Produtores de Santa Catarina congelam plantas para evitar prejuízos da geada
Sistema funciona com aspersores que promovem “chuva” no pomar na iminência da geada
A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) estimou perda de cerca de 50% da produção da safra de frutas de caroço (ameixa, pêssego e nectarina) da região do Alto Vale do Rio do Peixe por conta das geadas que atingiram a região nos dias 21, 22 e 23 de agosto. Contudo, os prejuízos não alcançaram os agricultores que congelaram seus pomares.
A técnica de congelamento é chamada de controle de geada por aspersão. O sistema funciona com aspersores que promovem uma “chuva” no pomar na iminência da geada. Quando a temperatura ambiente chega a 1 °C, com tendência de queda, o fruticultor liga o sistema que cria uma boa lâmina de água sobre as plantas para que elas congelem quando a temperatura chegar a 0 °C, e permaneça assim até que a temperatura do ar retorne a patamares positivos.
O gerente da Estação Experimental da Epagri em Videira, André Kulkamp de Souza, afirma que o investimento é alto, mas importante para os pomares da região, em que a geada acontece com mais frequência. “O investimento é alto por conta da água que é aspergida sobre a planta em temperatura superior ao ambiente, assim, à medida que vai congelando, ela fornece calor para a planta, numa reação exotérmica. Para isso, é necessário fornecer água continuamente”, disse.
De acordo com Souza, um hectare consome até 30 mil litros de água a cada hora de aspersão. “Tem produtores que gostariam de fazer, mas não possuem água na propriedade”, diz Alceu Assis José Vicente, extensionista da Gerência Regional da Epagri em Videira.
A solução para aqueles que não podem pagar, é manter açudes na propriedade, que é o caso dos irmãos Marcelo e Giovane Suzin, produtores de frutas de caroço em Videira. “Nessa última geada o sistema foi acionado durante três noites: a primeira funcionou sete horas, na segunda foram 15 horas e na terceira foram 6 horas de funcionamento”, relata Suzin. Os irmãos têm 16 hectares cultivados com frutas de caroço, sete dos quais contam com sistemas de controle e geada por aspersão.
Outro fator que contribui no alto preço do investimento é a instalação do sistema. Marcelo explica que na propriedade que mantém com o irmão, tem três sistemas implantados e cada um com demandas diferentes de investimentos. “Têm sistemas que necessitam de maior quantidade de tubulações e bombas maiores, aumentando o custo de implantação”, explica.
Na maioria das propriedades da região, os pomares ficam em partes mais elevadas, enquanto os açudes ficam nas partes baixas e, por isso, o valor da bomba necessária pode variar. Quanto maior a distância e elevação, maior a necessidade de uma bomba mais potente e de quantidade de tubulação. Apesar disso, de modo geral, o investimento varia de R$ 20 mil a R$ 25 mil por hectare.
Apesar de ser um investimento caro, os resultados são positivos. Marcelo Suzin afirma que nas áreas com aspersão, não teve grande perdas, enquanto nos pomares onde ainda não implantou o controle, as perdas foram significativas.
O Alto Vale do Rio do Peixe é a principal região produtora de frutas de caroço em Santa Catarina. De acordo com dados do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri, 59% da produção catarinense de ameixa está concentrada na região, que responde também por 79% do pêssego e nectarina produzidos no Estado. Na safra 2018/19, havia em Santa Catarina 1.115 produtores de frutas de caroços, com área colhida de 2.372 hectares e produção de 34.164 toneladas, o que gera um valor bruto de produção (VBP) de R$ 54.121 milhões.
Fonte: Canal Rural