Languiru pode ir à Justiça contra gestão anterior

Uma assembleia-geral extraordinária deve ser convocada para o mês de junho pela diretoria da Cooperativa Languiru, com sede em Teutônia. Na pauta estará a apresentação do parecer contábil da auditoria investigativa contratada para entender como o negócio chegou à necessidade de enfrentar uma liquidação extrajudicial para tentar recompor dívidas e evitar o encerramento das atividades.

A Languiru faturou R$ 1,1 bilhão em 2023, 56% menor que o registrado no balanço do ano anterior.
“A contratação da auditoria foi um investimento necessário para que possamos definir um plano de pagamento aos credores. A dívida da Languiru gira em torno de R$ 1,1 bilhão. E, em 2023, fechamos com prejuízo de R$ 469 milhões, sendo que somente em juros bancários são R$ 168 milhões, o que representa R$ 462 mil por dia”, explica o presidente-liquidante, Paulo Birck, eleito há quase um ano.

O estudo, que deverá ser concluído em meados de maio, está mergulhado nos últimos cinco anos da gestão anterior, que renunciou em abril de 2023. E o dirigente não descarta ir à Justiça contra seus antecessores. A auditoria é a mesma que atuou para apurar a situação da Cooperativa Piá, de Nova Petrópolis – que vive situação similar -, e que deu base a uma investigação policial, com direito a buscas e apreensão de documentos em posse de pessoas ligadas à gestão anterior.

Boa parte do quadro financeiro da cooperativa recai justamente sobre o ano de 2022, quando foram buscados R$ 260 milhões junto a Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (Fdic), com custo financeiro superior ao cobrado por agentes bancários. Os balanços anteriores também estão em análise, a partir da identificação da necessidade de ajustar números validados pela auditoria que atendia a cooperativa no passado.

LANGUIRU/DIVULGAÇÃO/JC

Presidente da Languiru, Paulo Birck, quer apoio de associados e credores para reerguer cooperativa

Foi preciso fazer um ajuste de R$ 122 milhões que deveriam ter sido lançados em 2022 e que nos dão sinais de terem sido maquiados. Nos perguntamos como a auditoria anterior aceitou? Estamos ajustando inclusive a avaliação de nossos ativos biológicos, pois cerca de 2,5 mil matrizes suínas que, no mercado, valem R$ 4 mil, foram lançadas avaliadas em R$ 28 mil, por exemplo. Outros R$ 8 milhões foram indicados como produtos em estoque, mas não estavam lá. E há mais”, acrescenta Birck.

Com um resultado operacional R$ 319 milhões negativo no ano passado, a cooperativa projeta faturar em torno de R$ 500 milhões em 2024, menos da metade da receita anterior. E ainda terá de enxugar mais suas operações.

“Nosso faturamento vai cair mais. Não temos dinheiro para alocar frangos e suínos, segmento que, aliás, descontinuamos. Contávamos com 3,4 mil colaboradores em 2022, e tivemos de reduzir para 825 ao final do ano passado”, analisa o dirigente.

A perspectiva de faturamento estará apoiada, fortemente, na prestação de serviços. Em breve, o Frigorífico de Aves do município de Westfália, deverá ampliar para 150 mil o volume de abates diários. Mas, desse total, apenas 30 mil frangos serão próprios. Os outros 120 mil são em serviços à JBS, que firmou contrato de parceria para processamento de aves naquela planta.

As duas empresas também estão em vias de concretizar a operação de venda do Frigorífico de Suínos em Poço das Antas à multinacional, por meio da subsidiária Seara. O acordo renderá à Languiru R$ 80 milhões, dos quais metade será abatida do financiamento contraído por meio do Fundopem junto ao Badesul. A JBS obteve, a partir da aprovação de projeto na Assembleia Legislativa, aval para utilização de R$ 50 milhões em créditos de ICMS no negócio. A empresa pretende, ainda, investir outros R$ 120 milhões em cinco anos para dobrar a capacidade de abates, atualmente em 1,7 mil animais por dia.

As parcerias fortes, com a francesa Lactalis no segmento leite e a JBS em frangos e suínos, além de outras que possam surgir, estão na base do projeto de recuperação. Mas o trabalho depende, também, do engajamento dos associados. Birck conta que na assembleia realizada nesta semana, quando foram apresentados os números de 2023, a conversa foi franca. E acredita que o fornecedor entendeu o cenário. Se sair, a Languiru fecha, e o integrado levará para casa também sua parcela da dívida.

O dirigente teria ouvido de associados que já haviam levado suas produções para outras empresas que iriam retornar. O engajamento é a receita para ajudar a cooperativa e a si mesmo, afirma o presidente.
Acreditamos na reestruturação. Mas nosso processo de retomada do crescimento será lento. Claro que precisaremos ampliar o prazo de pagamento das dívidas junto aos credores. Um ou dois anos não bastarão. Então, Precisaremos da sensibilização de todos os envolvidos. Há uma questão social envolvida. Sem compreensão, a cooperativa fecha. Daremos a volta se o associado e o credor abraçarem o projeto conosco”.

Fonte: Jornal do Comércio

Mostrar mais
Botão Voltar ao topo