Setor que mais cresce no agro, avicultura teme aproximação de doença

Não é a toa que o setor avícola gaúcho e nacional está em polvorosa e mobilizado para evitar a entrada do vírus da influenza aviária no País. Desde quarta-feira, quando Uruguai e Argentina reportaram o registro de dois casos em aves silvestres, articulações e contatos foram estreitados com os órgãos governamentais estaduais e federais, em busca de respostas e garantias de que todos os esforços estão sendo empreendidos pelo Poder Público para proteger a cadeia que mais cresce no agronegócio.

Em 2022, o Brasil produziu cerca de 14,5 milhões de toneladas de carne de frango. As exportações garantiram a 3ª posição no ranking global de produção e a liderança nos embarques. Enquanto isso, o RS obteve um 24,8% sobre a receita com embarques de 2021. O Estado foi o 3º maior exportador, com 16,2% das vendas e obteve a terceira maior receita, com 15,8% do total.

A ocorrência de casos também no Peru, no Chile, na Bolívia e no Equador, por exemplo, inclusive em criatórios comerciais, afetou a atividade nesses países, a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos, na China e no Reino Unido, levando ao abate preventivo de dezenas de milhões de aves nos plantéis desses países. Conforme a coordenadora de Assuntos Estratégicos do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Anderlise Borsoi, o período migratório das aves está a pleno, e todas as rotas da América do Norte passam pelo Brasil. Um dos destinos é a Lagoa dos Patos, que, segundo o ministro Carlos Fávaro, tem sido monitorada regular e rigorosamente, bem como todas as formas de acesso ao território brasileiro.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação Gaúcha de Avicultores (Asgav) emitiram notas alinhadas, sinalizando segurança e confiança nos protocolos de proteção dos criatórios e ressaltando que o Brasil não tem nem nunca teve casos da doença registrados. A entidade nacional ABPA ressaltou que eventuais casos registrados em aves silvestres no Brasil não suspenderiam o comércio e exportações de produtos avícolas, conforme recomendações estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde Animal. Assim, procuram blindar o setor e sinalizar aos países importadores a sanidade dos produtos embarcados. Apesar disso, o presidente da Asgav, José Eduardo dos Santos, considerou que a aproximação da doença deve ser alvo de “alerta máximo”.

“A situação preocupa, pois a doença é grave e tem dizimado plantéis pelo mundo. Mas o Brasil adotou um protocolo de medidas específicas, com regras de biosseguridade. O serviço oficial é muito ativo, e também há um pacote de ações que precisa ser cumprido pelo setor privado. Não estamos de braços cruzados. Estamos prontos para dar uma resposta rápida e atender o produtor, em caso de ocorrência de casos. Mas é preciso ter atenção, pois o impacto não recairá somente sobre a avicultura. Outros segmentos ligados à ca deia também sofrerão prejuízos”, disse o dirigente.

As entidades mantêm contato direto com o Mapa e a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul (Seapi), monitorando o quadro junto às nações vizinhas.

Nesta quinta-feira, a Seapi informou, por meio de nota, que está mobilizada e monitorando atentamente as notificações de casos na América do Sul. Conforme o texto, no Brasil, assim como no Rio Grande do Sul, não houve detecção da doença até hoje. A pasta acrescenta que o Serviço Veterinário Oficial, que engloba representantes do Mapa e órgão estaduais, atua em atividades de vigilância e mitigação de riscos para comprovar a ausência de circulação viral através do atendimento e investigação de todas notificações recebidas em aves, seja na avicultura industrial como nas criações de subsistência e em aves silvestres de vida livre. O Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da Seapi está alinhado com as estratégias de vigilância em influenza aviária desde o início das ocorrências. Ações preventivas já foram reforçadas em áreas de maior risco desde a detecção do vírus em outros países da América do Sul.

Por outro lado, o Sindicato dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários no RS alerta para o alto risco de ocorrência de influenza aviária e aponta carência de pessoal para eventual situação de crise. A delegacia regional diz faltar auditores nas fronteiras e em todas as áreas de defesa agropecuária, o que causa prejuízo no monitoramento e vigilância ativa das áreas consideradas como risco para a entrada do vírus da Influenza Aviária, devido à presença de aves migratórias e criações de subsistência.

“A redução dos quadros nos últimos 20 anos, período que coincide com o fortalecimento do agronegócio brasileiro no mercado internacional, gira em torno de 40% no País. No Rio Grande do Sul, são 167 auditores, mas apenas a metade atua na inspeção. E no caso da atividade avícola, temos pouco pessoal em regiões-chave, como Passo Fundo e Caxias do Sul, onde há apenas um colega atuando”, diz a delegada sindical Soraya Marredo.

Ela observa que o Programa de Sanidade Avícola, conduzido pelo Mapa, abarca as Secretarias Estaduais, através das Inspetorias Veterinárias, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em parceria com a cadeia do setor, altamente profissionalizada e eficiente. Soraya destaca, porém, que o papel da fiscalização é fundamental para os resultados sanitários que levaram o RS e o Brasil à condição privilegiada de grande player no mercado internacional.

“As ações estão bem articuladas, mas a proximidade de casos às fronteiras de um país com dimensões continentais deixam um recado importante. Se surgirem casos, precisaremos ter pessoal treinado e qualificado para enfrentar o problema. A circulação viral é rápida, e exige resposta ágil. A recomposição do quadro de defesa é necessária. O último concurso para auditores ocorreu em 2017. Somos 4 mil no País, entre ativos e inativos. E temos colegas se aposentando a cada mês”, lamenta a auditora.

NÚMEROS DO SETOR em 2022

Brasil

Produção – 14,5 milhões de toneladas de carne de frango

Exportações – 4,8 milhões de toneladas

Faturamento – US$ 9,7 bilhões

Rio Grande do Sul

Exportações – 755,6 mil toneladas (alta de 7% sobre 2021)

Faturamento – US$ 1,5 bilhão (aumento de 24,8%)

Fonte: Jornal do Comércio

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