Então, é Natal e o que você fez?

Por: Fábio Verardi

Parece que a cada ano o Natal chega mais cedo, no finalzinho de outubro já é possível ver as bolas coloridas e os enfeites na decoração das lojas, um anúncio de que o fim do ano se aproxima a passos largos. Em tempos idos, esperar pelo Natal era algo mágico, as famílias reuniam as crianças nas férias do colégio e durante dias o pátio da casa dos avós se transformava numa vila olímpica para bicicletas, jogos e uma correria que durava até a noite. Eram dias muito felizes, uma fase de descobrimentos que, mesmo com methiolate, geravam uma expectativa para a grande noite dos presentes, com a diferença de que cada dia era vivido a seu tempo. Uma sexta-feira parecia ter 50 horas, pois se aproveitavam todos os momentos e oportunidades daquele dia sem se pensar nos entraves incertos do dia seguinte, se vivia com menos cobrança e por consequência com menos ansiedade. A cantora Simone, em sua famosa música natalina, nos faz uma verdadeira intimação: “Então é Natal e o que você fez?”, nos sugerindo uma cobrança direta para que apresentemos um saldo das coisas que realizamos durante todo o ano que passou e que está chegando ao fim. E é justamente esse sentimento de cobrança que faz com que o mundo passe a correr loucamente até o dia 25 de dezembro – é a busca do tempo perdido.

Quem visita a Serra Gaúcha no inverno acredita que o Papai Noel more em Gramado, pois mesmo em junho lá já estarão as decorações que remetem ao Natal, um sinal de aconchego e boas lembranças para nossa memória, mas com um custo de seis meses de ansiedade apontando para o fim do ano. A mente que vive em antecipação não consegue pisar firme no presente, quem vive com a cabeça no amanhã se torna um refém do hoje, e, acreditar que a felicidade está no futuro é negar o valor de suas conquistas aqui e agora. A ansiedade traz a insegurança que se transforma em medo de viver, medo de ralar o joelho, de tomar um banho de chuva ou de gritar de alegria no meio da rua, afinal, para que se machucar ou agir como um maluco sem necessidade? Ainda bem que Thomas Edison, Mandela e Neil Armstrong não pensavam dessa forma, do contrário muitas das conquistas do mundo sequer teriam acontecido. Em meio a esta taquicardia temos o alento que o fim de ano traz consigo, a possibilidade de zerar o cronômetro, então, se não foi neste, tudo bem, que tudo se realize no ano que irá nascer.

Então, é Natal e o que você fez? Se pararmos nossa mente alguns segundos certamente iniciaremos um relatório das coisas que deixamos de fazer, mas não é essa a pergunta que a vida nos sugere, e, sim o contrário dela, o que realizamos enquanto tivemos o tempo presente em nossas mãos? É impossível realizar algo no futuro se não houver uma arquitetura do presente, mas para isso é necessário ter resignação e humildade para encarar quando as coisas não dão certo e recomeçar. Não existe um método mais eficaz para arrumar as gavetas das meias do que primeiro tirar tudo de dentro para ir selecionando e dobrando somente aquilo que será usado. O espírito do

Natal nos sugere o amor e a fraternidade o que nada combina com brigas em estacionamento de supermercado, por isso, o Natal é a perfeita oportunidade de recomeçar no presente e fazer de todos os dias um novo futuro. Somos seres muito importantes para esse mundo, não foi à toa que ganhamos o dom da vida e sem dúvida fizemos, fazemos e faremos na nossa existência obras muito valiosas para todos os nossos Natais.

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