A Morte de Apollo

Por: Fábio Verardi

No último dia 2 de fevereiro, morreu aos 76 anos o ator americano Carl Weathers, um nome que certamente dez entre dez pessoas não saberá de quem se trata, até o identificarmos como o intérprete do lutador de boxe Apollo Creed dos filmes de Rocky Balboa. Um personagem que foi determinante para justificar todas as lutas de Rocky, e, por consequência, para todo o sucesso daquela franquia de filmes. Apollo era um campeão de boxe que oportunizou ao então desconhecido Rocky a chance de enfrentá-lo, e assim, fez com que nos apaixonássemos por todos os dilemas que fizeram de Rocky um lutador que precisava apanhar muito da vida para poder seguir em frente. Foi lutando que Rocky aprendeu sobre o valor do carisma, a importância do medo e principalmente sobre resolver assuntos “que estão guardados no porão”. Nesses filmes de boxe, o diretor Sylvester Stallone explorou dilemas psicológicos muito fortes, sempre buscando transmitir uma lição de superação para se enfrentar a vida como ela é. Os dilemas de Rocky fizeram de Stallone um dos atores mais famosos da história do cinema, mas, é preciso reconhecer que isso só foi possível pelo tamanho dos dilemas que Apollo também enfrentava.

A dualidade do universo está presente em tudo, dia e noite, frio e calor, bem e mal, representam forças que coexistem para o funcionamento do próprio universo, não há uma forma racional para se discordar disso, e nosso aprendizado nos ensina que essas forças sempre serão complementares. Apollo era campeão mundial dos pesos pesados, mas não conseguia ganhar o carisma das pessoas, e assim, tentando mostrar humildade, convidou Rocky, um lutador simples, para dividir com ele o ringue. O que seria uma luta fácil se transformou num pesadelo em que os lutadores se castigaram por 12 rounds, Rocky perdeu a luta por pontos, mas foi declarado pelo povo como o grande campeão, porque já detinha em si o carisma. Um sentimento que produziu a ira de Apollo a ponto de querer uma revanche para acabar de vez com o assunto. Em resumo, Apollo perdeu as duas vezes.

Certamente Apollo sacrificou muitas coisas para se tornar um campeão e com isso a vida fez o trabalho de “endurecê-lo” a ponto de não conseguir o carinho das pessoas que deveriam lhe aclamar, ou, talvez ele sempre tenha sido daquele jeito mesmo e assim tenha simulado um sentimento, fabricando uma humildade que ele nunca teve. E, foi nessa busca artificial pela aceitação das pessoas, que ele acabou aprendendo que isso não funciona quando lidamos com sentimentos. Por outro lado, Rocky, mesmo sendo um lutador fracassado e sem esperanças, conseguia nutrir a simpatia de todos, porque ele sabia se colocar no lugar das pessoas. O professor Leandro Karnal nos ensina que a empatia não garante que possamos sentir aquilo que o outro sente, mas é um desafio que pressupõe vontade de tentar entender o outro e aceitar valores que pertençam ao outro. Empatia dá trabalho, requer paciência para se conectar a questões fora do nosso “eu”, e, depende muito mais de sabedoria e consciência do que propriamente de estudo. Ser mais letrado não garante empatia, mas precisamos aprender que ela é a chave não apenas para o bem do outro, e sim, para o nosso próprio bem.

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