Fecoagro espera compensar perdas com estiagem na safra de inverno
Com a reta final da colheita das culturas de verão, mais uma vez frustradas pela estiagem no Rio Grande do Sul, o produtor começa a planejar o plantio das culturas de inverno para buscar garantir sua renda. Em algumas regiões gaúchas, os agricultores já iniciaram o plantio da canola, segundo a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS).
Conforme o presidente da entidade, Paulo Pires, a expectativa agora é por anúncios de recursos oficiais para o custeio. “O produtor é muito resiliente e quer virar a página das duas últimas estiagens. E, para isso, é fundamental que tenhamos disponibilidade de recursos para financiamentos das lavouras de inverno”, observa.
O dirigente reforça que o atual desafio é a queda acentuada dos preços agrícolas, mas também existe uma redução nas cotações dos insumos agrícolas. Pires salienta, ainda, que se o produtor fizer um bom seguro, com um bom Proagro e o clima colaborar, a perspectiva é de alcançar excelentes índices de produtividade, também trazendo resultados econômicos positivos. “Não resta muita alternativa para o produtor. Ele tem que ir atrás de renda, e as culturas de inverno até nos diferenciam do resto do País. Temos, sim, esta opção de transformar e ter uma renda para mitigar nossos prejuízos com a estiagem”, complementa.
O ótimo desempenho do trigo e de outras culturas de inverno nas duas últimas safras de inverno no Estado faz crescer a expectativa e a esperança dos produtores. As condições climáticas favoráveis, por conta da incidência do La Niña, e a valorização dos grãos no mercado justificam a expectativa positiva, avalia Gilberto Cunha, meteorologista da Embrapa Trigo, de Passo Fundo.
Nesse período, observa o especialista, surgiram novos mercados potenciais para as culturas de inverno, não apenas como grãos mas também como ração para a indústria animal. Novos canais de exportação também se abriram, via porto de Rio Grande, e até a indústria de bioetanol ajudou a valorizar os produtos. E, nessa esteira, aumenta a possibilidade de uma repetição no tamanho da área a ser cultivada, talvez até com um pequeno aumento, pondera.
Ele alerta, entretanto, que a situação pode mudar neste inverno. É que o La Niña já encerrou sua atividade. E a projeção é de incidência do El Niño no segundo semestre de 2023, exigindo atenção especial dos produtores. “É uma condição climática de manejo mais difícil para controlar o excesso de umidade na primavera. Por isso, o produtor precisa usar uma gestão integrada de riscos, com diferentes períodos de semeadora, cultivares mais resistentes a doenças, um bom seguro agrícola, seja público ou privado, e atenção a doenças de espiga, como a giberela, além de não procrastinar o momento da colheita, uma vez que as chuvas em abundância afetam negativamente a qualidade dos grãos”, diz Cunha.
Apesar do alerta, com base nos efeitos do fenômeno climático em safras anteriores, o meteorologista ressalta as tecnologias de produção estão muito mais robustas que nas décadas de 1970, 80, 90 e até mesmo no início dos anos 2000. “Temos materiais genéticos mais avançados e técnicas de proteção de cultivo eficientes, resultado de uma curva de aprendizagem ao longo desse intervalo. E que precisa ser observada por produtores e assistentes técnicos para uma safra mais segura e rentável”.
Fonte: Jornal do Comércio