Estiagem pode ser a mais severa dos últimos anos
Faltam duas semanas para que a chuva volte ao Rio Grande do Sul. E, ainda assim, em forma de pancadas, com ênfase na metade norte. A previsão da meteorologista Estael Sias, da Metsul, coincide com os dados repassados nesta quinta-feira pelo Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS) ao governo do Estado e sugerem que esta pode ser a estiagem mais intensa deste ciclo.
Conforme a especialista, o retorno das precipitações sobre solo gaúcho a partir do dia 20 de janeiro irá ajudar a elevar a umidade, que à tarde estava abaixo de 20% em muitos municípios. Será um alívio na pressão sobre as lavouras. Não mais do que isso.
“Não vai reverter o quadro de estiagem. Teremos dias de chuvas rápidas e irregulares que deverão se estender ao longo do mês de fevereiro. Nesse período, haverá mais freqüência de pancadas. Mas a tendência para março é de tempo seco, novamente”, disse a meteorologista.
Nesse cenário, os volumes previstos para os próximos 10 dias são baixos na maior parte dos municípios, com sol e tardes de calor, o que vai agravar a perda de umidade do solo e tornar a estiagem ainda mais forte. De acordo com a Metsul, é possível que sequer chova até a metade de janeiro em alguns locais.
Com isso, a tendência é de aumento do número de municípios em dificuldades hídricas. Desde 1º de dezembro, 46 prefeituras já declararam emergência pela falta de chuva. As perdas se avolumam no campo, sobretudo nas lavouras de milho, com perdas totais em alguns locais, e o abastecimento de água está ameaçado. O calor muito intenso na Metade Oeste, especialmente em alguns dias da próxima semana, tornará o quadro de escassez hídrica ainda mais agudo, com maior impacto na agricultura.
Por isso, uma reunião das secretarias de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, de Desenvolvimento Rural e da Emater foi realizada para entender a dimensão do problema e buscar alternativas. Um novo encontro na próxima terça-feira, envolvendo também a Defesa Civil e as Secretaria da Fazenda e de Meio Ambiente irá alinhar as ações.
“O quadro é delicado. Mas, em se tratando de clima, podemos acreditar que uma chuva fora do previsto ajude a amenizar a situação e nos permita ter uma boa safra. Não podemos pintar um cenário de desastre antes da hora”, disse ao final do dia o secretário de Agricultura, Giovani Feltes.
Segundo ele, além das medidas que precisarão ser pensadas para o futuro, já há ações sendo adotadas agora. Caminhões perfuratrizes estão a caminho do interior para abrir poços e amenizar a falta de água, especialmente na Região Central. Feltes defende a aproximação entre lideranças municipais, a Assembleia Legislativa e representantes gaúchos no Congresso Nacional para reunir forças e capacidade de negociação com foco na resolução do problema para o futuro.
“Temos muitas limitações, muitos gargalos a serem superados. Mas o Programa Avançar já investiu mais de R$ 200 milhões para o setor. Isso em final de mandato, com período eleitoral e adesão ao Regime de Recuperação Fiscal. Fomos muito bem. Vamos dar continuidade a essa postura proativa”, acrescentou Feltes.
Preocupação sobre a falta de chuvas no RS chega aos gabinetes do governo gaúcho
Projeto em estudo é evitar prejuízos também nos próximos anos
/Gustavo Mansur/Palácio Piratini/JC
Preocupado em dar a devida atenção às comunidades atendidas pela Secretaria de Desenvolvimento Rural, o titular da pasta, Ronaldo Santini, saiu de seu gabinete e foi ao encontro dos agricultores. Antes mesmo de conversar com o colega da Secretaria de Agricultura, Santini visitou a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetag-RS), sua primeira agenda externa desde que assumiu a pasta, em 1º de janeiro.
Ao Jornal do Comércio, Santini assegurou que medidas para minimizar as perdas e socorrer os agricultores neste momento serão adotadas, inclusive a busca de recursos junto aos governos estadual e federal. Mas enfatizou que essas ações não serão capazes de evitar os efeitos desta estiagem sobre a economia.
“Os dados do acompanhamento meteorológico que recebi hoje da Emater-RS são alarmantes. Não devemos minimizar essa estiagem. O fato é que precisamos nos preparar para as próximas com medidas de efeito a médio e a longo prazo, porque outras situações como essa irão acontecer”, ressaltou Ronaldo Santini.
A implantação de sistemas de irrigaçação testados e aprovados mundialmente, enfatizou o secretário, precisa virar realidade no Rio Grande do Sul, ainda que adequada às características de clima e solo gaúchos.
“Será um trabalho exaustivo, de um grupo que envolverá as secretarias da Agricultura, Desenvolvimento Rural, Meio Ambiente, a Emater e outros órgãos que se comunicam com o tema. Políticas de recuperação e preservação de solos e nascentes, técnicas de emissão de baixo carbono, entre outras medidas que já estão aí e precisam, definitivamente, se tornar políticas de Estado”, afirmou, destacando que a Secretaria está presente e atenta aos problemas dos agricultores. “Não podemos deixá-los com a sensação de abandono ou desatenção. Vamos estar juntos e buscando as melhores formas de socorrer, planejar, prevenir e protegê-los”.
Mais cedo, durante a reunião, a Fetag apresentou as demandas consideradas prioritárias para o desenvolvimento e o fortalecimento da agricultura familiar gaúcha, entre elas, soluções para a questão da atual estiagem que assolando o Estado, mais uma vez.
“Lógico que nos colocamos à disposição para ajudar a definir as medidas estruturantes e necessárias para ajudar a agricultura familiar. Mas tudo que seja feito agora serão medidas paliativas. A construção de açudes e cisternas deveria ter sido feita no ano passado, para estarem cheios agora”, pontua o vice-presidente da entidade, Eugênio Zanetti.
O dirigente pede agilidade para que seja colocado em prática o programa Avançar no eixo da Agricultura Familiar, lançado no ano passado e que ainda não saiu do papel. A iniciativa prevê medidas estruturantes relacionadas à agricultura irrigada e armazenamento de água, busca de recursos para feiras e para subsídio de juros das operações de crédito rural, reformulação do Programa Troca-Troca de Sementes de milho e forrageiras, entre outras. A Fetag quer, ainda, a criação de um grupo suplementar para agricultores, agricultoras e pecuaristas familiares com enquadramento no programa SOS para casos em que o titular tenha, por exemplo, falecido, permitindo ao cônjuge fazer o saque do valor do benefício.
“O fato de o secretário Santini ter nos visitado em sua primeira semana de mandato é muito positivo, pois demonstra total abertura ao diálogo e seu interesse em resolver questões que afetam diariamente a agricultura e a pecuária familiar. Esperamos que a Secretaria tenha recursos e a estrutura necessária para que possamos trabalhar lado a lado nos interesses da categoria”, completou Zanetti.
Fonte: Jornal do Comércio