Frigoríficos gaúchos operam com déficit de 15 mil bovinos por semana

A instabilidade na oferta de bovinos para abate vem comprometendo a indústria frigorífica gaúcha. Não apenas o processamento de volumes tradicionais para o mercado consumidor, mas também a estrutura das plantas e até as condições de empregabilidade nas unidades. De acordo com o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs), o ideal seria um abate médio semanal de 55 mil cabeças, mas, atualmente no Rio Grande do Sul, esse volume está em 40 mil. “Estamos com um déficit semanal de 15 mil bovinos para abate”, afirma o diretor-executivo do sindicato, Zilmar Moussalle.

O levantamento do Sicadergs mostra que os estoques de animais vivos na pecuária gaúcha vêm diminuindo nos últimos três anos: em 2018 eram 12,46 milhões, em 2019 ficaram em torno de 11,83 milhões e, neste ano, está em 10,92 milhões. Para Moussalle, os motivos estão na substituição da atividade pecuária por lavouras como soja e trigo, que dão retorno duas vezes ao ano – somado ao cenário econômico que vem levando à redução do consumo de proteína animal pelas famílias brasileiras.

Para contornar o momento difícil, os frigoríficos estão sendo forçados a dispensar funcionários, transferir abates e, alguns casos, conceder férias coletivas. “A oferta de boi que temos hoje não é equiparada à capacidade que temos de abater. Estamos em um quebra-cabeça para não ter mais prejuízo”, expressa o diretor.

O presidente do Instituto Desenvolve Pecuária, Luís Felipe Barros, acredita que a quantidade de animais represados no campo a espera de melhores cotações também contribuiu para a ociosidade no abate. De acordo com o dirigente, em 2020 houve uma evolução crescente dos preços, fato que não se repetiu até agora em 2021. A redução dos embarques e de compras internas de mercados como São Paulo e Minas Gerais ampliou a oferta de gado na saída da pastagem, levando a uma queda de preços para a indústria.

“Sabemos que existe um cenário empírico no qual a soja vem ocupando o lugar da pecuária, mas essa afirmação não vem de um estudo técnico”, afirma Barros. Segundo ele, existe sim uma diminuição da atividade pecuária, como relata o sindicato, no entanto, esse movimento não estaria ligado ao desestímulo do setor, e sim, a uma melhor eficiência na criação do rebanho. “A diminuição de abate do gado macho acima de 36 meses é compensada pelo aumento do abate de machos até 24 meses”, relata.

Para o representante do Instituto Desenvolve Pecuária, a situação deve normalizar com o aumento da demanda de consumo ocasionada pelas festas de final de ano. “O cenário econômico atual de retenção de gado é causado pelo preço, e não relação com a diminuição do estoque de bois vivos”, assegura Barros, ao afirmar que a entidade se propõe a ser uma ponte de diálogo com os frigoríficos. A perspectiva é de que a remuneração ao pecuarista nas próximas semanas cresça entre 10% e 15%, fato que deverá reduzir o represamento de gado dentro da porteira e ampliar a atividade nas unidades de abate.

Para o coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), Júlio Barcellos, a ociosidade nas plantas não está ligada ao tamanho do rebanho, mas à quantidade de frigoríficos que operam no Estado. Segundo ele, nos principais estados exportadores, que chegam a ter rebanho até três vezes maior que a do Rio Grande do Sul, o número de frigoríficos está bem abaixo dos cerca de 240 estabelecimentos do Estado. “Quando o preço cai, como foi o caso, o pecuarista procura vender menos para incentivar o aumento do preço. E com a indústria muito pulverizada, há a disputa pelo boi”, diz Barcellos.

Os estudos do Nespro demonstram que a pecuária bovina está mais eficiente e melhor em competitividade. A projeção dos próximos anos é que o rebanho não passe de 10 milhões de cabeças, o que, segundo o especialista, evidencia uma produção com mais carne e menos gado com otimização do uso da terra.

Fonte: Jornal do Comércio

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