A Necessidade é a Mãe da Invenção
Por: Fábio Verardi
O interregno entre o Natal e o Ano Novo sempre me traz uma ideia de zona neutra, de alívio de cobranças, menos tensão no ar que me permite uma bermuda jeans e um praiano chinelo de dedos, é hora de arrumar a casa no sentido bem literal. Assim, depois de elevar oito centímetros minha pia, instalar uma luminária tipo cisne e colocar pezinhos no frigobar, me preparo para construir um degrau na porta de entrada, daí surge o natural questionamento, por que não mando alguém fazer? Afinal, temos profissionais para toda a obra e o serviço apareceria pronto enquanto eu estivesse queimando boas calorias no parque e de quebra renovando o bronzeado, mas, não adianta eu gosto de executar tarefas. No começo dos anos de 1990, viajávamos em família no Chevettinho amarelo, quando meu pai sussurrou por cima do ombro esquerdo “estamos sem freio”, captei a informação que deixaria minha mãe e irmã em pânico, e, o Seu Amadeu aos poucos foi reduzindo marchas que fizeram o carro parar em segurança. E agora, quem poderá nos ajudar numa estrada deserta, sem a invenção do celular e tão pouco um guincho por perto? Com meus doze anos de sapiência queria chamar alguém, quando meu pai sugeriu que investigássemos o problema, e, agachados roda por roda encontramos uma mangueirinha rompida que fazia vazar o líquido de freio. E agora? Com um rápido nó o vazamento foi estancado até que colhêssemos um galho de arbusto e com uma faca o sábio senhor que tinha estudado somente até a quarta série confeccionou em poucos minutos um tampão que foi usado para isolar o fluxo do líquido naquela mangueira, o problema estava resolvido. Porém, o incrédulo guri precisou ainda ganhar a explicação de que três rodas estavam em perfeito funcionamento e apenas uma ficaria sem o freio, assim poderíamos seguir viagem. A necessidade é a mãe da invenção.
É interessante analisarmos como alguns eventos determinam a forma que encaramos nossa vida, talvez hoje, na mesma situação, outro menino aprenderia que o correto a fazer é esperar pela seguradora ir até o local para rebocar o carro enquanto lhe fosse designado em algumas horas um carro reserva, ou seja, que o problema não depende dele para ser resolvido. Certamente a história desse outro guri seria bem diferente em vários aspectos e obstáculos que a vida viesse a lhe proporcionar, mas sem julgamentos, afinal o mundo mudou. Porém, não esqueçamos que este mesmo mundo ainda precisa de pessoas que tenham atitude e aprendam a resolver as coisas que precisam ser resolvidas. “A necessidade é a mãe da invenção, precisamos de um problema para criar uma nova resposta.” A frase é do imortal Inácio de Loyola no prefácio do livro “A Coragem da Esperança” de Leandro Karnal e ilustra a importância de assumirmos responsabilidades para não delegarmos nossa vida ao acaso. Foi desse jeito que os grandes inventores mudaram o mundo para sempre, tecnologias e inovações que hoje usufruímos nasceram de desafios que alguns teimosos encararam e dedicaram suas vidas, não se importando com a pressão, as críticas e os julgamentos alheios. O professor Hélio Couto nos ensina que “sabedoria é distinguir aquilo que pode ser modificado, daquilo que não podemos mudar”, que isso nos trará a mudança no agir, e, que toda a mudança tem uma semente de crescimento pessoal dentro dela. Portanto, é indispensável que haja ação. Um cérebro cheio de ideias que não faz eclodir planos em realizações se torna uma ferramenta obsoleta, um carro sem gasolina, um jardim sem flor. É frustrante desistir antes mesmo de tentar, pois a teimosia em querer mudar e descobrir uma nova realidade nunca será tempo perdido. Daquele dia em diante, cada vez que o Chevette amarelo estragava eu não tinha mais nenhuma dúvida de que nós iríamos dar um jeito.