Pesquisadores da SEAPDR estudam a fertilidade do solo de florestas jovens de acácia-negra

O trabalho árduo de pequenos produtores de acácia-negra move a economia do município de Brochier, considerado a capital do carvão vegetal, localizado na região gaúcha do Vale do Caí. “O dia a dia é desgastante, porque tudo é manual. E acho que a cultura deveria ser mais difundida, porque ela tem um papel importante na questão ambiental, no sequestro de carbono.  Como é uma árvore jovem, ela sequestra muito mais carbono do que árvores de florestas nativas”, alerta o agricultor Lairton Pilger. Para auxiliar este e demais produtores, pesquisadores do Laboratório de Química Agrícola do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (DDPA/SEAPDR) iniciaram, em julho deste ano, o projeto “Diagnóstico da fertilidade do solo e status nutricional das florestas jovens de acácia-negra”. O objetivo é compreender como está sendo feito o manejo da fertilidade do solo pelos acacicultores em diferentes regiões do Rio Grande do Sul e propor estratégias para melhorar a produtividade de madeira e casca.

Coleta de amostras  Foto Fernando Dias
Jackson Brilhante coleta amostras. Foto: Fernando Dias/SEAPDR

“A partir deste trabalho, pretendemos identificar os fatores relacionados à fertilidade do solo e nutrição vegetal que possam estar limitando a produtividade das florestas de acácia-negra”, conta o coordenador do projeto e engenheiro florestal da SEAPDR, Jackson Brilhante. Para isso estão sendo coletadas amostras de solo e folhas nas áreas dos produtores pela equipe de pesquisadores da secretaria, pelas empresas florestais e pela Emater/RS-Ascar. “Nesta primeira fase, que vai até o final do ano, pretendemos atingir pelo menos 100 produtores das regiões Metropolitana,Vale do Caí, Serra do Sudeste e Metade Sul do Estado, que são os locais onde os plantios de acácia estão estabelecidos”. 

Amostras  Foto Fernando Dias SEAPDR

Floresta de acácia negra  Foto  Fernando Dias

Foto Fernando  Dias SEAPDR

Foto Fernando Dias 2 SEAPDR

Conforme Brilhante, o projeto tem o apoio financeiro do Fundo Estadual de Desenvolvimento Florestal (Fundeflor) e deve continuar por mais um ano, com mais 100 produtores. “Depois do fim da primeira fase, vamos fazer uma avaliação parcial dos resultados obtidos e, provavelmente, no ano que vem a gente inicie uma segunda e última fase”.

Para o secretário municipal de Agricultura, Ambiente, Indústria e Comércio de Brochier, Fernando Braun, a pesquisa desenvolvida pela SEAPDR é importante, porque a base da economia do município é a produção de carvão vegetal, obtido a partir da queima da madeira da acácia-negra. Brochier é um dos principais produtores de carvão de acácia-negra em todo o Estado. Segundo ele, atualmente existem 700 pequenas propriedades que plantam a árvore. “E esse trabalho, a análise da terra, é um reconhecimento da produção da cultura no Rio Grande do Sul. Ele vai melhorar a qualidade das nossas florestas, porque é isso que o agricultor procura: produzir cada vez mais madeira em uma área pequena”.

Braun destaca ainda que é preciso plantar bastante para poder produzir o carvão. “E essa pesquisa vai nos auxiliar para desenvolvermos florestas com mais qualidade na madeira para disputarmos esse mercado tão competitivo. Mas principalmente na transformação da madeira de acácia-negra em carvão vegetal, que é vendido aqui no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Inclusive já temos três empresas que exportam carvão vegetal de acácia-negra para os Estados Unidos, China e outros países”, diz com orgulho.

