Crioulos no hipismo são o primeiro impulso para grandes saltos

Rústicos, dóceis e inteligentes: quem tem contato com o Cavalo Crioulo sabe que estas são características que descrevem bem os animais da raça. Por ter essas qualidades, que são buscadas e valorizadas em qualquer cavalo que se queira domar e utilizar, seja em contextos de trabalho, esporte ou lazer, o Crioulo vem se popularizando e se adaptando aos mais diversos usos e espaços, até os mais improváveis. Um desses ambientes em que o Cavalo Crioulo mostra o seu valor é no centro hípico, saltando obstáculos sob a condução de aprendizes do hipismo. Contrariando expectativas, por não ter a estrutura ideal para grandes saltos, ele comprova a sua versatilidade e se mostra um competente “professor” para os iniciantes da prática hípica.

Na foto que ilustra esta matéria, o cavaleiro Pedro Kraisch Batista, catarinense de 10 anos de idade, monta Urânio da Coxilha Alta, carinhosamente apelidado de Mustang. A marca na coxa do cavalo não deixa dúvidas: é um Crioulo que está saltando, competindo no Ranking da Federação Catarinense de Hipismo. Pedro e Mustang, que formaram um conjunto ainda neste ano, disputam na categoria 0,60m, uma altura que o Crioulo ainda consegue saltar com facilidade. Já nos treinos, realizados com a orientação do professor Sandro Cardoso na escola Movimento Equestre, da cidade de São José/SC, o conjunto já chegou, ao menos por enquanto, aos obstáculos de 0,90m. De acordo com Sandro, que atua no ensino de base de esportes equestres há mais de 30 anos, este nível se aproxima do limite que os animais da raça Crioula conseguem alcançar. “O Crioulo salta bem a base. Normalmente é um cavalo que vai bem até a série de um metro de altura; daí pra mais, já fica um pouquinho difícil pra ele. Quase não se vê crioulos em provas de 1,20m, 1,30m, 1,40m…”, conta.

O Executivo Técnico da ABCCC, Rodrigo Albuquerque Py, explica que o fator que limita o desempenho dos Crioulos na modalidade é simplesmente uma questão de tamanho: “É um cavalo de alta capacidade de adaptação e de inteligência pro hipismo, mas por ser um cavalo de porte mediano, não consegue disputar provas que envolvam obstáculos mais altos”. Pelo standard da raça, a altura da cernelha de garanhões deve variar entre 1,40m e 1,50m (o mínimo para castrados é de 1,38m), enquanto a alçada das fêmeas deve medir entre 1,38m e 1,48m. A título de comparação, a altura ideal da cernelha em machos da raça Brasileiro de Hipismo, a qual foi desenvolvida com o propósito de uso em esportes hípicos, é de 1,68m, ao passo em que para fêmeas, a alçada ideal mede 1,65m: são aproximadamente 20 centímetros de diferença em relação ao Crioulo. 

Mesmo sem apresentar as características morfológicas ideais para o esporte, Sandro conta que diversas escolas de equitação, assim como aquela em que ele atua, utilizam o Cavalo Crioulo no ensino da modalidade, o que acontece principalmente em função do seu comportamento e da sua rusticidade. “Eu vejo o Crioulo como um cavalo fácil de aprendizado. Lembra bastante o Puro-sangue inglês, que aprende muito rápido. Mas se você pega um Puro-sangue para pôr na escola, por exemplo, ele tem que ser um exemplar muito especial, porque além de mais bravo e de sangue quente, é um cavalo que quebra fácil também”, compara. Além de resistente, o Crioulo ainda tem a vantagem de ser corajoso e responsivo aos comandos de quem o está montando, o que faz toda a diferença na hora de aprender. Sandro exemplifica: “Se você vai fazer um passeio com uma tropa de cavalos e no caminho tem um riacho, algum obstáculo, coloca o Crioulo na frente porque ele vai passar. Isso é muito bacana. Se diante de uma dificuldade o líder do cavalo, ou seja, nós, estiver dizendo ‘vamos’, ele vai”.

As qualidades que tornam o Crioulo um bom companheiro no aprendizado do hipismo foram notadas por Pedro enquanto brincava com o cavalo Mustang no sítio onde mora com a família. A mãe de Pedro, Jaqueline Kraisch Batista, conta que o conjunto que hoje participa de competições se formou a partir de brincadeiras no quintal de casa, em que Pedro colocava varas no chão para que Mustang atravessasse – é o nível inicial do treinamento de saltos, da mesma forma que Pedro aprendeu na escola. Foi em um desses dias de brincadeira, quando Mustang saltou sobre uma vala, que Pedro teve a ideia de treinar pra valer com o seu cavalo, na escola e com o acompanhamento do professor. A partir daí, a admiração pela raça, que já existia por influência da família, só aumentou: “É a raça mais dócil que eu conheço, e é a que eu mais gosto porque ela serve pra tudo. É raça de trabalho. Coloca o cavalo pra laçar, ele vai muito bem. Coloca numa charrete, ele puxa… E se treinar ele certinho, ele salta até acima de um metro, dependendo do Crioulo”, conta esse pequeno cavaleiro, que também gosta de brincar de laçador. 

É provável que, eventualmente, Pedro precise trocar de companhia para poder evoluir no hipismo, quando os saltos de Mustang, pelos motivos que explicamos aqui, não chegarem mais à altura da habilidade do cavaleiro. Mas o menino acredita que ainda vai levar um tempo até esse momento chegar. Ele confia no potencial do seu Crioulo: “O Mustang? Acho que ele vai até 1,20m! Ele é muito bom”.

Fonte: ABCCC

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