Pequeno passo hoje, salto gigante amanhã

O ano de 2021 ficará marcado na história da raça Angus como o início de uma nova era na seleção nos rebanhos do Brasil. A rodagem das primeiras Diferenças Esperadas de Progênie (DEPs) enriquecidas com dados genômicos abre um mundo de potencialidades. Ainda é cedo para saber ao certo para onde a genômica Angus irá conduzir seus avanços. Mas a certeza é que a inédita DEP de Resistência ao Carrapato e o aumento de acurácia dos dados de animais jovens são condições que colocam os pioneiros desse processo à frente de seu tempo. “É um feito que marca essa gestão. Estamos apenas começando, mas há um universo de potencialidades a serem exploradas”, pontua o criador e presidente da Associação Brasileira de Angus, Nivaldo Dzyekanski.

Entusiasta da seleção, o presidente do Conselho Técnico da Angus, Márcio Sudati, vem liderando o projeto consciente da força que o estímulo à pesquisa trará à pecuária de corte. O programa busca novas DEPs de difícil mensuração, algumas que devem sair do forno nos próximos anos, como DEPs de termotolerância e a de docilidade. Também há pesquisas sendo alinhadas para o desenvolvimento da DEP de eficiência alimentar para animais participantes de provas práticas e, em breve, até para aqueles que ficaram na fazenda. “Estou muito satisfeito. A genômica evoluiu muito bem porque fizemos ela rodar dentro de uma população de referência brasileira e com animais avaliados no Promebo. Esse é o diferencial da nossa para outras genômicas feitas pelo mundo, porque está baseada na nossa seleção de reprodutores e reflete como a Angus anda dentro do país”, frisou Sudati, confiante de que a genômica se tornará rotina das fazendas, assim como aconteceu com a ultrassonografia de carcaça

A genômica Angus do Brasil foi oficialmente lançada em junho, durante a apresentação do Sumário do Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo). A publicação editada pela Associação Nacional de Criadores Herd-Book Collares (ANC) em parceria com a Embrapa Pecuária Sul era aguardada desde 2012, quando a Associação Brasileira de Angus deu início à formação da população de referência. Com ela, os dados já disponíveis no Promebo tiveram um ganho de cerca de 25% em precisão em animais jovens sem filhos avaliados e 21% para touros jovens com menos de 20 filhos (Figuras 1 e 2). O trabalho considerou dados de 4.902 animais genotipados, escore bem acima da largada da Argentina, que trabalhou com 2 mil animais, e dos Estados Unidos, que começou com 2,2 mil cabeças. “Temos um caminho longo a ser percorrido, mas, sem dúvida, a roda está girando e, quando a roda gira, a coisa evolui”, resumiu o gerente de Fomento da Angus, Mateus Pivato.

E, se depender do interesse dos criadores, a genômica irá deslanchar nos rebanhos Angus do Brasil. Para se ter uma ideia, só no segundo semestre do ano – após o lançamento oficial do projeto –, a Angus atestou a genotipagem de mais 1.093 animais, o que permitiu fechar 2021 com 5.995 animais na base de dados da raça. A meta é que o número triplique até 2023, quando termina o acordo firmado com a Embrapa para condução dessa primeira fase da pesquisa. Responsável pela metodologia da genômica Angus, o geneticista e chefe da Embrapa Pecuária Sul, Fernando Cardoso, estima que, em dois anos, 50% dos reprodutores avaliados no Promebo terão DEPs enriquecidas. “Além da aceleração do progresso genético nas características já contempladas no Promebo, a genômica permite aos selecionadores desenvolverem linhagens com maior adaptação tropical. Um Angus brasileiro, tropicalizado, de pelo curto, mais resistente ao carrapato, mais adaptado ao calor, mantendo as suas tradicionais características produtivas e de qualidade de carne. Isso será certamente um diferencial tanto para competir no mercado interno com a genética importada, quanto uma oportunidade para ascender ao mercado internacional”, ponderou.

Se os números gerais impressionam, isso reflete a união do banco de genótipos da Angus, de instituições de pesquisa, empresas parceiras e da base de dados de criatórios que cederam suas genotipagens à associação. Só na DEP de Resistência ao Carrapato, por exemplo, a predição iniciou-se com 1.696 deles já genotipados e 3.964 fenótipos por meio de contagens dos parasitas a campo, número que deve dobrar nos próximos dois anos.

O processo agrega ganho consistente de acurácia em dados de animais jovens sem filhos (veja os gráficos). O mesmo se pode dizer do upgrade iminente na seleção de fêmeas não paridas. Com a genômica, é possível prever dados de reprodutores sem filhos com acurácia equivalente à obtida após 8 a 10 filhos nascidos e avaliados.

