RS ainda não tem dimensão das perdas no arroz

Ainda vai demorar para o Rio Grande do Sul dimensionar o tamanho das perdas na lavoura de arroz em função das chuvas que e das cheias dos cursos d’água nos últimos dias. Produtores e técnicos sequer conseguem acessar as áreas ainda não colhidas, porque boa parte está submersa.

Nesta sexta-feira, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) suspendeu os levantamentos dos dados sobre o avanço da safra devido aos fatores climáticos e seus desdobramentos que resultaram na interrupção da colheita. A autarquia só deverá retomar o acompanhamento da evolução da cultura quando a colheita for retomada.

Restam 18% das lavouras a serem colhidas, o que corresponde a cerca de 150 mil hectares. Desses, 45 mil hectares estão na Região Central, que é a mais atrasada e também a mais afetada pelas águas. Ali, apenas 62% do total de 118 mil hectares foram colhidos até agora, de acordo com o Irga.

“Considerando que a chuva ainda não cessou, o difícil acesso a grande parte das áreas afetadas e a falta de previsão do retorno da normalidade dos níveis de água, não é possível informar as perdas que ocorrerão nas lavouras de arroz irrigado do RS neste momento”, diz o Instituto, em nota.

As cheias também afetam duramente a pecuária leiteira do Estado. Segundo a Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), propriedades produtoras não conseguem entregar produto aos caminhões de coleta e já faltam energia e alimento para animais em alguns locais. A queda de barreiras em estradas e vias vicinais e os alagamentos estão isolando propriedades rurais pelo interior.

Quem afirma é o presidente da entidade, Marcos Tang, que também comanda a Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac) e a Comissão de Leite e Derivados da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul). De acordo com ele, a situação mais grave é dos produtores que se localizam no Vale do Taquari, Vale do Rio Pardo e Serra.

“Vale do Taquari e Rio Pardo, porque estão literalmente inundados. Animais, pastagens, estabelecimentos dentro da água e, para piorar sem energia elétrica, geradores que não funcionam. Ou, os que conseguem ainda fazer o gerador funcionar estão ficando sem óleo”.

O dirigente conta que há propriedades com vacas de altíssima lactação, com produção média diária superior a 40 litros de leite, que estão ordenhando os animais uma vez só ao dia, em vez das três habituais. A medida vem sendo adotada para poupar óleo nos geradores, pois não têm como adquirir mais.

“Ração para as vacas, a maioria já não tem mais ou reduziu, há um ou dois dias, pela metade. Se a vaca come seis quilos de ração, está comendo três. E o produtor tenta complementar com silagem. E dane-se média de produção! Isso eles nem estão pensando. Estão pensando em manter o animal bem”.

Com as áreas alagadas e isoladas, devido à queda de barreiras, na Serra, o abastecimento à indústria também foi atingido. E há empresas na região também sem embalagens para o envase do pouco produto que chega.

“Afora isso, pastagens se perderam. Sementes de azevém, caríssimas, plantadas após a colheita da silagem, estão lá, lavadas. Os produtores, numa situação em que representa nada mais e nada menos que um custo de produção que, de segunda-feira para hoje (quinta-feira, 2) dobrou. O custo de produção no litro de leite dobrou”, alerta.

Tang recorda que a situação do setor já era crítica. Foram três anos de estiagem intercalada, um ano de enchente e estiagem. E agora, enchente. “É catástrofe, é uma catástrofe! Entendemos perfeitamente que as vidas humanas devem estar em primeiro lugar e que se resgate a todos que estão em perigo. Isso é o principal. Mas a situação do produtor, se era feia, agora não tem mais adjetivo para descrever”, encerra.

Fonte: Jornal do Comércio

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