Safra de arroz faz cotação cair, mas preço segue atrativo ao produtor

Arrozeiros que ainda têm grão estocado têm poucos dias para vender o produto pelos melhores preços. Com o início da colheita em algumas regiões do Estado, assim como no Paraguai e em Santa Catarina, a retomada da oferta já começa a fazer as cotações recuarem, após atingirem o maior patamar da história, superando a barreira dos R$ 130,00 no preço médio da saca de 50 quilos.

A redução de área plantada nos últimos anos, o aumento das exportações em 2023, a incidência de um El Niño de alta intensidade e o menor volume estocado nos últimos 15 anos contribuíram para o salto nos valores negociados nos últimos meses. Mas a tendência, a partir de agora, é de reacomodação e queda a partir de março, projeta o analista da cultura da Safras & Mercado, Evandro da Silva.

“Os valores praticados no ano passado animaram os produtores, que ampliaram a área semeada nesta safra. Mas o mês de fevereiro será crucial, por conta do risco de ocorrência de brusone, e já há relatos pontuais da doença. Além disso, em anos de El Niño intenso costumam ocorrer perdas entre 15% e 17% na produção e produtividade. As primeiras colheitas no Paraguai, em Santa Catarina e no Paraná já mostram quebras entre 10% e 15%”.

O momento é de cautela. Em meados de março, projeta o analista, os valores da saca deverão girar entre R$ 105,00 e R$ 110,00, ainda oferecendo bom espaço de ganho aos produtores, cujos custos totais de produção estimados pelo Cepea/Irga para a safra ficaram em R$ 98,00 a saca. Como muitos produtores têm custos variáveis, inferiores a esse valor, a margem de lucro pode chegar a 10% ou até 15%, de acordo com Evandro Silva.

Neste ano, a produção do cereal em solo gaúcho deve rondar a casa das 7,3 milhões de toneladas. Desse total, 1,6 milhão de toneladas deverão ser colocadas no exterior. O desafio é recuperar mercados conquistados em 2023, como o mexicano, que agora volta a negociar com os Estados Unidos, principal rival brasileiro na exportação de arroz.

De acordo com Silva, os americanos fizeram uma importante leitura do mercado na última safra e, percebendo a falta de produto em oferta, ampliaram a produção. A safra americana, estimada entre 9 milhões e 10 milhões de toneladas, encontrou campo aberto para exportar e capturou grandes mercados, avalia o analista da Safras.

“Os Estados Unidos têm uma vantagem geográfica e logística entre suas lavouras e o México. Para que possamos competir, é preciso que nosso arroz esteja pelo menos US$ 5 mais atrativo por saca. E, atualmente, a relação está invertida. Enquanto os americanos vendem a US% 22,50, nosso preço está em US$ 26,00”.

Mas o jogo pode estar virando. Com a chegada da entressafra americana, os preços do produto tendem a aumentar justamente na entrada da safra brasileira. Com a inversão nas cotações, o Brasil pode recuperar mercados.

Os estoques baixos, entretanto, indicam que o cereal pode ter nova alta de preços no segundo semestre do ano no Brasil, onde a produção total é estimada em 10,5 milhões de toneladas. “Ainda que tenhamos uma importação de até 1,5 milhão de toneladas do Paraguai, da Argentina e do Uruguai, esse volume não seria suficiente para segurar os preços por aqui. E podem ser ainda maiores. Por isso, indústrias e varejo já estão definindo estratégias para comprar mais arroz nos primeiros meses de 2024”.

O cenário animador sob a ótica do produtor abre flanco, ainda de acordo com o analista da Safras, para aumento na área plantada na safra 2024/2025. “Não podemos esquecer que o arroz está valendo mais que a soja no momento. E isso pode estimular o produtor até que, em 2025, cheguemos ao equilíbrio entre oferta e demanda”.

Federarroz reforça importância de manutenção da área plantada

A perspectiva, porém, distoa da estratégia alinhada pela Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), que vem batendo na tecla da manutenção da área semeada nos parâmetros atuais. O enxugamento das lavouras, adotado justamente para que, com menor oferta, o produto alcançasse valores compatíveis com os custos, não deve sofrer grandes alterações.

Para o presidente da entidade, Alexandre Velho, manter o atual sistema de produção é fundamental. Com isso, afirma o dirigente, é possível preservar rentabilidade adequada aos custos de produção e evitar excesso de oferta do produto antes da abertura de novos mercados.

“Vejo um mercado firme para 2024. Houve um enxugamento do mercado internacional. Nós deveremos fechar o ano comercial com a exportação de 1,8 milhão de toneladas de arroz. Os estoques de passagem estão menores. O mercado interno está em alta, e a expectativa é de oferta menor do Mercosul. Com isso, o preço médio da saca deve ficar em torno de R$ 110,00, o que torna a cultura atrativa frente aos custos elevados”, analisa Velho.

O líder arrozeiro reafirma a importância da observação de diretrizes valiosas para o setor. A continuidade das exportações é considerada chave para servir como referência ao mercado interno. A área plantada precisa ser preservada nos patamares atuais, pois estudo da Federarroz aponta que cada ponto percentual de área aumentado representa queda de 1,7% no preço do produto, por conta do volume de oferta.

Outros aspectos importantes são o cultivo de soja, pastagens e pecuária em áreas consorciadas, assegurando níveis mais elevados de produtividade do arroz no ano seguinte. E, por fim, a profissionalização da propriedade, com gestão administrativa, de pessoas e de custos.

“Já produzimos em 1,2 milhão de hectares. Chegamos a 840 mil na safra 2022/2023. E nesta ocupamos 903 mil hectares. Aliado a esse ajuste, a Federarroz fez um esforço intenso, que acabou recompensado, para a ampliação das exportações. É esse caminho que precisamos manter. Temos hoje uma atividade atrativa e que não coloca em risco o abastecimento interno”, conclui Alexandre Velho.

Fonte: Jornal do Comércio

Mostrar mais
Botão Voltar ao topo