Cultivo da noz-pecã se expande e ganha espaço no Rio Grande do Sul
No ano passado, a produção de nozes-pecã brasileira registrou 3,5 mil toneladas e elevou o patamar do Brasil em relação ao cultivo do fruto mundialmente. Os números, auditados pela Associação Brasileira de Nozes, Castanhas e Frutas Secas (ABNC) e revisados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pelotas, colocaram o Brasil como o quarto maior produtor do mundo, mas também revelam a longa distância existente entre a safra nacional e os grandes produtores mundiais. E o Rio Grande do Sul lidera no País.
Apresentado no Congresso do Conselho Internacional de Nozes, na Flórida, em 2019, o novo mapa mundial da produção de noz-pecã formalizou a ascensão brasileira na produção do fruto. No pódio da produção mundial, o México ocupa o primeiro lugar, com uma produção de 145,5 mil toneladas, seguido dos Estados Unidos, com 126,5 mil toneladas; e da África do Sul, com 18,2 toneladas. Para o diretor de Estatísticas da ABNC Edson Ortiz, mesmo com a distância para os primeiros colocados, os resultados brasileiros apontam para a expansão do setor nos últimos anos. “Acreditamos em um aumento de cerca de mil hectares por ano, principalmente pela remuneração que a atividade oferece, mas também pela possibilidade de diversificação do negócio agrícola.”
Originária do sul dos Estados Unidos e do norte do México, a noz-pecã foi introduzida no Brasil em 1870, mas começou a ser explorada economicamente apenas 100 anos depois. No Rio Grande do Sul, maior produtor do País de nogueiras-pecã, o cultivo do fruto já tem mais de 50 anos de história. Devido ao clima e ao solo propícios para a produção, o cultivo se espalha por grande parte do Estado. A árvore é encontrada em 30% do território gaúcho, com uma produção em 148 municípios, segundo informe técnico da Embrapa.
Além das condições climáticas e geológicas positivas para o cultivo, o pesquisador da Embrapa Clima Temperado Carlos Martins aponta para o pioneirismo gaúcho no trabalho com a nogueira-pecã e a tradição do Estado na produção de frutíferas. Para Martins, a ascensão do fruto no Rio Grande do Sul – e, consequentemente, no Brasil – explica-se através do fortalecimento da cadeia da noz-pecã: “Somado às características locais, o desenvolvimento na produção de mudas, dos próprios viveiros e das indústrias de processamento, assim como a assistência técnica para implantação e condução dos pomares explicam a grande produção gaúcha”.
Destaque na produção de nogueiras-pecã, Cachoeira do Sul, na região central do Estado, é um dos principais responsáveis pelo novo posto brasileiro no ranking mundial. Dos 5 mil hectares dedicados à noz no Rio Grande do Sul, 4 mil estão em Cachoeira do Sul. Também fica ali o maior nogueiral da América do Sul.
Já no Vale do Taquari, outro município se destaca no cultivo do fruto em solo gaúcho. Mesmo com um volume de produção menor do que Cachoeira do Sul, a cidade de Anta Gorda retém grande número de trabalhadores na cultura, principalmente em pequenas propriedades de agricultura familiar. Em 2018, o município recebeu a primeira edição do Simpósio Sul-Americano da Noz-Pecã. Já em 2019, foi a vez de Cachoeira do Sul sediar o II Simpósio, com representantes da Argentina, do Uruguai, do Chile e dos dois maiores produtores mundiais do fruto: Estados Unidos e México.
Noz-pecã exige investimento de médio a longo prazo
Mesmo com a tradição no cultivo da nogueira-pecã, foi a partir de 2012 que o cenário começou a mudar no Rio Grande do Sul. “Desde então, o crescimento na produção se acentuou e os agentes do setor passaram a demandar um programa do governo para coordenar as ações da cadeia produtiva da noz-pecã”, conta o coordenador-geral das Câmaras Setoriais do Rio Grande do Sul, Paulo Lipp.
Lançado em 2017, o Programa Estadual de Desenvolvimento da Pecanicultura (Pró-Pecã RS), visou consolidar a cultura no Estado e impulsionar o desenvolvimento do fruto como geração de renda dos agricultores e das agroindústrias gaúchas.
O programa envolve a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, empresas como Divinut, Pecanita e Agroindustrial Pitol, e entidades de pesquisa como Emater, Embrapa Clima Temperado e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Junto com o programa, foi instalada a Câmara Setorial da Noz-Pecã com o objetivo de promover o fruto no Estado – tanto na questão de visibilidade para difundir a noz-pecã e suas propriedades para a população quanto no posicionamento mercadológico do fruto em comparação a culturas semelhantes, caso da noz-chilena, da castanha-do-Brasil e das amêndoas.
Rica em nutrientes, vitaminas e antioxidantes, a noz-pecã é fonte de minerais importantes para o funcionamento do organismo, como cálcio, ferro e potássio. Ainda, o fruto é rico em “gorduras boas”, além de não conter sódio, sendo positivo para o equilíbrio de gordura no corpo e reduzindo os níveis de colesterol.
Além de suas propriedades nutricionais, a noz-pecã também atrai produtores como um investimento rentável a médio e longo prazo. A nogueira-pecã começa a dar seus primeiros frutos entre o quinto e o sexto ano de plantio e, a partir do sétimo ano, apresenta uma produção de maior expressão. “É uma cultura mais demorada, por ser uma árvore de grande porte e necessitar de mais tempo para a sua formação. Ainda assim, é um bom investimento, com retorno assegurado, uma vez que necessitamos importar esse tipo de fruto para abastecer o mercado”, explica o pesquisador da Embrapa Clima Temperado.
A lacuna existente no mercado brasileiro quanto à noz-pecã fortalece as oportunidades de crescimento do setor. Segundo o informe técnico da Embrapa, entre 2005 e 2016, as importações do fruto oscilaram em torno de 3 mil a 5 mil toneladas, enquanto que as exportações não ultrapassaram mil toneladas no mesmo período. Conforme Ortiz, que também dirige a empresa Divinut, em alguns casos, a lucratividade com a noz-pecã pode superar os R$ 50 mil por hectare ao ano.
Fonte: Jornal do Comércio