Cidadania Italiana
Por: Fábio Verardi
Recentes decisões de tribunais italianos abriram precedentes para que cada vez mais, um grande número de descendentes busque o reconhecimento de nacionalidade na Itália, a chamada cidadania italiana. Um verdadeiro orgulho para descendentes de italianos que num passado não muito distante vieram ao Brasil para buscar um futuro melhor, em épocas em que a Europa vivia sob o domínio do medo. Os processos para cidadania já existem há muitas décadas, porém, nos últimos anos, nunca houve tanta procura para se tornar um cidadão italiano e ter em mãos o cobiçado passaporte vermelho. De acordo com recente matéria publicada no jornal Correio Brasiliense, os pedidos de brasileiros para cidadania estão sobrecarregando os sistemas de prefeituras e tribunais na Itália, e, numa pesquisa realizada, a maioria dos requerentes afirmaram que não estão buscando o reconhecimento para si, mas sim, para oportunizar aos filhos um futuro melhor.
A causa é nobre, querer o melhor para nossos descendentes é uma missão inquestionável, mas, que revela, por consequência, uma descrença no futuro do Brasil, afinal, se o futuro é melhor em outro lugar, aqui não será. Nesse raciocínio, outra frase quase automática é “não quero que meus filhos sofram aquilo que nós sofremos”. É um senso de proteção, oportunidade e liberdade de escolha, novamente está tudo certo com isso. O problema começa quando acreditamos que nossas batalhas da vida são sinônimo de sofrimento, quando deveriam ser motivo de orgulho e fortalecimento do nosso ser. “O trabalho dignifica o homem”, é um velho ditado de autoria duvidosa que, erroneamente, é atribuído por muitos como um versículo bíblico, e, busca justificar o esforço de nossos intentos como algo de que devamos nos orgulhar. Ocorre que, para se obter a dignidade naquilo em que se trabalha é necessária a justa recompensa, o que não representa a realidade da grande maioria da população brasileira, que é obrigada a cada fim de mês a rifar um mísero salário para pagar as contas da sobrevivência, nesses casos, a dignidade do trabalho esbarra em sua injusta recompensa.
Existe assim, um claro duelo de realidades, de um lado uns buscam tornar os filhos cidadãos do mundo e outros lutam para que eles possam, ao menos, fazer uma refeição por dia. Esse raciocínio dividido em dois polos não pode gerar um sentimento de culpa para tornar vilões aqueles que venceram na vida, nem tampouco, criar uma falsa realidade para aqueles que estão sofrendo e não vislumbram nenhuma melhora no horizonte. O fato é que esses dois mundos terão participação essencial naquilo que esperamos como o futuro do Brasil, e, é nossa responsabilidade, nosso compromisso e deve ser nossa luta permanente o acesso a uma educação de qualidade para formar cidadãos para um presente de oportunidades. O educador Paulo Freire ensinava de forma curta e objetiva que – “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Assim, precisamos desejar que muitos estudem na Itália, Alemanha, Inglaterra e se tornem cidadãos do mundo, formando um aprendizado que orgulhe seus pais, mas, que também, ultrapasse as fronteiras do sofrimento e inaugurem aqui no Brasil a esperança de um presente digno para todos, e, quem sabe, um futuro melhor.