China deve reconhecer RS livre de aftosa sem vacinação nesta sexta-feira
Um importante canal de negócios pode começar a ser aberto na China para a indústria de proteína animal brasileira e gaúcha nesta sexta-feira (14). Às 17h45min do horário local (6h45min no Brasil), os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping assinam, em Pequim, uma série de atos que consolidam o estreitamento nas relações comerciais entre os dois países. Entre eles deve estar o reconhecimento, por parte do gigante asiático, do status gaúcho como zona livre de febre aftosa sem vacinação.
A expectativa é do diretor de Promoção Comercial e Assuntos Internacionais da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul (Sedec), Evaldo da Silva Júnior. Nesta quinta-feira, em coletiva de imprensa ao lado do titular da pasta, Ernani Polo, ele detalhou as ações desenvolvidas ao longo de nove dias naquele país, liderando a missão gaúcha, única representação de um estado brasileiro que integrou a comitiva do Ministério da Agricultura e Pecuária.
A condição, atestada em maio de 2021 pela Organização Mundial de Saúde Animal (Omsa), precisa ser acolhida também pelo governo chinês para que cortes com osso e miúdos possam ingressar naquele mercado. Seria uma oportunidade valiosa para a indústria, especialmente de carne suína. “Pés de suínos, por exemplo, não têm valor comercial. Mas com a liberação, essa situação muda. E a China paga US$ 4 mil por tonelada. O reconhecimento do status sanitário do RS agregaria em torno de R$ 100 por animal nas exportações desse segmento”, observou o secretário Ernani Polo.
Toda a documentação necessária e os trâmites burocráticos para que a China acolha a sanidade dos campos do Rio Grande do Sul já foram preenchidos. Silva Júnior esperava, inclusive, que essa situação tivesse sido sacramentada ainda no mês passado, mas com o acometimento de uma pneumonia atrasou o embarque do presidente Lula. “Por parte dos governos estadual e federal, tudo já foi feito. Agora é esperar. Mas creio que deva se confirmar durante a missão presidencial que está em andamento”.
Segundo ele, outras oportunidades comerciais importantes podem surgir, como a validação das exportações de carne bovina pelo Frigorífico Silva, de Santa Maria, com carne bovina, e da planta de aves da Cooperativa Languiru, de Teutônia, que, inclusive, negocia com a ITG Tianjiao a venda de ativos e o controle de suas operações de aves, suínos, bovinos e ração animal. A habilitação da Languiru pode ser beneficiada por conta dessa parceria que vem sendo entabulada com a estatal asiática, e a vistoria da planta por parte da Administração-Geral de Aduanas da China (GACC), órgão encarregado de supervisionar e gerenciar os trabalhos nacionais de segurança dos alimentos importados e exportados, pode acabar ocorrendo de forma remota, acelerando o processo, lembra o diretor da Sedec.
Por sua recente aproximação com o Rio Grande do Sul a ITG pretende instalar um escritório no Estado para atender seus interesses na América latina. No final de abril, executivos do grupo devem vir ao RS para conhecer e avaliar a idéia. As conversas evoluíram também durante a estada da representação gaúcha em na China. A Sedec apresentou a Languiru à ITG, durante a Expodireto, em Não-Me-Toque. E as empresas começaram a negociar a partir daquele momento. Mas outros dois grupos contatados na viagem manifestaram interesse em investir no Estado e devem vir ao Rio Grande do Sul até agosto.
Polo e Silva Júnior reforçaram que o principal aspecto da missão foi apresentar e vender o Rio Grande do Sul como alternativa e potencial para investimentos. “Na China, quando se fala em Brasil, o que eles conhecem são os estados do rio de Janeiro e São Paulo. Por isso nossa ida foi tão valiosa estrategicamente. Eles puderam saber, por exemplo, que pela nossa posição geográfica a carne bovina que produzimos é a mesma que argentinos, uruguaios e europeus. Não são os zebuínos do Sudeste, do Centro-Oeste e do Nordeste. E o maior interesse deles, por conta da questão da segurança alimentar, é na importação de produtos bovinos, preferencialmente, aves e suínos”, disse o secretário.
Silva Júnior explicou que para os demais frigoríficos de aves gaúchos que aguardam liberação da China para exportar o caminho ainda deve ser mais longo, já que alguns documentos exigidos precisarão ser refeitos.
Noz pecan brasileira busca reconhecimento internacional
Outro setor que busca alcançar aquele mercado é o da noz pecan, cuja produção nacional se concentra na Região Sul. O Rio Grande do Sul responde por 70% da safra. A China importa um terço da produção mundial da fruta, o que representaria uma porta fundamental para colocar o excedente gaúcho e brasileiro. “Verificamos que os integrantes dessa cadeia precisam se apresentar adequadamente ao mercado chinês, com materiais no idioma local, por exemplo. Para sermos lembrados, temos de ser conhecidos”.
Parte desse processo de internacionalização dos produtos gaúchos pode ganhar fôlego a partir de um acordo firmado entre o Estado e o governo chinês para orientar e qualificar os profissionais que atuam para reunir e encaminhar todos os documentos exigidos pelos asiáticos, na forma adequada. Rigorosos no controle, os chineses barram a entrada de tudo que estiver fora do padrão exigido.
Por outro lado, por conhecer o potencial brasileiro, de quem já são o principal parceiro comercial, os chineses mostraram grande interesse em investir no País. E uma das áreas, inclusive, seria a de logística, facilitando e agilizando as remessas.
Fonte: Jornal do Comércio