Safra da uva menor e com mais qualidade
Os efeitos climáticos marcam a safra da uva deste ano, tanto em volume quanto em qualidade. Mesmo ainda no período da vindima que compreende todo o processo de colheita das uvas , as estimativas apontam para um decréscimo de até 20% no montante produzido com relação à média histórica de produção. Se, por um lado, há a possibilidade de perda de volume, por outro, impressiona o alto ganho na qualidade das variedades a serem colhidas no Estado.
Em 2019, a colheita sofreu perdas expressivas em função do granizo, que afetou diretamente entre 15% e 20% da produção total. Neste ano, as fortes chuvas em outubro e a estiagem, na segunda metade de dezembro e no início de janeiro, foram fator de impacto na possível queda na safra. Para Mauro Zanus, engenheiro-agrônomo da Embrapa, se, por um lado, as interferências climáticas foram prejudiciais em termos de volume, o clima seco e quente, sem excesso de chuvas no período final da colheita, favoreceu o processo de maturação das uvas, principalmente das viníferas utilizadas para vinhos finos. “Às vezes, quando chove muito, os produtores acabam colhendo antes da hora para as uvas não apodrecerem. Isso não aconteceu neste ano, e os produtores puderam manter por mais tempo as uvas nos vinhedos”, conta.
Com o processo de maturação bem formado, as uvas têm se apresentado sadias, sem podridões e altamente concentradas em açúcar natural e cor, superando a qualidade da colheita no ano passado. Conforme a gerente regional da Emater-RS de Caxias do Sul, Sandra Dalmina, a safra deste ano vai ficar marcada na história pela qualidade dos vinhos que serão produzidos, com base na matéria-prima que os produtores têm entregue na indústria: “Se, por um lado, viemos diminuindo a produção em termos de volume, a qualidade é excelente. Temos algumas variedades de uva chegando ao 23º babo (quantidade de existente em 100 g de caldo de uva), que é uma coisa que dificilmente conseguimos nas nossas safras”.
“Os associados da cooperativa estão deixando a uva completar seu processo de amadurecimento e colhendo conforme vai atingindo o estágio necessário. Não é preciso antecipar a colheita, o que acontece em anos mais úmidos”, aponta Oscar Ló, presidente da Cooperativa Vinícola Garibaldi. A possibilidade de um maior planejamento também facilita o processamento das vinícolas, uma vez que pode-se deixar a uva no vinhedo até atingir a maturação que o enólogo deseja para elaborar o vinho. Para Marcos Flâmia, diretor industrial da Salton, ainda é cedo para afirmar qual será a redução no volume de uvas na safra deste ano, embora a qualidade do que já chegou à vinícola vinha superando as expectativas. “O baixo índice de chuvas durante o período de maturação das uvas, o equilíbrio ideal entre acidez e concentração de açúcar está sendo alcançado na maior parte das variedades recebidas até o momento.”
Embora a estimativa seja de queda na produção, o diretor superintendente da Aurora, Hermínio Ficagna, espera uma safra semelhante à do ano passado. A vinícola aguarda um montante de 61 milhões de quilos, já tendo recebido 61% do previsto. Com associados dispersos em 11 municípios do Rio Grande do Sul, a Aurora busca encerrar o período de safra na próxima semana, concluindo a previsão da casa pré-colheita.
Além das uvas finas – como chardonnay e pinot noir -, as uvas de mesa também apresentam alta qualidade e grande concentração de açúcar e sabor. Utilizadas para sucos e vinhos de mesa, essas variedades representam a maior parte da produção total no Estado, caso da uva Isabel, de extrema importância para os produtores de suco do Rio Grande do Sul e que também apresenta excelentes propriedades. Como o preço total é calculado na progressão entre o preço mínimo da uva multiplicado pelo grau glucométrico, a safra deste ano tende a ser bastante rentável para os produtores do Estado, visto que a concentração de açúcar é um dos pontos que fomentam a qualidade da vindima deste ano. Mesmo com uma rentabilidade maior para os produtores, Ficagna aposta na manutenção dos preços. “Vejo que, hoje, o mercado não comporta mais falar em aumento de preço. Acredito que não há espaço para subir os preços, uma vez que o mercado está sinalizando o limite que o consumidor pode pagar.” Embora grande parte da produção já tenha sido entregue à indústria, o período da vindima vai até o meio de março, quando as regiões de maior frio terminam sua colheita, como é o caso dos vinhais na região de Vacaria.
Fonte: Jornal do Comércio