A campo, os criadores vão aos poucos colhendo na prática os benefícios da genômica. O pecuarista Ulisses Amaral, da Cabanha Santa Joana, de Santa Vitória do Palmar (RS), confia nos avanços que hão de vir. “A avaliação genômica é um bebê e estamos começando a usar os dados do Promebo, engatinhando. Mas, no médio e longo prazo, me parece que o processo de melhoramento por meio da genômica é irreversível”, lembrando que a genômica é algo complementar aos programas de melhoramento genético em curso. Contudo, Amaral está confiante que há características que hoje nem se imagina e que serão alvo de seleção de gado de corte no futuro graças a ela. “Quem iniciar nela mais cedo, mais cedo vai colher os frutos”, salientou.

E já tem gente aproveitando. Não foram poucos os criadores que estamparam o selo de genotipagem nos catálogos de seus leilões e obtiveram diferencial de preço na Primavera 2021. Caminho sem volta para quem quiser ter reprodutores em centrais uma vez que as empresas fazem questão de apresentar em seus catálogos animais com alta acurácia. “Não há mais espaço para a contratação de touros para as centrais de inseminação que não estejam genotipados”, confia Sudati. Por essa ótica, explica o presidente do Conselho Técnico da Angus, a genômica também pode ser vista como um estímulo à qualificação e comercialização de genética nacional uma vez que eleva a confiabilidade dos dados dos reprodutores nacionais.

Estímulo a genotipagem de animais de argola

A Associação Brasileira de Angus apresenta em 2022 um novo projeto de estímulo à genotipagem de animais de argola. A proposta é conceder um vale-genotipagem a todo criador que levar seu reprodutor já genotipado a uma exposição. O bônus poderá ser utilizado em qualquer animal do rebanho e terá o custo do teste pago pela entidade. O transporte de amostras e postagens fica a cargo do criador.

Segundo o gerente de Fomento da Associação Brasileira de Angus, Mateus Pivato, a ideia é viabilizar a obtenção de dados de melhoramento de animais de argola. Atualmente, por não serem manejados dentro de grupos contemporâneos, esses exemplares não possuem dados comparativos capazes de integrar a base do Promebo. “A genômica é uma forma de introduzir os reprodutores de argola criados a galpão dentro da base do Promebo. Uma vantagem gigante para proprietários e usuários”, completou Pivato.

Dica para começar 

Como todo processo inovador, é preciso sempre dar o primeiro passo para começar. A recomendação é que o selecionador que pretende realizar a genômica inicie fazendo um filtro com base nos dados do Promebo.

Selecione 50% dos touros superiores ao sobreano, aqueles que se imagina que perpetuarão sua genética no plantel e envie amostras para genotipagem. Mesma lógica vale para as fêmeas. Selecione uma fatia de 20% a 30%, dependendo da taxa de reposição de cada propriedade, das melhores novilhas de cada geração, aquelas com potencial para ingressar em sua reposição anual ou em seu programa de transferências de embriões e solicite o teste.

Entenda a genômica

A genômica consiste em estabelecer uma correlação entre os marcadores genéticos presentes no DNA dos indivíduos e os seus desempenhos em relação à média geral da população. Com base nesse estudo, é possível mensurar o grau de diferenciação de um determinado animal em critérios avaliativos, como Peso ao Nascer, Área de Olho de Lombo e Habilidade Materna, entre outros.

As avaliações desenvolvidas pela Angus com o Promebo permitem o uso dos dados genômicos de duas formas. A primeira consiste em uma ferramenta para enriquecer as DEPs já mensuradas pelo Promebo, ou seja, elevar a confiabilidade e posicionar esses índices para um patamar mais próximo do real. A segunda destina-se à predição de características tradicionais, juntamente com as chamadas de difícil mensuração, ou seja, aquilo que não se pode medir no exemplar sem ter um número mínimo de animais para comparar, estruturas complexas, treinamento específico de colaboradores ou disponibilidade, como, por exemplo, a resistência ao carrapato e a eficiência alimentar.

A Associação Brasileira de Angus desenvolveu um novo sistema em que os criadores podem realizar o pedido de genotipagem pela internet e acompanhar em tempo real o andamento do trabalho. A plataforma pode ser acessada pelo site www.angus.org.br.

Depois de fazer o pedido pelo sistema, o criador deve enviar material genético pelo correio para a Associação Brasileira de Angus identificado com o número de registro e tatuagem do reprodutor. Os resultados serão divulgados ao criador e lançados diretamente no registro genealógico do animal e podem ser consultados através de sua área restrita e consulta pública.

O custo do teste varia de acordo com o laboratório e o serviço a ser realizado, ficando com valor próximo de Figura 1. Acurácia das avaliações genéticas tradicional e aprimorada pela genômica para características de Produtos da Safra 2019 sem filhos avaliados no Promebo em 2021. Figura 2. Acurácia das avaliações genéticas tradicional e aprimorada pela genômica para características de touros com menos de 20 filhos avaliados no Promebo em 2021. Fonte: Embrapa Pecuária Sul. 163 R$ 120 por cabeça.

Fonte: Associação Brasileira de Angus

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