O Essencial é Invisível aos Olhos

Por: Fábio Verardi

O Pequeno Príncipe é um dos livros mais vendidos de todos os tempos, trazendo a história de um piloto de avião que sofre uma pane e cai longe de tudo, em meio ao deserto do Saara, lá se depara com uma criança com vestes estranhas e que afirma ter vindo de num pequeno planeta, tão pequeno que somente ele mora lá. A criança acaba se tornando a protagonista do livro contando que sua vida era pacata, que cuidava de suas plantinhas e observava o pôr do sol, até que um dia uma semente vinda do espaço faz brotar e florescer uma linda rosa. O menino ficou fascinado com tanta beleza que nunca antes havia visto e passou a atender a todos os desejos daquela encantadora, vaidosa e até fútil rosa, porém, em dado momento, o Pequeno Príncipe começou a se assustar com o poder que a rosa exercia sobre seus sentimentos e decidiu fugir.

As frases de efeito com conteúdo de autoajuda aleatório são bastante conhecidas na obra Antoine de Saint-Exupéry, porém, o enredo nos apresenta uma surpresa que confunde o livro com a própria vida real do autor, que não é assim tão visível aos olhos. O aviador do livro é o próprio Saint-Exupéry que em 1935 caiu no deserto do Saara com seu avião e lá permaneceu delirando quase até a morte por 4 dias, até ser resgatado por uma tribo local. A sedutora rosa se refere a Consuelo, uma Salvadorenha que conquistou o coração do mulherengo aviador, que segundo relatos tinha um amor em cada porto. Antoine foi piloto comercial responsável pelas rotas de correio aéreo na América do Sul, deixando saudosas histórias em Florianópolis e em Buenos Aires onde conheceu a mulher que abalou seus sentidos. Daí a similaridade da história contada pelo Pequeno Príncipe que não entendia o poder que a rosa exercia sobre ele, parecendo que o amor e o compromisso fossem coisas de adulto, e, aliás, todos os adultos do livro são retratados como infelizes ou solitários.

Antoine e Consuelo foram casados por 15 anos marcados por muitas brigas e traições de ambas as partes, mas juntos descobriram a natureza dos verdadeiros sentimentos, e assim, por mais encantador que fosse o mundo lá fora ele sempre voltou para sua rosa. Em 31 de julho de 1944, numa missão de reconhecimento da Segunda Guerra, partindo da Ilha de Córsega, Saint-Exupéry desapareceu, possivelmente abatido por um caça alemão, o escritor se tornou eternamente responsável por nos cativar o Pequeno Príncipe, uma fábula que relata muitos sentimentos, mas principalmente o amor de um homem por uma mulher. O corpo de Antoine nunca foi encontrado, talvez esteja num pequeno planeta onde não seja mesmo essencial encontrá-lo, pois o essencial é invisível aos olhos.

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