospedeiro intermediário da N. risitcii, em área endêmica à EME, além de estimar a taxa de contaminação parasitária e o efeito da salinidade na sobrevivência dos moluscos da espécie Heleobia piscium, bem como sua reprodução e frequência de emissão de cercárias.

A dissertação de mestrado está disponível online no Repositório Institucional da UFPel – clique aqui para acessá-la.

Em busca de mais no Doutorado
Com o trabalho em andamento, com foco na coleta de dados, Juliana Teixeira busca resultados mais robustos: a vacina. São estudados casos em cidades como Arroio Grande, Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, no interior gaúcho. “Como uma primeira etapa do projeto de Doutorado também pela UFPel, pretendo com o apoio da ABCCC realizar um plano de mobilização de criadores e veterinários de Cavalos Crioulos, que consiste em aplicar um questionário para delimitar as principais áreas de ocorrência da EME no Rio Grande do Sul”, projetou a pesquisadora.

Segundo ela, a partir desses resultados, “o número de casos e propriedades acometidas será estimado, além do estabelecimento de relações entre as características ambientais dos locais com maiores registros de ocorrência da enfermidade, permitindo detalhada análise geográfica, e comprovando desta forma a importância do desenvolvimento da vacina no Brasil com cepas locais, buscando futuras parcerias com Universidades e Centros de Pesquisas americanos e canadenses”, finalizou.

Se estiver interessado em colaborar e em saber mais, basta enviar um e-mail para jugarsilva@gmail.com.

Fonte: ABCCC

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