Reflexão – Via Crúcis

Por: Renato Ferreira Machado

Pampa de idas e vindas

De tantas cruzes no chão

Vento forte e escuridão

De quantas guerras infindas

De lutas tantas em vão

Daqueles que nesta terra

Vergam a vida sob a cruz

Padecem esperando luz

Numa existência que erra

Condenados como Jesus

Este Cristo injustiçado

Condenado a cruel morte

Desprezado pelo forte

Pelo poder massacrado

É irmão na mesma sorte

Do guasca e do andejo

Do gaudério exilado

Sem rancho, desterrado

Que morre no desejo

De no tempo ser lembrado

Sobre este pampa calvário

De tantas cruzes erguidas

Das mulheres tão sofridas

Em seu padecer diário

Leontinas excluídas

Janaítas cotidianas

Sangram chagas de silêncio

Com lágrimas de prenúncio

Anas Terra, Bibianas

Dores que são anúncio

Pampa teus pretos madeiros

Do negro que feito escravo

Grita ao mundo em desagravo

Pelo ultraje dos negreiros

Entoando um canto bravo

Negro lanceiro Farrapo

Em Porongos, nas charqueadas

Sangue e lágrimas salgadas

Da vida não mais que um trapo

Nas sesmarias sangradas

Mas a cruz erguida em morte

Não é da vida o arremate

Neste calvário o abate

Faz a vida vir mais forte

Naquele que chega ou parte

Se testemunha o mistério

Ergue-se o negro sem medo

Revela-se a mulher, rochedo

Memória se faz do gaudério

Numa Páscoa bem mais cedo

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