Dólar fecha a R$ 5 pela 1ª vez e com maior alta diária desde 2017
Nesta terça, além do foco seguir nos desdobramentos do coronavírus, o mercado vai repercutir medidas do governo federal para frear a crise
O dólar comercial fechou em forte alta de 4,55% no mercado à vista, cotado a R$ 5,048 para venda, na maior alta percentual desde 18 de maio de 2017 e no maior valor da história com a moeda encerrando acima de R$ 5,00 pela primeira vez na história. O pânico voltou a tomar conta do mercado após o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) cortar, inesperadamente, a taxa de juros para a faixa entre 0% e 0,25%.
“A nova onda de pessimismo derrubou os mercados, com suspensão dos negócios [circuit breakers] nas bolsas de Nova York e aqui, além de perdas expressivas na Europa e reflexos significativos nas moedas e países emergentes e nos juros futuros”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes, sobre mais uma sessão negativa e de “pânico” para ativos globais.
Na reta final dos negócios, a moeda norte-americana acelerou os ganhos renovando a máxima histórica intraday a R$ 5,0690 (+5,%), exibindo forte volatilidade ao longo do pregão com oscilação de quase R$ 0,19 na sessão. “Ao jogar dinheiro na mesa, gera mais volatilidade”, diz o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, sobre a injeção de liquidez promovida pelos principais bancos centrais nos últimos dias.
À véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), rumores de que o Banco Central (BC) poderá acompanhar a magnitude de corte do Fed e seguir com o afrouxamento monetário em 1,0 ponto percentual (pp) e no qual poderia anunciar ainda hoje, levou investidores à proteção na reta final dos negócios. “Poderia fazer o anúncio hoje, mas cremos que seria muito ousado para nossa tradição”, comenta a equipe econômica do banco Fator.
Os analistas do banco acrescentam que a cotação do dólar, nas últimas semanas, não guarda relação com “diferencial de juros”, apenas com o “risco global” e as oscilações entre as moedas fortes. “Assim, o efeito desse preço deve ser zero na decisão do Copom sobre a Selic”, avaliam.
Para Perfeito, a volatilidade da moeda estrangeira ganha mais peso nesta semana, antes da decisão de política monetária. “Se o BC decide, novamente, por um corte de juros, continuará sustentando a menor atratividade do real. Taxa de juros não é remédio. Aqui, é preciso entender que as medidas para a economia vão além disso”, diz.
Nesta terça, além do foco seguir nos desdobramentos do coronavírus, o mercado aguarda o anúncio de medidas econômicas prometidas pela equipe do governo federal ainda hoje, atentos se o Banco Central poderá anunciar intervenções no câmbio após a moeda fechar em patamar inédito. Na agenda de indicadores, tem o resultado da produção industrial e das vendas no varejo nos Estados Unidos em fevereiro.
Fonte: Agência Safras