Pesquisadores da SEAPDR estudam a fertilidade do solo de florestas jovens de acácia-negra
O trabalho árduo de pequenos produtores de acácia-negra move a economia do município de Brochier, considerado a capital do carvão vegetal, localizado na região gaúcha do Vale do Caí. “O dia a dia é desgastante, porque tudo é manual. E acho que a cultura deveria ser mais difundida, porque ela tem um papel importante na questão ambiental, no sequestro de carbono. Como é uma árvore jovem, ela sequestra muito mais carbono do que árvores de florestas nativas”, alerta o agricultor Lairton Pilger. Para auxiliar este e demais produtores, pesquisadores do Laboratório de Química Agrícola do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (DDPA/SEAPDR) iniciaram, em julho deste ano, o projeto “Diagnóstico da fertilidade do solo e status nutricional das florestas jovens de acácia-negra”. O objetivo é compreender como está sendo feito o manejo da fertilidade do solo pelos acacicultores em diferentes regiões do Rio Grande do Sul e propor estratégias para melhorar a produtividade de madeira e casca.
“A partir deste trabalho, pretendemos identificar os fatores relacionados à fertilidade do solo e nutrição vegetal que possam estar limitando a produtividade das florestas de acácia-negra”, conta o coordenador do projeto e engenheiro florestal da SEAPDR, Jackson Brilhante. Para isso estão sendo coletadas amostras de solo e folhas nas áreas dos produtores pela equipe de pesquisadores da secretaria, pelas empresas florestais e pela Emater/RS-Ascar. “Nesta primeira fase, que vai até o final do ano, pretendemos atingir pelo menos 100 produtores das regiões Metropolitana,Vale do Caí, Serra do Sudeste e Metade Sul do Estado, que são os locais onde os plantios de acácia estão estabelecidos”.
Conforme Brilhante, o projeto tem o apoio financeiro do Fundo Estadual de Desenvolvimento Florestal (Fundeflor) e deve continuar por mais um ano, com mais 100 produtores. “Depois do fim da primeira fase, vamos fazer uma avaliação parcial dos resultados obtidos e, provavelmente, no ano que vem a gente inicie uma segunda e última fase”.
Para o secretário municipal de Agricultura, Ambiente, Indústria e Comércio de Brochier, Fernando Braun, a pesquisa desenvolvida pela SEAPDR é importante, porque a base da economia do município é a produção de carvão vegetal, obtido a partir da queima da madeira da acácia-negra. Brochier é um dos principais produtores de carvão de acácia-negra em todo o Estado. Segundo ele, atualmente existem 700 pequenas propriedades que plantam a árvore. “E esse trabalho, a análise da terra, é um reconhecimento da produção da cultura no Rio Grande do Sul. Ele vai melhorar a qualidade das nossas florestas, porque é isso que o agricultor procura: produzir cada vez mais madeira em uma área pequena”.
Braun destaca ainda que é preciso plantar bastante para poder produzir o carvão. “E essa pesquisa vai nos auxiliar para desenvolvermos florestas com mais qualidade na madeira para disputarmos esse mercado tão competitivo. Mas principalmente na transformação da madeira de acácia-negra em carvão vegetal, que é vendido aqui no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Inclusive já temos três empresas que exportam carvão vegetal de acácia-negra para os Estados Unidos, China e outros países”, diz com orgulho.
Produtores
O pequeno produtor Lairton Pilger, da Chácara Chapadão, que fica na localidade de Batinga Norte, em Brochier, está há 40 anos na atividade. Tem 18 hectares de terra e cerca de 20 mil árvores de acácia-negra (cada uma mede em torno de 14 metros de altura). “Uma produção leva em torno de 8 anos, a gente demora esse tempo para fazer a derrubada. A gente produz carvão vegetal e a casca da acácia, que serve para fazer tanino e mais dezenas de produtos que a empresa Tanac industrializa. Inclusive tem um produto novo que está sendo utilizado na alimentação de aves, suínos e outros para melhorar a conversão alimentar. Além do Tanfloc, que é um produto biodegradável que eles fazem para decantação de águas, entre outras utilidades”, destaca.
Pilger produz, anualmente, cerca de 500 metros cúbicos de lenha e 60 toneladas de carvão aproximadamente. Ele acredita que a pesquisa da SEAPDR é importante e que vai conseguir levar resultados também para as empresas que compram o produto de sua chácara. “O diagnóstico é relevante pra mostrar novos caminhos”.
Segundo o agricultor, a atividade é árdua. “Tem que pegar uma motosserra, derrubar a árvore, picar tudo em metro, descascar. Tudo feito no braço, tem que pegar o facão pra tirar a casca”, comenta. Ele acha que a cultura deveria ser mais valorizada. “Hoje a gente recebe valores bem abaixo do que deveria. E o fato de ela sequestrar mais carbono do que árvores de florestas nativas deveria ser contabilizado. A gente produz isso, não só de acácia, mas de eucalipto e outras árvores exóticas, a gente produz, sequestra o carbono, mas não recebe nada por isso”.
O produtor Décio Olweiler, viúvo, de 83 anos, concorda com Pilger. “É um serviço pesado, uma atividade braçal. Carregar e descarregar lenha na boca do forno não é fácil”, desabafa o descendente de alemães. Ele possui uma pequena chácara de 4 hectares com cerca de 1.500 árvores de acácia-negra no distrito de Linha Pinheiro Machado, em Brochier. “Estou há 8 anos na atividade, já fiz várias coisas nessa vida. Ainda bem que tenho uma parceria com o Fernando (Braun) desde o ano passado. Ele que corta a lenha pra nós. Eu tô me mantendo com ele. Mas tô feliz”.
A floresta produz, por hectare, 200 metros cúbicos de lenha ou madeira,15 toneladas de casca e em torno de 26 mil quilos de carvão vegetal. Além da acácia-negra, Olweiler planta eucalipto e cria gado.
Ele explica que aprendeu com a esposa, Dóris, que era professora e defensora da natureza, a preservar o meio ambiente. “Por isso, aqui na minha chácara eu conservo áreas nativas”.
O parceiro, o secretário Braun, acredita que a pesquisa da secretaria vai melhorar a produtividade da acácia-negra. “Vai incentivar a adubação correta e melhorar a produção de madeira e casca. A expectativa é que aumente em cerca de 20%”.
Sobre a acácia-negra
A cultura está presente no Rio Grande do Sul há mais de um século. A Acacia meanrsii, popularmente conhecida como acácia-negra, foi introduzida no Estado em 1918, pelo então diretor da Companhia Geral de Indústrias, que plantou cerca de 700 árvores para avaliar a eficiência do uso da madeira desta espécie como lenha para energia. Desde então, a acácia-negra é plantada comercialmente com dois objetivos: a casca, para extração do tanino, utilizado no curtimento de couros e em estações de tratamento de água, além de possuir outros usos químicos; e a madeira, normalmente empregada na forma de cavacos para a indústria de celulose ou para produção de carvão e geração de energia.
Ao longo dos anos, sua utilidade expandiu-se. Podendo ser usada como escoras na construção civil e na produção de celulose, a acácia-negra encontrou um lar propício no Rio Grande do Sul. A produção de florestas dessa espécie plantadas no Estado ocupa uma área de 75 mil hectares e envolve, atualmente, cerca de 40 mil famílias.
Fonte: Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural