Reflexão – Mãe

Por: Renato Ferreira Machado

Mãe!

Palavra pequena em tamanho e infinita em significados. Palavra com um sem-fim de traduções nas diversas línguas da humanidade. Palavra que remete a um papel, este sim, diferente em várias culturas.

Provavelmente nascida do balbucio do bebê diante de sua primeira fonte de alimento, o seio materno, a palavra “mãe” remete à geração da vida, a princípio existencial. Por isso, em algumas culturas e povos, a mãe é a figura de referência, e não o pai. Isso tem uma razão bastante lógica: todos os seres humanos e uma infinidade de animais não-humanos passaram a existir nesta realidade a partir de uma mãe. As mães são o verdadeiro “portal da vida”. Elas alimentam e garantem a continuidade da vida neste planeta, não poucas vezes às custas de seus sacrifícios pessoais.

Por que, então, mães e mulheres acabam geralmente em segundo plano quando se trata de protagonismo social e histórico em nossa sociedade? Por que ainda insistimos em continuar escrevendo nossa história por um viés patriarcal?

Os reinos europeus que aqui chegaram tinham na formação de uma família uma moeda de troca. A união entre príncipes e princesas de diferentes famílias era garantia para a expansão territorial e para o aumento do poderio destes reinos. Mesmo quando a cabeça sobre a qual pesava a coroa era feminina, o comando e o protagonismo de muitas ações e decisões passavam por um longo caminho de estratégias e conspirações, geralmente arquitetadas por homens. Obviamente esta sistemática funcionava melhor quando a princesa ou rainha gerava filhos e filhas. Mulheres ditas “estéreis” acabavam marginalizadas, excluídas, amaldiçoadas…

Os parâmetros dos altos círculos do poder se repetia – e se repete – nas relações mais próximas. Ser mãe é uma das maiores pressões que as mulheres ocidentais sempre sofreram e continuam a sofrer.

Isso não significa que a maternidade seja algo tão danoso para as mulheres. A questão é que ela aconteça a partir do projeto de vida da mulher e não a partir das projeções alheias. Nisso, somos também convidados a redescobrir o significado materno a partir da cultura de nossos povos originários. O fato de encontrarmos em vários lugares do continente a veneração e o culto à Pachamama não é uma mera casualidade.

A Pachamama não uma lenda criada para explicar aquilo que não se sabia antes dos conhecimento científicos experimentais. A Pachamama é a própria Terra, na sua mais profunda identidade: a de Mãe.

Compreender a Terra como Pachamama significa criar laços de relação com o planeta a partir de seus partos e amamentações. Significa cuidar e deixar-se cuidar por essa Mãe de todos os povos. Significa saber que tudo aquilo que vive veio de seu ventre e ao seu ventre voltará. Sobretudo, significa ter consciência de que esta Mãe não pode ser manipulada por nossos jogos e sede de poder, pois ela é o poder que se dá para que todos possamos viver. Assim são as mães.

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