Mesmo com estiagem, cooperativas estimam safra de soja maior que dado oficial do Estado

O Rio Grande do Sul colheu na safra 2022/2023 cerca de 14 milhões de toneladas de soja, estimam produtores gaúchos – 1,5 milhão a mais do que a projeção da Emater-RS (12.525.882 toneladas). O valor superior é um consenso entre as principais cooperativas e associações do agronegócio no Estado. No entanto, esse resultado representa 9 milhões de toneladas a menos do potencial gaúcho, que é de 23 milhões de toneladas, segundo a FecoAgro RS. O motivo da quebra de safra, assim como no ciclo anterior, foi a estiagem.

Do total colhido, a indústria já esmagou, aproximadamente, 4,4 milhões de toneladas. Entre janeiro e junho deste ano, foram movimentados mais de 2,7 milhões de toneladas do grão pelo Porto de Rio Grande. Porém, parte significativa deste escoamento veio de outros estados, devido ao volume recorde colhido no Brasil: 155 milhões de toneladas.

Diante desse cenário, as cooperativas ouvidas pelo JC concordam que cerca de 6 milhões de toneladas da commodity ainda estão estocadas no Estado, aguardando exportação – o que pode, ou não, acontecer neste ciclo. Ou seja, 43% da soja produzida no RS ainda não foi escoada. A projeção é que mais 4 milhões de toneladas sejam esmagadas até o final de 2023 no Estado. Então é provável que haja estoque de passagem para o próximo ano – algo em torno de 2 milhões de toneladas.

O escoamento da produção depende de diversas variáveis que repercutem sobre os preços do bushel de soja. “Os principais fatores são a seca nas áreas de plantação da cultura nos Estados Unidos e os conflitos no Leste Europeu, além de outras questões geopolíticas, como a cotação do petróleo”, diz o diretor de produção agrícola da Cotripal, João Carlos Pires.

A expectativa de produtores pela alta de preço é porque 57% da área de soja americana ainda enfrenta estiagem, o que pressiona a condição das lavouras e reduz potencial produtivo. Outro ponto é a saída da Rússia do acordo para exportações ucranianas pelo Mar Negro, “que também deve continuar impulsionando os preços, já que gera impactos no óleo de girassol”, diz Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio.

Mas o mercado vem lendo que dificilmente o preço da saca de 60 quilos voltará ao patamar de R$ 200, como ocorreu após a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia, salienta o consultor da Agrodex, Diogo Moreira. “A partir de outubro deste ano, é possível que o preço da saca supere os
R$ 155 no Brasil, em razão da menor oferta”, projeta Moreira.

Atualmente, o preço da saca no Brasil está em R$ 136. Mas já esteve em R$ 121 no primeiro trimestre do ano, em razão do alto volume produzido neste ano. Segundo Sergio Luis Feltraco, diretor executivo da FecoAgro-RS, após duas quebra de safras consecutivas no Estado, não é o momento de os produtores rurais condicionarem suas vendas ao preço. “O produtor precisa analisar pela oportunidade de troca da produção pelos insumos que ele vai precisar para o próximo ciclo, e que estão, neste momento, com preços melhores”, diz Feltraco.

Outro ponto que pressiona o escoamento é a falta de espaços físicos, em razão das safras de milho e trigo, diz Maria Flávia Tavares, doutora em agronegócio e diretora da MFT Consultoria. “Se o preço da saca de soja cobre o custo dele e dá uma certa margem, está na hora dele vender”, afirma.

Linha histórica – Exportações da soja em grãos no Estado

Em valores
2018 – US$ 5.273.351.826
2019 – US$ 4.135.533.938
2020 – US$ 2.943.458.928
2021 – US$ 6.216.674.114
2022 – US$ 3.306.354.336
2023* (1º trimestre) – US$ 231.177.612

Em volume (em quilos)
2018 – 13.271.419
2019 – 11.618.879
2020 – 8.465.843
2021 – 12.537.853
2022 – 5.383.195
2023* (1º trimestre) – 392.419

FONTE: Secretaria do Planejamento, Orçamento e Gestão/Departamento de Economia e Estatística-DEE

Volume de soja em grãos produzido no RS (em toneladas)

2022/2023 – 12.525.882

2021/2022 – 11.198.344

2020/2021 – 19.940.407

2019/2020 – 11.294.193

2018/2019 – 18.498.119

2017/2018 – 17.538.725

FONTE: Emater RS e IBGE

Fonte: Jornal do Comércio

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