Dólar alto e quebra na safra de soja indicam preços atrativos em 2024
De olho na próxima produção americana de soja, cuja tendência é de safra cheia, as cotações da commodity na Bolsa de Chicago vêm recuando nas últimas semanas, após um começo de maio agitado, por conta de especulações sobre o volume do grão pelo mundo. Mas, no Brasil, aconteceu o oposto, devido à alta do dólar, o que tem ajudado os preços ao produtor, e a quebra de safra.
Com a redução na produção brasileira e gaúcha, por conta de questões climáticas, a tendência é a cultura sustentar movimento de alta nos preços internos, projeta o analista de soja Luiz Fernando Roque, da Safras & Mercado. A empresa estimava, em abril, uma produção nacional de 151,3 milhões de toneladas, em 46 milhões de hectares semeados. E, ao final da colheita, foram 149,7 milhões de toneladas. No Rio Grande do Sul, entretanto, o corte foi maior, chegando a 2,8 milhões de toneladas.
“De um potencial e de produção de 22,8 milhões (de toneladas), que era a nossa estimativa inicial, com a produtividade recorde também, a gente cortou para 20 milhões, nos 6,7 milhões de hectares plantados. E a produtividade caiu para 3 mil quilos por hectare”, aponta.
Segundo o analista da Safras, com os problemas no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso e no Centro-Norte do País, o Brasil deixou de colher pelo menos 15 milhões de toneladas. E a safra que era para ser acima de 165 milhões de toneladas, ficou abaixo de 150 milhões.
Com menor produção, os estoques serão reduzidos, e devem cair as exportações. A enxurrada que atingiu o Rio Grande do Sul no final de abril e se estendeu ao longo de maio foi um componente a mais na já prejudicada safra da commodity, fazendo diminuir a oferta na temporada.
“A gente está estimando uma exportação de 94,8 milhões de toneladas, contra 101,2 milhões no ano passado. E estoques de 3,2 milhões de toneladas. Contra 4,6 milhões no período anterior. E estamos importando mais soja”.
O aumento nas compras internacionais de soja deve chegar a 425%, estima Roque. As 180 mil toneladas importadas em 2023 poderão chegar, neste ano, a 950 mil toneladas.
É nessa combinação que o analista ancora sua projeção de preços atrativos até o fim de 2024. Segundo ele, a produção americana vai pesar. Mas, independente disso, o cenário deve ser positivo no segundo semestre. Se os Estados Unidos tiverem uma safra cheia, o cenário será “menos positivo”. Se for uma safra com problemas, será um cenário “mais positivo”, pondera.
“Exatamente porque tem essa questão interna que deve pesar, que é a questão da menor oferta. Os estoque são apertados, isso vai refletir em prêmio para escoamento de produto (PEP). E ainda tem um dólar valorizado, um câmbio desvalorizado, em real”.
Nesta terça-feira, a saca de 60 quilos estava cotada a R$ 141,00 em Rio Grande. E R$ 133,00 em Passo Fundo. Em 1º de março, a saca era comercializada a R$ 112,00 na cidade do norte gaúcho.
“Então a gente tem um ambiente positivo para ver se vai subir um pouco, de novo. Difícil dizer se ela vai subir R$ 10,00 ou R$ 20,00. Acho muito difícil subir R$ 20,00 ou R$ 30,00. O produtor não pode esperar por isso. Se subir, que bom. Mas ele não pode esperar por esse patamar para negociar. Porque lá na frente tem uma nova safra que vai ser plantada, com tendência de aumento de área de novo no Brasil”, diz Roque.
Com os preços em alta, e a margem de lucro do produtor melhorando, tudo converge para uma expansão das lavouras. Não que os lavoureiros estejam forrando os bolsos, mas a cultura vem mostrando rentabilidade atraente.
“O produtor está só recuperando. Em R$ 115 a R$ 118 a saca, ele estava no zero a zero ou até negativo, um pouco. Agora está voltando a ter alguma rentabilidade”, conclui.
Fonte: ABCCC