Reflexão – Via Crúcis
Pampa de idas e vindas
De tantas cruzes no chão
Vento forte e escuridão
De quantas guerras infindas
De lutas tantas em vão
Daqueles que nesta terra
Vergam a vida sob a cruz
Padecem esperando luz
Numa existência que erra
Condenados como Jesus
Este Cristo injustiçado
Condenado a cruel morte
Desprezado pelo forte
Pelo poder massacrado
É irmão na mesma sorte
Do guasca e do andejo
Do gaudério exilado
Sem rancho, desterrado
Que morre no desejo
De no tempo ser lembrado
Sobre este pampa calvário
De tantas cruzes erguidas
Das mulheres tão sofridas
Em seu padecer diário
Leontinas excluídas
Janaítas cotidianas
Sangram chagas de silêncio
Com lágrimas de prenúncio
Anas Terra, Bibianas
Dores que são anúncio
Pampa teus pretos madeiros
Do negro que feito escravo
Grita ao mundo em desagravo
Pelo ultraje dos negreiros
Entoando um canto bravo
Negro lanceiro Farrapo
Em Porongos, nas charqueadas
Sangue e lágrimas salgadas
Da vida não mais que um trapo
Nas sesmarias sangradas
Mas a cruz erguida em morte
Não é da vida o arremate
Neste calvário o abate
Faz a vida vir mais forte
Naquele que chega ou parte
Se testemunha o mistério
Ergue-se o negro sem medo
Revela-se a mulher, rochedo
Memória se faz do gaudério
Numa Páscoa bem mais cedo