Produtores

O pequeno produtor Lairton Pilger, da Chácara Chapadão, que fica na localidade de Batinga Norte, em Brochier, está há 40 anos na atividade. Tem 18 hectares de terra e cerca de 20 mil árvores de acácia-negra (cada uma mede em torno de 14 metros de altura). “Uma produção leva em torno de 8 anos, a gente demora esse tempo para fazer a derrubada. A gente produz carvão vegetal e a casca da acácia, que serve para fazer tanino e mais dezenas de produtos que a empresa Tanac industrializa. Inclusive tem um produto novo que está sendo utilizado na alimentação de aves, suínos e outros para melhorar a conversão alimentar. Além do Tanfloc, que é um produto biodegradável que eles fazem para decantação de águas, entre outras utilidades”, destaca.

Pilger produz, anualmente, cerca de 500 metros cúbicos de lenha e 60 toneladas de carvão aproximadamente. Ele acredita que a pesquisa da SEAPDR é importante e que vai conseguir levar resultados também para as empresas  que compram o produto de sua chácara. “O diagnóstico é relevante pra mostrar novos caminhos”.

Segundo o agricultor, a atividade é árdua. “Tem que pegar uma motosserra, derrubar a árvore, picar tudo em metro, descascar. Tudo feito no braço, tem que pegar o facão pra tirar a casca”, comenta. Ele acha que a cultura deveria ser mais valorizada. “Hoje a gente recebe valores bem abaixo do que deveria. E o fato de ela sequestrar mais carbono do que árvores de florestas nativas deveria ser contabilizado.  A gente produz isso, não só de acácia, mas de eucalipto e outras árvores exóticas, a gente produz, sequestra o carbono, mas não recebe nada por isso”.

Décio
Décio Olweiler. Foto: Fernando Dias/SEAPDR

O produtor Décio Olweiler, viúvo, de 83 anos, concorda com Pilger. “É um serviço pesado, uma atividade braçal. Carregar e descarregar lenha na boca do forno não é fácil”, desabafa o descendente de alemães. Ele possui uma pequena chácara de 4 hectares com cerca de 1.500 árvores de acácia-negra no distrito de Linha Pinheiro Machado, em Brochier. “Estou há 8 anos na atividade, já fiz várias coisas nessa vida. Ainda bem que tenho uma parceria com o Fernando (Braun) desde o ano passado. Ele que corta a lenha pra nós. Eu tô me mantendo com ele. Mas tô feliz”.

A floresta produz, por hectare, 200 metros cúbicos de lenha ou madeira,15 toneladas de casca e em torno de 26 mil quilos de carvão vegetal. Além da acácia-negra, Olweiler planta eucalipto e cria gado.

Ele explica que aprendeu com a esposa, Dóris, que era professora e defensora da natureza, a preservar o meio ambiente. “Por isso, aqui na minha chácara eu conservo áreas nativas”.

Fernando Braun  Foto Fernando Dias SEAPDR

Foto Fernando Dias

Foto  Fernando Dias

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carvão

Carvozito, mascote de Brochier  Foto Darlene Silveira

O parceiro, o secretário Braun, acredita que a pesquisa da secretaria vai melhorar a produtividade da acácia-negra. “Vai incentivar a adubação correta e melhorar a produção de madeira e casca. A expectativa é que aumente em cerca de 20%”.

Sobre a acácia-negra

A cultura está presente no Rio Grande do Sul há mais de um século. A Acacia meanrsii, popularmente conhecida como acácia-negra, foi introduzida no Estado em 1918, pelo então diretor da Companhia Geral de Indústrias, que plantou  cerca de 700 árvores para avaliar a eficiência do uso da madeira desta espécie como lenha para energia. Desde então, a acácia-negra é plantada comercialmente com dois objetivos: a casca,  para extração do tanino, utilizado no curtimento de couros e em estações de tratamento de água, além de possuir outros usos químicos; e a madeira, normalmente empregada na forma de cavacos para a indústria de celulose ou para produção  de carvão e geração de energia.

Ao longo dos anos, sua utilidade expandiu-se. Podendo ser usada como escoras na construção civil e na  produção de celulose, a acácia-negra encontrou um lar propício no Rio Grande do Sul. A produção de florestas dessa espécie plantadas no Estado ocupa uma área de 75 mil hectares e envolve, atualmente, cerca de 40 mil famílias.

Fonte: Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural

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