Vaquejada: vitórias que dimensionam o potencial do Cavalo Crioulo
Com o campo livre, sem cercas no sertão nordestino, os vaqueiros precisavam cobrir grandes distâncias para reunir os animais que haviam sido marcados e soltos na mata. Assim nasceu, naturalmente, a Vaquejada – que espalhou-se por todo o Norte e Nordeste brasileiro. Um século e meio depois, uma raça de cavalo massivamente presente no sul do Brasil é inserida no esporte. O Cavalo Crioulo, que ainda desbrava o próprio potencial na prova, aposta nos bons resultados atingidos até aqui.
O Projeto Vaquejada, iniciado no ano de 2010 pela ABCCC, por exemplo, foi uma importante iniciativa de fomento que buscou apresentar aos adeptos da raça Crioula o mercado e o potencial econômico do esporte. Uma década depois, os frutos dessa e de outras iniciativas capitaneadas por criadores de diferentes regiões brasileiras ainda estão em evidência – e podem ir além.
É o que se pode constatar após conhecer o relato de três criadores do Nordeste brasileiro. No Piauí, Alberto Alencar e Gilson Manganeli trabalham na criação de animais vencedores para a raça Crioula na Vaquejada. Mesmo cenário vivido por Leôncio Barreto Sobrinho, no Ceará, que acumula conquistas importantes após mais de uma década de atuação.
Há muito espaço para o Cavalo Crioulo
Há 11 anos criando animais da raça Crioula, Leôncio Barreto Sobrinho não tem dúvidas em relação ao potencial e ao mercado que está aberto para o Cavalo Crioulo. “Me interessei em introduzir a raça na Vaquejada por acreditar que as qualidades e a forma de seleção do Crioulo casam com a necessidade de bons cavalos com habilidade para o trabalho com o boi”, disse o criador do Rancho Ypsolon-ou, em Guaiúba/CE, na região metropolitana de Fortaleza.
Logo no início de sua criação, os resultados apareceram. A primeira conquista foi em Jaguaruana/CE, “logo na estreia de Trovador de São Pedro, com o vaqueiro Felipe, numa prova com 690 inscrições, ele ficou em 1º, 2º e 3º lugares”, relembrou. Outro momento marcante aconteceu em 2015, quando novamente Trovador de São Pedro e Suprema Ala Noche se classificaram na 1ª etapa do Circuito Brasileiro de Vaquejada da Associação dos Vaqueiros Amadores do RN (ASSOVARN). Com mais de mil duplas participantes, três vagas foram conquistadas pela raça Crioula naquela ocasião.
Adepto do esporte, Leôncio também acompanhou de perto o Projeto Vaquejada, proposto pela ABCCC. “O projeto foi muito importante no início para a divulgação da raça. Acredito que devemos superar a dificuldade da continuidade do projeto”. Em outras raças, explicou, “o maior mercado em volume e preço é o cavalo destinado à Vaquejada. Ainda tem muito espaço para o Cavalo Crioulo, só falta acreditar”.
A participação em provas continua em localidades como Aracati, Caucaia, Ocara, Horizonte, Morada Nova e Pacajus, no Ceará, e Mossoró e Natal, no Rio Grande do Norte.
Em busca do cavalo perfeito
A habilidade e o temperamento do Cavalo Crioulo nas provas do Freio de Ouro atraíram o criador Alberto Napoleão do Rego Alencar, que finalmente adquiriu os primeiros animais no ano de 2010. “Ao experimentá-los, vi que serviriam à Vaquejada, a princípio na função de esteira (que auxilia o puxador). Mas aos poucos, com o processo de seleção, fui garimpando no Rio Grande do Sul animais mais altos e com explosão, a fim de testá-los na puxada. Todo ano eu ia duas ou três vezes no RS, de cabanha em cabanha olhando e selecionando fêmeas para colocar com um garanhão que já havia comprado”, contou.
O trabalho de prospecção deu certo ao encontrar El Trapiche Festival. “Com minhas buscas frequentes, somadas à assessoria de pessoas no RS que me ajudaram, inclusive até hoje, encontramos um potrinho que se enquadraria nos meus pré-requisitos”, revelou. Podendo criá-lo desde o início, Alberto conseguiu trabalhar com a suplementação e os exercícios que julgava apropriados para um crescimento voltado à Vaquejada.
Atualmente, El Trapiche Festival é uma realidade no haras de Alberto. “Hoje é o animal da minha sela! Multicampeão de Vaquejada, ganhando em todas as categorias que disputou, sendo elas Iniciante, Amador, Profissional e até no Feminino”, celebrou. Com os bons momentos vividos com a raça Crioula, Alberto é, hoje, um incentivador da raça – organizando um núcleo de criadores em Piauí e auxiliando na diversificação de modalidades praticadas pelo Cavalo Crioulo.
O sonho que abraça Freio de Ouro e Vaquejada
Desde 2013 ao lado da raça Crioula, Gilson Flores Manganeli impressionou-se inicialmente com “a docilidade e habilidade” do Cavalo Crioulo. Com criação em Bom Jesus, no Piauí, além de Santo Antônio das Missões/RS, buscou participar de diversas modalidades. Porém, devido à localização e ao apelo do esporte no Nordeste, apostou na Vaquejada.
O resultado foi imediato. Cumprindo a função de bate-esteira, na qual auxilia o “puxador” a derrubar o boi na faixa, o Cavalo Crioulo mais uma vez impressionou Gilson. “Eles dão um show, são simplesmente fantásticos. Tive dois aqui, um melhor que o outro. Ambos filhos de BT Hospedeiro”, relatou.
Atualmente, o grande Cavalo Crioulo de Gilson na Vaquejada é HD Temporal, filho de HD Paysano e Platina do Tronco da Figueira. “Hoje é considerado por muitos o melhor cavalo do sul do Piauí. Sempre que vai [aos eventos] traz alguma coisa, e sempre entre os primeiros. Ele é muito bom”, elogiou.
A meta, porém, vai ainda mais além: preparar um exemplar da raça Crioula ao Freio de Ouro e à Vaquejada. “É por enquanto um sonho, mas, ao mesmo tempo, um projeto”. O plano talvez seja colocado em prática com o principal garanhão da criação de Gilson: Veneno de Santa Angélica, filho de Santa Elba Señuelo e Madressilva de Santa Angélica.
Fonte: ABCCC