União anuncia socorro de R$ 430 milhões para combater estiagem no RS
O governo federal vai liberar R$ 430 milhões para o enfrentamento da estiagem no Rio Grande do Sul. Deste valor, aproximadamente R$ 300 milhões é a proposta de crédito aos agricultores. O anúncio foi feito no início da noite desta quarta-feira (22) pelo ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira por meio de sua conta no Twitter.
Teixeira afirmou que há problema sério de alimentação de pessoas e animais na região e que a estiagem precisa ser tratada continuamente. Segundo ele, será concedido um crédito de R$ 6 mil para 40 mil agricultores da região. O dinheiro para o crédito, conforme pontua, está no orçamento do MDA ou é sobra do Plano Safra. Além disso, para a agricultura familiar, o ministro citou uma segunda parcela do chamado “crédito instalação”, de R$ 5,2 mil, para atender 10 mil famílias.
Teixeira chega ao Estado hoje, acompanhado pelos ministros do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias; e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta. No grupo também estarão o ex-deputado estadual Edgar Pretto, indicado à presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e o secretário-executivo do Ministério da Agricultura e Pecuária, Irajá Lacerda.
O grupo visitará áreas de assentamento em Hulha Negra, na região da Campanha, uma das mais afetadas pela seca. Durante a estada no RS, a comitiva ministerial deverá dar detalhes das medidas a serem adotadas em coletiva marcada para as 16h30min, em Bagé.
Embora sem conhecer com profundidade o plano do governo federal, o deputado estadual Elton Weber (PSB), que tem se envolvido diretamente na luta dos agricultores familiares, avaliou o anúncio como positivo.
“Vem na linha do que nós esperávamos. É um valor importante, mas será preciso verificar onde e como será usado. Se será suficiente, não sabemos, mas é um início”.
Já o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetag), Carlos Joel da Silva, reconheceu o esforço do governo, mas enquanto viajava para Hulha Negra disse que os recursos serão insuficientes.
“Todo o anúncio e importante para as famílias contempladas, mas estes recursos são insuficientes. Precisamos ver o governo atender toda a demanda pedida pela Fetag. Ações paliativas não vão resolver o problema. O problema da seca é bem mais grave, não se resolve com R$ 430 milhões.”
Na Campanha, os ministros verão açudes e pasto secos, solo rachado, lavouras perdidas e animais magros ou mortos. Um cenário arrasador que deve dar a dimensão do problema.
O Palácio Piratini confirmou que haverá uma comitiva do governo do Estado acompanhando o roteiro, mas não havia definido a nominata até o fechamento desta edição.
A Assembleia Legislativa estará representada pelo deputado Luiz Fernando Mainardi, líder da bancada do PT, além de outros parlamentares estaduais e federais do partido. O presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul, Paulo Salerno viajou já nesta quarta-feira a Bagé para acompanhar a agenda ministerial. Ele leva “a melhor das expectativas, porque a vinda dos ministros já representa o interesse em ver de perto a situação”. Salerno torce pelo acolhimento dos pleitos encaminhados pela entidade.
Às 13h, o grupo irá visitar dois lotes da reforma agrária no Assentamento Meia Água, na comunidade de Nossa Senhora de Fátima, em Hulha Negra. Em um deles, verão os impactos da estiagem na bacia leiteira, onde a família teve queda de 80% na produção, pois não conseguiu plantar pastagem e milho para silagem. No outro, a comitiva verificará uma lavoura que teve perda de 100% da produção de milho.
Nessas condições vivem 2.250 mil famílias, espalhadas por 58 assentamentos nos municípios de Aceguá, Candiota, Hulha Negra e Pedras Altas. A região é uma das mais afetadas nessa temporada de escassez hídrica.
“Na metade de fevereiro tivemos chuva por aqui. Em alguns pontos foram 40 milímetros. Em outros, a poucos quilômetros de distância, apenas cinco milímetros. Quem, como nós e muitos agricultores familiares, depende da produção caseira enfrenta enorme dificuldade”, conta Ildo Pereira, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que vive no Assentamento Meia Água.
O local, criado em 2001, abriga 83 famílias assentadas pela reforma agrária.
Pereira chegou à região com os pais ainda criança, em 1989, ano em que houve uma das piores secas da história na região. Mas segundo ele, neste verão a situação é ainda mais grave. Na área de 25 hectares em que vive, a família mantém um pequeno plantel de vacas leiteiras. Mas a produtividade dos ventres caiu cerca de 80% pela falta de água, de alimentos e do calor excessivo.
Famílias esperam pela divulgação oficial do benefício de R$ 6 mil
As comunidades esperam a liberação oficial de recursos financeiros na ordem de R$ 6 mil por família para compra de água e alimentos para consumo humano e animal, além de milho para suplementação de aves, suínos e bovinos, via Conab. Assentados e agricultores familiares também anseiam pela abertura de linhas de financiamento a juros baixos para que possam reinvestir nas propriedades e se reestruturar após quase meia década sendo castigados pelo clima.
O anúncio oficial das medidas pelos ministros deverá ocorrer a partir das 14h. Embora sem confirmação oficial, as ações deverão mesmo passar por assegurar o abastecimento de água para consumo humano e animal, além de crédito para os agricultores.
O martelo para o roteiro da viagem ministerial foi batido na sexta-feira passada (17), durante reunião virtual entre deputados das bancadas estadual e federal do PT com o ministro Paulo Teixeira. Na oportunidade, outros locais foram propostos, mas a sugestão da Campanha por Edegar Pretto acabou sendo a escolhida por ser uma das áreas mais atingidas no Estado, incluindo problemas decorrentes do avanço da mineração. A situação se agrava nos períodos de estiagem, reduzindo os reservatórios para o consumo humano e dos animais.
O roteiro
A comitiva sai de Brasília pela manhã, com destino à base aérea de Canoas, onde troca de aeronave e se desloca para Bagé
11h45min -chegada a Bagé
13h -visita à Comunidade Nossa Senhora de Fátima, em Assentamento de Hulha Negra
14h -anúncio das medidas do governo federal para enfrentamento da estiagem no RS
16h30min -entrevista coletiva à imprensa
17h30min – saída de Bagé para Canoas
19h30min – saída de Canoas para Brasília
Fonte: Jornal do Comércio