Produção de baixo carbono norteará política de crédito agrícola

Os ministros da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, da Fazenda, Fernando Haddad, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, se reuniram na terça-feira (18) para debater mecanismos de estímulo à produção sustentável no Plano Safra 2023/2024. O foco do encontro foi o alinhamento das diretrizes da produção de alimentos com baixa emissão de carbono.

A proposta, que vem sendo amplamente defendida pelo governo federal, reverbera as demandas internacionais. Cada vez mais, importantes mercados como Europa, Estados Unidos e Ásia, cobram posturas sustentáveis do Brasil como moeda de troca para a realização de negócios ou mesmo para financiar investimentos no País.

De acordo com Fávaro, as tecnologias agrícolas de baixa emissão de carbono vão nortear as políticas de crédito rural. “O Plano Safra 2023/2024 terá a agricultura de baixo carbono como linha mestra. Tenho certeza de que faremos o melhor Plano Safra da história do Brasil”, disse o ministro, que está em missão oficial em Londres e participou da reunião virtualmente.

Segundo ele, o governo está totalmente comprometido com a transição sustentável da produção agrícola. A ideia é que o Plano Safra tenha condicionantes positivas, para que os produtores que aderirem às práticas sustentáveis possam ter melhores condições de financiamento.

A diretriz também é aplaudida por Fernando Haddad, para quem o Ministério da Fazenda está imerso na proposta de transformação ecológica do Brasil. “Se somarmos esforços, poderemos fazer da agenda ambiental a principal agenda de desenvolvimento do país”, disse.

Para o secretário-executivo em exercício do Mapa, Luiz Rodrigues, as tecnologias de agricultura de baixo carbono também ajudam a fortalecer o produtor rural. “Temos que construir uma agricultura contemporânea, sustentável, com uso de agricultura digital e que também seja resiliente. E esse Plano Safra vai ajudar a aumentar a resiliência da agricultura”.

O Plano Safra 2023/2024 irá aliar o financiamento das tecnologias agrícolas de diversas áreas com a sustentabilidade da produção. O estímulo pode ser desde o acesso às práticas de assistência técnica, até a concessão de bônus. “Estamos definindo quais as formas de conceder esses benefícios”, explicou o secretário de Política Agrícola em exercício do Mapa, Wilson Vaz.

A ministra Marina Silva lembrou que a proposta de agricultura de baixo carbono para o Plano Safra surgiu de uma conversa entre ela e o ministro Fávaro, ainda em janeiro, e afirmou que o Brasil pode ser, ao mesmo tempo, uma potência agrícola, florestal e hídrica. Segundo ela, o Plano Safra deverá evoluir para que toda a agricultura seja de baixa emissão de carbono. “Podemos chegar a um nível em que os tomadores de recurso poderão receber bônus por esse cumprimento de normas de natureza sustentável para agricultura de baixo carbono”.

O uso de bioinsumos e o incentivo à agricultura regenerativa devem estar presentes no Plano Safra, destacou o ministro Paulo Teixeira. “A transição para uma agricultura regenerativa é um desafio que não podemos adiar, temos que responder imediatamente”, disse.

Produção sustentável ganha status de carta de crédito junto ao mercado

Enquanto a agenda internacional fala em mudanças climáticas, a sustentabilidade começa a ser vista como requisito para os negócios. Quando o assunto é o mercado da sustentabilidade, as falas se concentram no mercado de carbono, pela estreita conexão com a agenda climática.

De acordo com a gerente de Projetos e Sustentabilidade da SAI – Serviços de Inteligência em Agronegócios, Helen Estima Lazzari, o Brasil já desenvolve uma agropecuária de baixo carbono, contudo, precisa comunicar isso para o mundo. Ela alerta, entretanto, que ainda faltam metodologias para os projetos de crédito de carbono no País. “Há a necessidade de normas adequadas aos sistemas brasileiros e às condições climáticas, é o que temos chamado de ‘tropicalização’ das métricas”, afirma.
Mesmo com essa dificuldade, a especialista diz que têm se percebido a importância do início do processo educacional dos envolvidos e principalmente dos produtores rurais, os quais serão os principais provedores desse crédito. Helen observa que na rotina do time de campo da SIA, estão adaptando a linguagem desse mercado para dentro das fazendas, além de promover a conexão entre campo e mundo corporativo por meio do desenvolvimento de projetos e negócios sustentáveis. “Estamos, de forma consciente, comunicando e entendendo que o sistemas produtivos das fazendas, o agronegócio brasileiro, é sustentável e é pautado em práticas sustentáveis”, esclarece.

O mercado da sustentabilidade é novo, e os desafios incluem identificar práticas, processos e sistemas de produção que podem – e devem – ser valorizados e difundidos. “Aqui, estamos falando em entender diferentes formas de monetização da sustentabilidade, com a ressalva de que produtividade e meio ambiente não são objetivos distintos e que não deve haver a escolha por um ou por outro, mas sim pelo equilíbrio de ambos”, explica Helen.
Segundo ela, os sistemas produtivos devem ser entendidos como estratégia de sustentabilidade. E, com todos os atores envolvidos nessa cadeia conscientes de que o agro é sustentável, fica mais fácil identificar oportunidades de monetização.
Para a especialista da SIA, o país enfrenta falha na comunicação de como se produz alimentos de forma sustentável. “Além de entender como produzimos alimentos no Brasil, começamos a identificar estratégias e oportunidades de valorizar essa produção, valorizar estes produtos que são gerados de forma sustentável”, explica Helen.
É nesse sentido que surge o papel fundamental do setor privado em levar essa experiência para o mundo, além de incentivar a agropecuária brasileira, pela valorização do que já acontece dentro da porteira.

Fonte: Jornal do Comércio

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